São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Depois de criticar governo, economista deixa Febraban

Troster fora repreendido por entidade após condenar medidas contra o "spread"

Em comunicado, federação dos bancos diz que saída foi "consensual'; Troster estava à frente da área econômica da entidade havia cinco anos


DA REDAÇÃO

Menos de duas semanas após criticar medidas estudadas pelo governo para reduzir o "spread" bancário e de ter sido repreendido pela direção da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) pelos comentários, o economista-chefe da entidade, Roberto Luís Troster, deixou ontem o cargo em "decisão de consenso", segundo comunicado da entidade.
Havia cinco anos à frente da área econômica da entidade, Troster disse no último dia 17 que as medidas do governo para baixar o "spread" (diferença entre o custo de captação do dinheiro pelos bancos e as taxas pagas pelos clientes) eram uma "manobra diversionista" e não iriam provocar uma redução significativa dos juros. Criticou ainda a pesquisa do Banco Central sobre crédito e "spread".
O episódio causou mal-estar entre a entidade e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A polêmica só não foi maior porque o presidente da Febraban, Marcio Cypriano, telefonou para Mantega e disse que a entidade não subscrevia as declarações do economista e que ele tinha falado em nome próprio.
Na ocasião, o ministro disse ter considerado o episódio superado, mas que as declarações teriam sido "inoportunas e fora do tom".
No dia seguinte às declarações de Troster, a entidade contemporizou e afirmou que as propostas do governo caminhavam na direção da redução do "spread".
As relações entre Troster e o comando da entidade estavam desgastadas havia algum tempo, segundo a Folha apurou.
Na instituição, ele era criticado pela independência de opinião que mostrava ante a entidade e pelo tom duro com que, às vezes, manifestava sua posição. Desde 2003, após trocar farpas com colunistas em artigos de jornais, seus textos passaram a ser submetidos à direção da Febraban antes da publicação. Mas, na semana passada, a entidade não permitiu que o economista respondesse a artigo de Marcos Cintra publicado na Folha no dia 21, em que os bancos sofriam críticas. O fato, apurou a Folha, teria desgastado ainda mais a relação entre eles.
A discussão entre governo e bancos em relação ao "spread", porém, não se restringe ao incidente e tem sido freqüente nos últimos meses. Em entrevista à Folha, em maio, à véspera de reunião convocada por Mantega com a Febraban para tratar do tema, Troster dissera que "faltava transparência no debate sobre "spreads" no país".
Nessa entrevista, ele comentou estudo da entidade com dados que mostravam o tamanho dos juros em diversas modalidades de crédito, a maioria abaixo dos valores próximos a 150% estimados para o cheque especial e o cartão de crédito. "Muito se fala nos juros elevados nas duas modalidades, mas elas respondem, somadas, por menos de 4% do volume total de crédito", disse Troster.
Procurados ontem, Troster e a Febraban não foram encontrados. Segundo a nota do início da noite, o economista "dará início a novos desafios pessoais e profissionais".


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