São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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JUSTIÇA

Família Nasser diz que consultoria, contratada pelo BBVA, deturpou relatório sobre o Excel, vendido para o banco espanhol

Ex-donos do Excel processam a Andersen

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

LEONARDO SOUZA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A família do ex-banqueiro Ezequiel Nasser ingressou com ação na Justiça Federal dos EUA contra a empresa de auditoria Arthur Andersen. Requer indenização de US$ 346 milhões. A consultoria é acusada de haver emitido relatórios supostamente fraudulentos que teriam depreciado o valor do Excel Econômico, então controlado pela família Nasser, durante o processo de venda para o espanhol BBVA.
A ação por danos foi aberta na segunda-feira na Corte Federal de Nova York contra a Andersen Worldwide Societé Cooperative (a controladora mundial da Arthur Andersen). O documento, de 30 páginas, cita apenas a Andersen como ré. Procurados pela Folha, tanto o presidente mundial da Andersen Wordlwide, Aldo Cardoso, como o assessor de imprensa da companhia, Patrick Dorton, não comentaram o processo.
Os advogados da família Nasser basearam sua ação na lei conhecida pela sigla RICO (Racketeering, Influence and Corrupt Organizations Act), aprovada pelo Congresso norte-americano nos anos 80 para combater o crime organizado e o tráfico de informações privilegiadas na Bolsa.
A Andersen fora a consultoria contratada pelos espanhóis do BBVA para conduzir o processo de avaliação (""due diligence") do Excel e determinar um preço de compra. De acordo com texto da ação, durante esse processo, a consultoria que atendia o Excel, a Deloitte Touche Tohmatsu, ""teria apontado inquietações sobre o tratamento irregular que a Andersen dava a ativos do banco".
No documento, consta que, em dezembro de 1997, a Deloitte teria feito uma auditoria na qual estipulava os ativos do Excel em R$ 535,9 milhões (em valores da época). De sua parte, segundo a ação, a Andersen informou em seu relatório, emitido seis meses mais tarde, que o Excel estava insolvente em mais de R$ 500 milhões.
No documento, aparecem como controladores do banco (autores da ação) Ezequiel Nasser, seu pai, Rahmo Nasser, e uma irmã, Camélia Nasser, que detinham 55,4% do capital votante do Excel Econômico. O processo cita as acusações sobre a participação da Arthur Andersen em escândalos contábeis em grandes corporações dos EUA, como a Enron.
No processo são citados a diretora de fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi, e o ex-diretor do banco Cláudio Mauch, que ocupou o mesmo cargo. De acordo com Deborah Srour, sócia do escritório que representa a família Nasser, os dois são mencionados ""como representantes do BC que ameaçaram liquidar o banco (Excel) caso não fosse vendido. O BBVA também é citado como participante do ""conluio", segundo termos usados no processo.
Segundo Grossi, o BC apenas cumpriu a lei. De acordo com ela, antes de o Excel Econômico ter sido vendido para os espanhóis do BBVA, o BC havia identificado que o banco estava com o patrimônio líquido negativo.
Com base na lei 9.447/97, diz ela, o BC tinha que tomar providências para impedir que a instituição quebrasse. O BC então determinou que os controladores do Excel Econômico capitalizassem o banco ou transferissem seu controle. "Foi o próprio Ezequiel Nasser que nos apresentou o pessoal do BBVA como interessado em comprar o controle da instituição", disse Grossi à Folha. "O BC nunca iria impor que o banco fosse vendido. Se ele [Nasser" não quisesse transferir o controle, que fizesse a capitalização."
""O BBV não tem nada a ver com essa história. A Andersen foi nossa consultora. Funcionou na avaliação de determinados ativos. Não como ""mandatária" para a realização do negócio", disse Sérgio Tonielo, porta-voz do BBV.
Ezequiel Nasser e demais controladores do Excel respondem a processo na 17ª Vara Federal em Salvador por formação de quadrilha e saques ilegais. A ação foi movida pelo Ministério Público com base em relatório do BC.


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