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ENERGIA
Fábio Ramos não tem vínculo com o governo, mas participa de reuniões
Consultor do MME participa de usina
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O consultor do Ministério de
Minas e Energia Fábio Ramos tem
participação em três usinas termelétricas do programa emergencial -conhecido como seguro anti-racionamento-, contratadas sem licitação pelo governo a
um alto custo.
Além das usinas do seguro, Ramos tem participação na comercializadora de energia Tradener,
na concessão da usina hidrelétrica
de Murta (MG) e é proprietário de
uma comercializadora de energia.
Suas participações no mercado de
energia se dão por meio de sua
consultoria, a RHE.
Levado para o ministério no início de maio pelo ministro Francisco Gomide, Ramos não tem
vínculo com o governo -não é
contratado nem recebe salário.
Mas ocupa uma sala no prédio,
participa de reuniões e foi nomeado coordenador de dois grupos
de trabalho do Comitê de Revitalização do Setor Elétrico, como representante do ministério.
O caso do consultor pode caracterizar conflito de interesse, ou seja, uma pessoa que atua pelo governo e tem empresas no setor em
que trabalha. A assessoria de imprensa do ministério, no entanto,
informa que ele trabalha como
consultor.
Seguro
O seguro anti-racionamento é o
pagamento de um aluguel mensal
para 58 usinas termelétricas com
capacidade de gerar até 2.154 MW
em caso de risco de falta de energia elétrica.
Os consumidores pagam R$
0,0057 por kWh gasto para custear o programa que, de acordo
com o governo, deve gastar cerca
de R$ 4 bilhões até o final de 2005
só com o aluguel. Se as usinas tiverem que gerar energia, o gasto
sobe para R$ 12 bilhões.
Ramos tem participação nas
usinas PIE-RP (20 MW), Cocal
(18,3 MW) e Breitner (153,75
MW). As usinas PIE-RP e Cocal
ficam em São Paulo e a Breitner,
no Ceará.
Segundo a Folha apurou, só o
aluguel da PIE-RP custará R$ 61
milhões, o da Cocal custará R$ 71
milhões e o da Breitner, R$ 488
milhões. No total, as três usinas
com participação de Ramos receberão R$ 620 milhões até o final
de 2005.
A usina Cocal e parte da usina
PIE-RP já deveriam estar funcionando desde 1º de julho, mas estão atrasadas, de acordo com o último relatório da CBEE (Comercializadora Brasileira de Energia
Emergencial). As usinas com
atraso, em tese, poderiam ter o
contrato rescindido pelo governo
ou ser multadas.
Conflito de interesses
A participação de Ramos nas
usinas se dá da seguinte forma: ele
tem 53% da RHE Comercialização e Empreendimentos, que, por
sua vez, tem 12,5% da Arcades Logos Energia, que é controlada pela
Logos Energia.
A Logos Energia, juntamente
com outros sócios, comprou três
usinas do seguro anti-racionamento e tem participação na concessão da hidrelétrica de Murta.
O advogado João Geraldo Piquet Carneiro, que aceitou comentar, em tese, uma situação semelhante à de Ramos, disse que,
se uma pessoa exerce de fato função de servidor público, está sujeita a regras que valem para os demais funcionários, independentemente do fato de ser contratado
como consultor.
Piquet Carneiro, que é presidente da Comissão de Ética Pública, fez questão de ressaltar que
não conhece o caso e que suas
opiniões não são sobre a relação
específica de Ramos com o ministério.
Segundo ele, o caso de um consultor de ministério com participação em empresas que lidam
com o governo ou que possa também prestar consultoria para essas empresas poderia caracterizar
um caso de conflito de interesses.
Assim, o consultor teria de optar
entre sua atuação no mercado ou
no governo.
Ainda de acordo com ele, não
caracterizaria conflito de interesse se o serviço prestado fosse muito específico.
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