|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Depois de criticar governo, economista deixa Febraban
Troster fora repreendido por entidade após condenar medidas contra o "spread"
Em comunicado, federação
dos bancos diz que saída foi
"consensual'; Troster estava
à frente da área econômica da entidade havia cinco anos
DA REDAÇÃO
Menos de duas semanas após
criticar medidas estudadas pelo governo para reduzir o
"spread" bancário e de ter sido
repreendido pela direção da
Febraban (Federação Brasileira de Bancos) pelos comentários, o economista-chefe da entidade, Roberto Luís Troster,
deixou ontem o cargo em "decisão de consenso", segundo comunicado da entidade.
Havia cinco anos à frente da
área econômica da entidade,
Troster disse no último dia 17
que as medidas do governo para baixar o "spread" (diferença
entre o custo de captação do dinheiro pelos bancos e as taxas
pagas pelos clientes) eram uma
"manobra diversionista" e não
iriam provocar uma redução
significativa dos juros. Criticou
ainda a pesquisa do Banco Central sobre crédito e "spread".
O episódio causou mal-estar
entre a entidade e o ministro da
Fazenda, Guido Mantega. A polêmica só não foi maior porque
o presidente da Febraban, Marcio Cypriano, telefonou para
Mantega e disse que a entidade
não subscrevia as declarações
do economista e que ele tinha
falado em nome próprio.
Na ocasião, o ministro disse
ter considerado o episódio superado, mas que as declarações
teriam sido "inoportunas e fora
do tom".
No dia seguinte às declarações de Troster, a entidade contemporizou e afirmou que as
propostas do governo caminhavam na direção da redução
do "spread".
As relações entre Troster e o
comando da entidade estavam
desgastadas havia algum tempo, segundo a Folha apurou.
Na instituição, ele era criticado pela independência de
opinião que mostrava ante a
entidade e pelo tom duro com
que, às vezes, manifestava sua
posição. Desde 2003, após trocar farpas com colunistas em
artigos de jornais, seus textos
passaram a ser submetidos à
direção da Febraban antes da
publicação. Mas, na semana
passada, a entidade não permitiu que o economista respondesse a artigo de Marcos Cintra
publicado na Folha no dia 21,
em que os bancos sofriam críticas. O fato, apurou a Folha, teria desgastado ainda mais a relação entre eles.
A discussão entre governo e
bancos em relação ao "spread",
porém, não se restringe ao incidente e tem sido freqüente nos
últimos meses. Em entrevista à
Folha, em maio, à véspera de
reunião convocada por Mantega com a Febraban para tratar
do tema, Troster dissera que
"faltava transparência no debate sobre "spreads" no país".
Nessa entrevista, ele comentou estudo da entidade com dados que mostravam o tamanho
dos juros em diversas modalidades de crédito, a maioria
abaixo dos valores próximos a
150% estimados para o cheque
especial e o cartão de crédito.
"Muito se fala nos juros elevados nas duas modalidades, mas
elas respondem, somadas, por
menos de 4% do volume total
de crédito", disse Troster.
Procurados ontem, Troster e
a Febraban não foram encontrados. Segundo a nota do início da noite, o economista "dará início a novos desafios pessoais e profissionais".
Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Salvar essa bolhinha Próximo Texto: Previsões: Mercado está mais pessimista com economia Índice
|