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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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NOVO ACORDO

Economista diz que mercado confia no país

"Pai" do Consenso de Washington é contra o Brasil renovar com o FMI

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conhecido como o "pai" do Consenso de Washington -conjunto de receitas econômicas liberais-, o economista britânico John Williamson disse ontem acreditar que o Brasil não precisa renovar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que acaba no final deste ano.
Segundo ele, o mercado financeiro já deu sinais de que confia na condução da política econômica, o que daria segurança ao governo para não precisar recorrer novamente ao Fundo. "Estou impressionado como o mercado aceitou o corte de juros. O presidente Lula já provou que é sério e que não vai fazer bobagens. Estou convencido disso", disse ele.
Em um cenário de desconfiança, o corte na taxa básica de juros -neste mês, a queda foi de 2,5 pontos percentuais- levaria naturalmente a uma depreciação da moeda. A taxa de retorno menor para os investimentos poderia levar a uma redução no ingresso de dólares na economia, o que aumentaria a cotação do dólar.
Além disso, Williamson citou também como sinais positivos, que reforçariam a tese da boa aceitação do governo do presidente Lula pelos bancos, a queda do risco-país e dos índices de inflação. "O Brasil já tem condições para não fazer um novo acordo."
Para o economista britânico, que participou ontem do seminário "Consenso de Washington -Crescimento e Reforma na América Latina", promovido pelo Banco Central, o maior desafio do Brasil agora é manter o corte dos juros, mas sem despertar novamente a inflação alta.
Segundo ele, vários economistas, apoiados em modelos econométricos, têm dito que a taxa de juro real (descontada a inflação) de equilíbrio -aquela que não pressiona a inflação nem lança a economia em quadro recessivo- para o Brasil é de 9% ao ano, o que ainda seria muito elevada.
Williamson disse que "ninguém entende" por que os juros reais no Brasil teriam de ser altos, muito maiores do que no resto do mundo, mesmo nas economias emergentes. "Eu não acredito que a taxa [9%, em termos reais] precise ser tão elevada no Brasil", disse. Para ele, há espaço para o BC continuar a cortar os juros nos próximos meses.
Williamson reconheceu que os resultados obtidos pelas economias emergentes que seguiram o receituário do Consenso de Washington na década de 90 foram decepcionantes. Para ele, isso ocorreu devido a dois motivos fundamentais: as reformas estruturais realizadas não teriam sido suficientes e a economia mundial enfrentou muitos choques adversos no período.
Ele defendeu que os países emergentes mantenham as reformas e busquem a estabilidade da economia como um todo, não somente da moeda.


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