São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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TRABALHO

Presidente desabafa que não aguenta mais ouvir cobranças de que não modificou nada na relação capital-trabalho

Promessa a empresário faz FHC ordenar voto

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de avisado por seus articuladores políticos do risco de derrota devido ao "efeito eleição", o presidente Fernando Henrique Cardoso deu ontem a ordem para votar o projeto que flexibiliza a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) a fim de cumprir uma promessa sempre cobrada em seus encontros com empresários.
Em conversas reservadas, FHC desabafou que não aguenta mais ouvir cobranças empresariais de que não modificou nada nas relações entre trabalho e capital no seus sete anos de mandato. A proposta preparada pelo ministro Francisco Dornelles (Trabalho), que não chega a ser uma reforma trabalhista, serve para cumprir parcialmente esse compromisso.
FHC avalia que agora tem discurso nos encontros com o empresariado: fez a sua parte nas circunstâncias permitidas pelo Congresso. Segundo o presidente teria dito, agora os empresários não poderão dizer que ele nada fez na área trabalhista. Caso a proposta não fosse aprovada, FHC afirmou que a cobrança teria então de ser feita ao Congresso e não ao governo.
Pesou também na decisão presidencial de mandar os líderes partidários irem para o tudo ou nada a avaliação de que o governo já sofrera todo o desgaste junto à opinião pública por bancar a proposta e que a retirada do projeto de pauta poderia se transformar numa derrota maior, sinalizando descontrole da base.
FHC sabe que o Congresso já está sob o domínio do "efeito eleição" -o temor dos parlamentares governistas de naufragarem no pleito do ano que vem por apoiar propostas consideradas impopulares.
Até o começo do "efeito eleição", FHC conseguia arregimentar apoio para aprovar projetos com necessidade de quórum mais alto, como as emendas constitucionais que precisam ser aprovadas por três quintos dos congressistas. De agora em diante, o presidente tem a medida do seu poder para preparar a agenda legislativa do último ano de mandato. Segundo um auxiliar, "o governo sabe quem está com ele até debaixo d"água".
O presidente comentou com auxiliares que sua insistência na votação estava ligada também com o mérito da proposta. Segundo ele, o projeto beneficiará não só os empresários mas também os trabalhadores, gerando mais emprego e fortalecendo sindicatos.
No Congresso, deputados governistas contrários ao projeto comentavam suspeitar que a insistência de FHC e do ministro Dornelles estava relacionada à eleição do próximo ano. A intenção seria agradar a alguns setores da economia, potenciais doadores de recursos para campanhas eleitorais.
O governo nega qualquer interesse eleitoral e diz que o objetivo é modernizar as relações trabalhistas, permitindo caminhos para evitar aumento de desemprego principalmente em períodos de crise econômica.
A decisão de votar o projeto foi tomada ontem de manhã por FHC, em reunião no Palácio da Alvorada com os ministros Arthur Virgílio (Secretaria Geral) e Francisco Dornelles (Trabalho), mais os líderes partidários Jutahy Magalhães (PSDB-BA), Inocêncio Oliveira (PFL-PE) e Odelmo Leão (PPB-MG). O líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), também participou do encontro.
Na reunião, o presidente recebeu um relato das dificuldades que os defensores da proposta tiveram na sessão da Câmara de anteontem à noite, quando o PFL mostrou fraqueza e o PTB encaminhou contra pressionando indiretamente por benesses governamentais para voltar a votar a favor.
Diante da firmeza de Fernando Henrique para apreciar a proposta, Inocêncio disparou telefonemas para seus vice-líderes a fim de unificar a bancada. E o ministro Virgílio ficou encarregado de convencer o líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), a voltar às fileiras do governo.


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