São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Agrofolha

Dólar agora ajuda e custo de produção cai

Fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas poderão custar menos devido à queda da moeda norte-americana

Custo deve cair no Paraná e no Rio Grande do Sul; recuo não é certo no Centro-Oeste, região em que os produtores podem reduzir a plantação


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os agricultores se preparam para a safra de verão. O dólar, que tanto fez o campo perder renda nos últimos dois anos, poderá ser um aliado nesta safra no que se refere a custos de produção.
Fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas podem custar menos, tanto pela queda da moeda norte-americana como pelo baixo poder de compra dos produtores. Descapitalizados, os produtores afirmam que vão diminuir o uso de insumos.
Paraná e Rio Grande do Sul devem ter queda nos custos de produção. Mas esse recuo não é tão certo no Centro-Oeste. Por isso, os produtores da região prometem reduzir a área a ser semeada.
Os custos de plantio da soja dos paranaenses deverão recuar 7,5% neste ano, para R$ 885 por hectare. No Centro-Oeste, no entanto, onde o transporte é um dos principais gargalos do setor, os agricultores esperam redução menor no custo.
No Rio Grande do Sul, os gastos com produção devem ser semelhantes aos do Paraná, segundo Tarcísio Minetto, consultor da Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul). A entidade só terá esses dados estimados a partir do próximo mês.
Os paranaenses, que retomam a liderança nacional na colheita de grãos, devem ter queda também nos custos de produção com milho (8,53%), algodão (2,8%) e feijão (9,6%), conforme dados levantados pelo analista José Pitoli para a Coopermibra (Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil), de Campo de Mourão (PR).
Mas as quedas do dólar e dos custos de alguns itens de produção não animam os produtores, que prevêem mais um ano muito difícil, principalmente para os que plantam soja e milho.
"Nem Deus ajudando vamos fechar as contas", diz Carlos Freitas, produtor de Mato Grosso do Sul e membro do Departamento de Comercialização de Soja da Cooperfibra (Cooperativa dos Cotonicultores de Campo Verde), de Campo Verde (MT). "Se tudo der certo, os produtores vão conseguir pagar a conta do ano."
O plantio de soja vai ser viável do Sul à metade de Mato Grosso do Sul, diz Freitas. Dessa metade até Primavera do Leste, se o produtor fizer bem feita a parte dele, obterá empate entre custos e receitas. Já nas regiões de fronteira de produção, como Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso, "nem dando tudo certo o produtor se salva. Não plantaria soja por lá", diz ele.

Câmbio
Mesmo sendo o responsável pela redução de custos de produção, o dólar continua sendo o principal fator de perda de renda dos produtores. Os preços da soja na Bolsa de Chicago estão em patamares normais, mas na hora da comercialização os produtores recebem bem menos reais devido à desvalorização do dólar.
O câmbio também traz problemas para o milho, cultura que estava avançando no país. A demanda interna cresceu com a liderança nacional nas exportações de frango e o país descobriu o mercado externo para o milho no início desta década.
O avanço da gripe aviária pelo mundo, no entanto, pôs um freio na demanda por carne de frango e, conseqüentemente, reduziu o consumo interno de milho. Já o real forte reduz as exportações do produto.
O cenário para os produtores brasileiros de soja piorou ainda mais com as recentes notícias de que tudo vai bem nos Estados Unidos, país que deverá obter supersafra pelo terceiro ano consecutivo.
A boa safra nos Estados Unidos, líder mundial na produção da oleaginosa, significa estoques maiores e preços ainda mais fracos.

O que sobe
Dois itens vão pesar muito no bolso dos produtores na safra 2006/7, segundo Pitoli: combustíveis e mão-de-obra. Com o petróleo superando US$ 70 por barril, mesmo nos Estados do Sul, que estão mais próximos dos portos, os gastos com transportes sobem até 15%. No caso do feijão, produto comercializado internamente, a alta será de 24%.
Em algumas regiões do Centro-Oeste, esse item pode inviabilizar a produção. Freitas diz que os transportes representam 35% do custo de uma saca de soja na região. Negociada a US$ 12 nos portos, o custo de transporte da saca chega a US$ 4,30.
O aumento do salário mínimo puxou também os gastos dos produtores com a mão-de-obra, que podem chegar a até 20%, dependendo das culturas, segundo Pitoli.


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