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VINICIUS TORRES FREIRE
Indústria manca, China e real forte
Dólar barato atrapalha, mas
exportações asiáticas para o
Brasil têm crescido mais do
que a média de outros países
A INDÚSTRIA está manca, na
avaliação de dois experimentados analistas da economia
brasileira, Antônio Barros de Castro
e José Roberto Mendonça de Barros. Nos dois anos menos anormais
do pós-Real, 2000 e 2004, quando o
país cresceu mais de 4%, quase todos os setores da indústria estavam
no azul, cerca de 80% a 90%. No ano
da indústria manca de 2006, esse índice cai pela metade, segundo estudo de Castro e de Francisco Pires de
Souza. Mendonça de Barros e a economista Lídia Goldenstein apresentaram diagnóstico parecido em palestra no Cebrap, na sexta passada.
Por que a indústria estaria manca?
Isto é, qual o motivo de alguns setores darem um passo grande e os demais se arrastarem? O Grupo de
Conjuntura econômica da UFRJ,
cauteloso sobre o câmbio até julho,
na análise publicada ontem já aponta a canelada do câmbio na desaceleração industrial deste ano.
Mas a canelada maior vem das importações da China, que cresceram
50% no semestre. As que vêm da
União Européia (UE) cresceram
7,5%. As da América do Norte, 12%.
Logo, só o câmbio não explica a invasão chinesa, embora a estratégia planejada e bem-sucedida da indústria
chinesa receba no Brasil o auxílio
adicional do real forte.
As compras do Brasil na China e
na Coréia do Sul ainda são um terço
das importações que vêm da UE e do
Nafta. Mas, em dólares, a alta das
importações asiáticas já é maior que
a das compras nos mercados americano e europeu somados.
Para piorar a situação doméstica,
a quantidade de produtos exportada
cresce mais devagar. Em 2005, a exportação avançava graças ao efeito
combinado e quase igual do aumento de preço e quantidades vendidas.
Agora, os preços seriam responsáveis por 70% do aumento das vendas. Como os ganhos de preços estão
concentrados em alguns setores, como minérios, petroquímicos, álcool
e açúcar, isso ajuda ainda a explicar
parte da concentração industrial.
Outra vítima inédita da perda de
competitividade em 2006, apontam
Castro e Pires de Souza, é a indústria
de máquinas e instalações para indústria. A indústria de bens de capital que se mantém sobre as duas pernas é a que produz para setores como mineração, petróleo e álcool,
responsáveis por mais de um terço
do crescimento industrial este ano.
Outro terço do crescimento deveu-se ao desempenho de máquinas e
aparelhos elétricos e computadores,
muito dependentes de importação
de componentes, ora bem baratos.
Economistas de banco observam
que o ano ainda vai pela metade e
que o segundo trimestre de 2006 foi
atípico devido a Copa, greves no setor público que atrapalharam a indústria e ataques do PCC. Os indicadores que antecipam a atividade das
fábricas em julho já mostrariam a
inversão da tendência ruim.
Pires de Souza reconhece a influência desses fatores e que a ainda
não se pode afirmar que é certa a
tendência de concentração: que
poucos setores industriais sobreviveriam fortes ao aumento da competição. Mas reafirma que os dados
do semestre são preocupantes e
mais fortes que os fatores conjunturais de junho e, que, China e câmbio,
em proporções ainda não bem conhecidas, têm colocado parte da indústria nacional para escanteio.
vinit@uol.com.br
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