São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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BALANÇA

Preço adverso reduz ganho de exportação

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um relatório do Banco Central divulgado nesta semana induz o leitor à conclusão de que a condição adversa dos preços internacionais é o grande responsável pelo fraco desempenho da balança comercial do Brasil.
O boletim "Focus", acompanhado por investidores estrangeiros, chama a atenção para o fato de que o declínio dos preços de produtos que o país vende no exterior neutralizou mais da metade do ganho possível, tivessem os valores permanecidos estáveis.
O trabalho é sucinto, mas os números são eloquentes: da desvalorização cambial de janeiro de 1999 até o mês passado, o volume de exportações cresceu 17,8%, mas o valor subiu apenas 7,2% porque os preços internacionais recuaram 11,1% no período.
"As exportações foram punidas pela redução dos preços", diz Gustavo Bussinger, coordenador do Grupo de Comunicação Institucional do BC, responsável pelo boletim. Os preços mais afetados foram os de produtos agrícolas, como suco de laranja, café e soja. Em menor escala, caíram também os preços de minérios.
As curvas dos índices de preço e de volume das exportações, mostradas no gráfico, abriram uma distância mais de duas vezes maior do que a observada na introdução do Plano Real, em 1994.
A comparação entre esses dois momentos resume a história recente do comércio exterior do Brasil. Os preços internacionais subiram depois do Real, o que atenuou o déficit comercial provocado pelo câmbio supervalorizado. Mais tarde, após a mudança do regime cambial, os preços caíram, o que acabou segurando o superávit provocado pelo câmbio mais ajustado.
Essa dupla coincidência teve influência determinante no resultado da balança comercial.
Do lado das importações, o cenário internacional também não ajudou a balança comercial.
Nos 20 meses que se seguiram à mudança do regime cambial, as importações declinaram, em volume, 8,7%, segundo o boletim do BC. Se os preços dos produtos importados tivessem tido a mesma evolução dos exportados, essa queda teria sido mais expressiva.
Mas não foi o que ocorreu. Esses preços subiram, em média, 0,8% no período e, com isso, a queda do valor das importações ficou limitada em 6%.
O movimento dos preços internacionais, indica o relatório, prejudicou a balança comercial brasileira nas duas pontas.
O Banco Central prefere não incorporar, nas projeções para este ano, o preço internacional do petróleo. O argumento é que as fortes oscilações não permitem prever um preço médio de importação, que é que costuma ser levado em conta pelos economistas.
Por isso, a previsão de superávit para este ano ainda está em US$ 1,8 bilhão, o que é considerado inatingível. O saldo acumulado até o momento é bem inferior a US$ 1 bilhão.
No ano passado, apesar da desvalorização que favoreceu o comércio exterior, o país registrou déficit de US$ 1,2 bilhão.


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