São Paulo, Quinta-feira, 29 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INDÚSTRIA
Greve pára a Fiat e a Volks, fecha fábricas da Sadia e ameaça entrega de oxigênio a hospitais no Rio
Fiesp cobra atitude enérgica de FHC

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) cobra uma atitude enérgica do presidente Fernando Henrique Cardoso para pôr fim à greve dos caminhoneiros.
"Não estamos tratando de uma greve qualquer, estamos tratando de abastecimento, que é uma questão que exige uma ação firme do próprio presidente da República", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp.
Depois de afirmar que o setor produtivo do país está em alvoroço, Piva citou uma célebre frase de Goethe -o poeta, escritor e dramaturgo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)- para exigir a intervenção de FHC na "bagunça nas estradas": "É
melhor um fim com horror do que um horror sem fim".
Condenando o radicalismo dos caminhoneiros, Piva disse que o Brasil não tem a menor condição de se dar ao luxo de parar.
"Qualquer decisão que seja tomada precisa ser tomada imediatamente, já. A maioria das empresas vai efetivamente parar."

Paralisações
A greve dos caminhoneiros levou a Fiat Automóveis, com sede em Betim (MG), a decidir pela paralisação da produção hoje, pelo menos no primeiro turno, que vai das 6h às 15h30.
A montadora italiana não está recebendo peças para a montagem dos veículos nas três linhas de produção: Pálio, Marea e Uno. Se a greve não acabar, a paralisação da produção poderá se estender pelo turno seguinte e até para os próximos dias.
Segundo a assessoria de imprensa da Fiat Automóveis, a montadora não tem recebido carregamento de peças para a sua linha de montagem, que trabalha no sistema "just in time". Isto é, a Fiat trabalha com pequeno estoque de peças, já que 75% dos seus fornecedores estão instalados nas suas imediações.
Com relação às peças que chegam de fornecedores de regiões mais distantes e de outros Estados, os problemas são ainda maiores, já que os caminhões têm que passar por vários pontos de protestos.
Os 4.000 operários do turno da manhã foram comunicados ontem da paralisação da produção. Os operários do turno da tarde podem ser dispensados hoje se a greve não terminar.
A Fiat produz por dia 1.800 carros, sendo metade no turno da manhã. Os prejuízos financeiros com a paralisação não foram divulgados.
A unidade da Nestlé em Ituiutaba, no sul de Minas Gerais, também enfrenta problemas de abastecimento por causa da greve dos caminhoneiros.
Um bloqueio que é feito pelos caminhoneiros a quatro quilômetros da fábrica da Nestlé impede que os caminhões que transportam leite in natura cheguem à unidade para descarregar o produto.
Entre as 9h05 e 15h24 de anteontem, a Volks, em Taubaté, parou totalmente a produção de Gol e Parati. A partir desse horário até ontem, a empresa operou com 48,45% da capacidade devido à falta de peças, o que diminuiu a fabricação de 970 para 500 carros ao dia.
A Sadia, uma das maiores produtoras de alimentos industrializados do país, estava ontem com 7 das suas 11 fábricas paralisadas por causa da greve dos caminhoneiros.
A avaliação do diretor de Finanças e Relações com o Mercado da empresa, Luiz Murat Júnior, é que " a greve dos caminhoneiros provocou uma situação de caos para o setor de produtos agroindustriais, gerando um efeito em cadeia".
Ele estima que hoje mais três indústrias devem parar a produção por falta de matéria-prima e que na sexta-feira a produção estará totalmente paralisada.
Na fábrica da Nestlé em Barra Mansa RJ), onde são produzidas diariamente 120 toneladas de requeijão e iogurte, distribuídas para os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, a produção está prejudicada porque não houve entrega de produtos essenciais, segundo a empresa.
A White Martins, responsável pelo abastecimento de oxigênio e outros gases medicinais a hospitais do Rio, divulgou nota informando que "o bloqueio das estradas pelos caminhoneiros está afetando o abastecimento aos hospitais". A empresa apelou para a solidariedade dos caminhoneiros.


Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal do Rio


Texto Anterior: Preparação da greve começou há 6 meses
Próximo Texto: Bradesco teme falta de talão
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.