São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Tesouro não vê risco de crise fiscal em 2007

Provocado por reajustes do salário mínimo e de servidores, aumento de gastos públicos é alvo de críticas de economistas

Especialistas dizem que é hora de ajuste interno; Kawall menciona ações do Tesouro, como redução da dívida atrelada à Selic


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob uma enxurrada de críticas de economistas devido ao afrouxamento da política fiscal com a expansão de gastos públicos, o secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, afirmou ontem, em seminário no Rio de Janeiro, que "não há nada que sugira que estamos caminhando para uma situação de crise fiscal" em 2007.
Bombardeado por economistas que apontam os reajustes do mínimo e do funcionalismo como causas do crescimento de 15,1% dos gastos da União no primeiro semestre, Kawall disse que não é correto projetar essa mesma trajetória de expansão das despesas no futuro.
"Não é razoável dizer que emerge da discussão da trajetória de receita e despesa do governo uma crise fiscal para 2007. Nem os mercados financeiros estão precificando isso nem é razoável pegarmos tendências de curto prazo [a alta de 15,1%] e extrapolarmos para médio e longo prazos como se nenhuma ação pudesse ser feita", disse Kawall durante o seminário "Grau de Investimento - O Grande Desafio do Próximo Presidente", promovido pela Associação dos Bancos do Estado do Rio de Janeiro.
Antes dele, Carlos Langoni, ex-diretor do Banco Central, defendeu o "congelamento dos gastos correntes" do governo a fim de o país crescer mais e alcançar o grau de investimento -melhor patamar de risco, ao qual o Brasil está dois degraus abaixo (nota BB).
Para ele, o crescimento das despesas reflete o reajuste do salário mínimo e seu impacto na Previdência Social, além do aumento de gastos sociais e com o funcionalismo.
O economista Luís Paulo Rosemberg, da Rosemberg & Associados, também criticou o reajuste de 16,7% do mínimo e o vinculou às eleições: "Vem um gaiato [Lula] querendo se reeleger e aumenta o salário mínimo mudando o patamar da despesa corrente".
Para Rosemberg, só o corte de gastos e a redução da carga tributária -37,37% do PIB em 2005- possibilitarão ao país ampliar o crescimento.
O economista Ilan Goldfajn, da PUC-RJ, disse que, com o atual nível de crescimento de gastos públicos, o superávit primário "vai desaparecer", obrigando o governo a elevar a arrecadação ou cortar despesas.
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no governo FHC, disse que a "brilhante situação" das contas externas -favorecidas pelo crescimento da economia mundial e o conseqüente aumento das exportações brasileiras- "mascara uma situação interna preocupante".
Na visão de Mendonça de Barros, o país tem de aproveitar o momento de "bonança" no cenário internacional para fazer o ajuste interno.
Kawall, por sua vez, ressaltou ações do Tesouro. Afirmou que a parcela da dívida doméstica vinculada à taxa Selic cairá a 40% até o final do ano -o percentual era de 51,8% ao final de 2005. Disse ainda que o Tesouro só fará emissões de dívida externa com papéis de mais de dez anos de vencimento. Até 2008, a expectativa é captar R$ 14,2 bilhões no exterior.
O secretário destacou a redução do endividamento externo -queda de US$ 36,2 bilhões desde 2005, sendo US$ 20 bilhões do resgate antecipado da dívida com o FMI. Com a atual meta de superávit, prevê Kawall, a relação dívida/PIB chegará a 40% daqui a cinco anos.


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