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COMBUSTÍVEIS
Cálculo do custo para reparar os estragos decorrentes de vazamentos é considerado conservador
Postos têm dívida ambiental de R$ 3 bi
LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local
Uma conta de pelo menos R$ 3 bilhões mantém acesa a guerra da gasolina. É o passivo
ambiental, o preço
para consertar o estrago feito no
solo e na água subterrânea pelos
vazamentos de combustível nos
postos de serviços, decorrentes de
deficiências em instalação, manutenção, operação e fiscalização de
tanques e outros equipamentos.
O cálculo é conservador, dada a
escassez de estatísticas, e baseia-se
em dados do Contru (Departamento de Controle e Uso de Imóveis), órgão da Prefeitura de São
Paulo, da EPA, a agência de controle ambiental dos Estados Unidos, e de consultores, distribuidores e revendedores do setor.
Dos 2.098 postos de combustíveis de São Paulo mapeados neste
ano pelo Contru, 56% apresentaram irregularidades, e de 20% a
25%, risco de explosão por causa
de vazamento. Pelo levantamento
do órgão, 70% dos tanques instalados nos postos têm mais de dez
anos e já estariam precisando ser
substituídos.
O custo da troca, considerando
a média de cinco tanques de 15
mil litros por estabelecimento, seria da ordem de R$ 80 mil por
posto, nos cálculos do Sindicom
(Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes) e da Esso. Só
a troca de tanques em 70% dos 25
mil postos do país custaria R$ 1,4
bilhão (US$ 721 milhões).
O preço da recuperação ambiental toma dados da EPA como
referência. A agência norte-americana calcula em US$ 125 mil o
valor da extração do combustível
e o tratamento do solo na área de
um posto e nas circunvizinhas.
Considerando vazamento em
20% dos postos do país (5.000), a
conta é acrescida de R$ 1,2 bilhão
(US$ 625 milhões).
Se houver contaminação da
água subterrânea, a limpeza vai
custar outros US$ 100 mil a US$ 1
milhão por posto. E a conta ganha
mais R$ 970 milhões (US$ 500 milhões), no mínimo, fechando em
R$ 3,57 bilhões (US$ 1,85 bilhão).
Postos e distribuidoras divergem sobre o tamanho e o custo do
problema. As distribuidoras, proprietárias da maioria dos tanques
e responsáveis pela instalação e
manutenção dos seus equipamentos, acham que é pequeno.
"No máximo, 1% dos postos do
país tem vazamento", estima
Marcos Lourenço Ferreira, coordenador de segurança, saúde e
meio ambiente do Sindicom. "Para o Brasil, 1% é acidente", diz.
Já o Recom, sindicato que reúne
os revendedores de combustíveis
da cidade de São Paulo, avaliza os
dados do Contru e calcula o passivo ambiental em R$ 1 milhão
por posto, R$ 25 bilhões no país.
O sindicato teme que essa conta
venha a estourar nas mãos do revendedor num momento em que
as margens estão apertadas pela
guerra de preços e há uma reestruturação do setor a caminho,
que prevê a entrada das distribuidoras na venda ao consumidor.
O temor do Recom vem de uma
portaria da ANP (Agência Nacional do Petróleo), que suprimiu da
regulamentação anterior a obrigação de as distribuidoras prestarem assistência técnica nos equipamentos em comodato. O sindicato até entrou com ação na Justiça Federal, pedindo a restauração
da portaria anterior.
Na ação, o sindicato afirma que
as distribuidoras esperam vencer
o contrato de comodato e doam
ou vendem barato os tanques aos
revendedores, desobrigando-se
do passivo ambiental.
Para Marcos Ferreira, do Sindicom, a leis federais ambientais
são fortes o bastante para assegurar a responsabilidade das distribuidoras "independentemente
de constar na portaria da ANP. O
que ocorre são casos pontuais,
que dão uma dimensão ao problema que não é verdadeira".
Mas os números da Cetesb,
agência ambiental paulista, indicam que a poluição causada por
vazamentos em postos é frequente. Problemas como o aparecimento de gasolina em garagens
de edifícios e caixas subterrâneas
da tefone surgiram de 30 postos
no Estado em 1996, 33 em 1997,
34 em 1998 e 23 de janeiro a maio
de 1999, 15% a mais do que no
mesmo período do ano anterior.
"Esse é o maior problema ambiental dos centros urbanos e a
solução é complexa", afirma Alexandre Maximiano, geólogo da
Waterloo Hydrogeologic, empresa canadense especializada em
avaliação de risco ambiental.
Nos EUA, diz o geólogo, do 1,1
milhão de tanques de combustível subterrâneos existentes até
1995, 318 mil (29%) vazaram. No
Brasil, ele acredita que a contaminação do solo e da água sejam
maiores do que nos EUA, dada
uma série de fatores geológicos
peculiares do país.
Do lado da fiscalização, não há
trabalho preventivo. Contru e Cetesb são acionados depois de o
vazamento acontecer. Aos postos
cabe monitorar o estoque de
combustíveis diariamente e enviar laudo mensal à ANP.
Em São Paulo, uma lei obriga os
postos a fazer teste anual de estanqueidade, mas não há garantia
de que esteja sendo feito direito.
Projeto de lei abrangente, que
prevê a troca dos tanques, tramita
há um ano na Câmara Municipal.
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