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TRABALHO
Presidente desabafa que não aguenta mais ouvir cobranças de que não modificou nada na relação capital-trabalho
Promessa a empresário faz FHC ordenar voto
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de avisado por seus articuladores políticos do risco de
derrota devido ao "efeito eleição",
o presidente Fernando Henrique
Cardoso deu ontem a ordem para
votar o projeto que flexibiliza a
CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho) a fim de cumprir uma
promessa sempre cobrada em
seus encontros com empresários.
Em conversas reservadas, FHC
desabafou que não aguenta mais
ouvir cobranças empresariais de
que não modificou nada nas relações entre trabalho e capital no
seus sete anos de mandato. A proposta preparada pelo ministro
Francisco Dornelles (Trabalho),
que não chega a ser uma reforma
trabalhista, serve para cumprir
parcialmente esse compromisso.
FHC avalia que agora tem discurso nos encontros com o empresariado: fez a sua parte nas circunstâncias permitidas pelo Congresso. Segundo o presidente teria
dito, agora os empresários não
poderão dizer que ele nada fez na
área trabalhista. Caso a proposta
não fosse aprovada, FHC afirmou
que a cobrança teria então de ser
feita ao Congresso e não ao governo.
Pesou também na decisão presidencial de mandar os líderes partidários irem para o tudo ou nada
a avaliação de que o governo já sofrera todo o desgaste junto à opinião pública por bancar a proposta e que a retirada do projeto de
pauta poderia se transformar numa derrota maior, sinalizando
descontrole da base.
FHC sabe que o Congresso já está sob o domínio do "efeito eleição" -o temor dos parlamentares governistas de naufragarem
no pleito do ano que vem por
apoiar propostas consideradas
impopulares.
Até o começo do "efeito eleição", FHC conseguia arregimentar apoio para aprovar projetos
com necessidade de quórum mais
alto, como as emendas constitucionais que precisam ser aprovadas por três quintos dos congressistas. De agora em diante, o presidente tem a medida do seu poder para preparar a agenda legislativa do último ano de mandato.
Segundo um auxiliar, "o governo
sabe quem está com ele até debaixo d"água".
O presidente comentou com
auxiliares que sua insistência na
votação estava ligada também
com o mérito da proposta. Segundo ele, o projeto beneficiará não
só os empresários mas também os
trabalhadores, gerando mais emprego e fortalecendo sindicatos.
No Congresso, deputados governistas contrários ao projeto
comentavam suspeitar que a insistência de FHC e do ministro
Dornelles estava relacionada à
eleição do próximo ano. A intenção seria agradar a alguns setores
da economia, potenciais doadores de recursos para campanhas
eleitorais.
O governo nega qualquer interesse eleitoral e diz que o objetivo
é modernizar as relações trabalhistas, permitindo caminhos para evitar aumento de desemprego
principalmente em períodos de
crise econômica.
A decisão de votar o projeto foi
tomada ontem de manhã por
FHC, em reunião no Palácio da
Alvorada com os ministros Arthur Virgílio (Secretaria Geral) e
Francisco Dornelles (Trabalho),
mais os líderes partidários Jutahy
Magalhães (PSDB-BA), Inocêncio
Oliveira (PFL-PE) e Odelmo Leão
(PPB-MG). O líder do governo na
Câmara, Arnaldo Madeira
(PSDB-SP), também participou
do encontro.
Na reunião, o presidente recebeu um relato das dificuldades
que os defensores da proposta tiveram na sessão da Câmara de
anteontem à noite, quando o PFL
mostrou fraqueza e o PTB encaminhou contra pressionando indiretamente por benesses governamentais para voltar a votar a favor.
Diante da firmeza de Fernando
Henrique para apreciar a proposta, Inocêncio disparou telefonemas para seus vice-líderes a fim
de unificar a bancada. E o ministro Virgílio ficou encarregado de
convencer o líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), a voltar às fileiras do governo.
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