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Tesouro não vê risco de crise fiscal em 2007
Provocado por reajustes do salário mínimo e de servidores, aumento de gastos públicos é alvo de críticas de economistas
Especialistas dizem que
é hora de ajuste interno; Kawall menciona ações
do Tesouro, como redução da dívida atrelada à Selic
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob uma enxurrada de críticas de economistas devido ao
afrouxamento da política fiscal
com a expansão de gastos públicos, o secretário do Tesouro
Nacional, Carlos Kawall, afirmou ontem, em seminário no
Rio de Janeiro, que "não há nada que sugira que estamos caminhando para uma situação
de crise fiscal" em 2007.
Bombardeado por economistas que apontam os reajustes
do mínimo e do funcionalismo
como causas do crescimento de
15,1% dos gastos da União no
primeiro semestre, Kawall disse que não é correto projetar
essa mesma trajetória de expansão das despesas no futuro.
"Não é razoável dizer que
emerge da discussão da trajetória de receita e despesa do governo uma crise fiscal para
2007. Nem os mercados financeiros estão precificando isso
nem é razoável pegarmos tendências de curto prazo [a alta
de 15,1%] e extrapolarmos para
médio e longo prazos como se
nenhuma ação pudesse ser feita", disse Kawall durante o seminário "Grau de Investimento - O Grande Desafio do Próximo Presidente", promovido pela Associação dos Bancos do
Estado do Rio de Janeiro.
Antes dele, Carlos Langoni,
ex-diretor do Banco Central,
defendeu o "congelamento dos
gastos correntes" do governo a
fim de o país crescer mais e alcançar o grau de investimento
-melhor patamar de risco, ao
qual o Brasil está dois degraus
abaixo (nota BB).
Para ele, o crescimento das
despesas reflete o reajuste do
salário mínimo e seu impacto
na Previdência Social, além do
aumento de gastos sociais e
com o funcionalismo.
O economista Luís Paulo Rosemberg, da Rosemberg & Associados, também criticou o
reajuste de 16,7% do mínimo e
o vinculou às eleições: "Vem
um gaiato [Lula] querendo se
reeleger e aumenta o salário
mínimo mudando o patamar
da despesa corrente".
Para Rosemberg, só o corte
de gastos e a redução da carga
tributária -37,37% do PIB em
2005- possibilitarão ao país
ampliar o crescimento.
O economista Ilan Goldfajn,
da PUC-RJ, disse que, com o
atual nível de crescimento de
gastos públicos, o superávit primário "vai desaparecer", obrigando o governo a elevar a arrecadação ou cortar despesas.
O economista Luiz Carlos
Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no
governo FHC, disse que a "brilhante situação" das contas externas -favorecidas pelo crescimento da economia mundial
e o conseqüente aumento das
exportações brasileiras-
"mascara uma situação interna
preocupante".
Na visão de Mendonça de
Barros, o país tem de aproveitar
o momento de "bonança" no
cenário internacional para fazer o ajuste interno.
Kawall, por sua vez, ressaltou
ações do Tesouro. Afirmou que
a parcela da dívida doméstica
vinculada à taxa Selic cairá a
40% até o final do ano -o percentual era de 51,8% ao final de
2005. Disse ainda que o Tesouro só fará emissões de dívida
externa com papéis de mais de
dez anos de vencimento. Até
2008, a expectativa é captar R$
14,2 bilhões no exterior.
O secretário destacou a redução do endividamento externo
-queda de US$ 36,2 bilhões
desde 2005, sendo US$ 20 bilhões do resgate antecipado da
dívida com o FMI. Com a atual
meta de superávit, prevê Kawall, a relação dívida/PIB chegará a 40% daqui a cinco anos.
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