São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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Dólar alto fez BC deixar juros em 18%

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se o dólar e os juros continuarem nos níveis atuais, a inflação deste ano deve ultrapassar os 6%, segundo o Banco Central. Para o BC, "o aumento da incerteza em relação ao futuro do país" é uma das causas da alta dos preços.
A informação consta da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), realizada na semana passada. Na ocasião, os juros básicos da economia foram mantidos em 18% ao ano. Também foi adotado um viés de baixa, mecanismo que permite ao presidente do BC, Armínio Fraga, reduzir os juros antes da próxima reunião do Copom, marcada para setembro.
Na reunião do Copom realizada no mês passado, já se projetava uma inflação acima de 5,5%, que é o teto da meta fixada pelo governo. De lá para cá, porém, o dólar acumulou alta de 9,4% e levou o BC a modificar suas estimativas.
O BC não informou qual sua projeção para a inflação deste ano. A expectativa do mercado é que ela fique em torno de 6,5%. Em 2001, a alta do IPCA ficou em 7,67%. No novo acordo com o FMI, a inflação medida pelo IPCA neste ano poderá chegar a 9%.
Mesmo assim, o BC também viu sinais positivos na economia, o que justificou o viés de baixa. Segundo a ata do Copom, "a conclusão do acordo com o FMI e a recepção positiva a seus princípios gerais pelos candidatos a presidente" seriam fatores importantes para tranquilizar o mercado.
Além disso, o BC afirma que "espera uma melhora nas condições de liquidez nas linhas de crédito internacional para o Brasil". A dificuldade que empresas brasileiras têm enfrentado para rolar suas dívidas no exterior é uma das causas da alta do dólar.
Em resumo, o BC sinalizou que a recente alta do dólar justificaria a manutenção dos juros. Porém, ao adotar o viés de baixa, a instituição mostra que, assim que a cotação da moeda dos EUA começar a cair, poderá ocorrer um corte na taxa Selic. Além disso, a ata também sinaliza que, em situações como a atual, a manutenção dos juros é decidida não só pela preocupação com a inflação em si, mas também pelo dólar.
Juros altos estimulam os investidores a direcionar seus recursos para aplicações de renda fixa, que se tornam mais rentáveis. Uma redução dos juros poderia estimular o mercado a migrar para outras aplicações, como, por exemplo, o dólar. Isso levaria a uma valorização da moeda americana.
A alta do dólar, por outro lado, torna mais caros matérias-primas e produtos importados, o que pressiona os índices de inflação.


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