São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGRICULTURA

Grão deve roubar área plantada de milho e arroz; pela 1ª vez Brasil pode ultrapassar 100 milhões de toneladas

Soja deve representar metade da safra do país em 2002

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra de 2002 feito pelo IBGE constatou que haverá uma expansão de 10,76% na área plantada de soja e, em contrapartida, uma redução de 12,05% na área do milho (1ª safra) e de 2,55% na do arroz. O IBGE estima que, pela primeira vez, a safra de grãos do país vai passar dos 100 milhões de toneladas.
O quadro indica que os produtores estão preferindo concentrar esforços em uma cultura tipicamente exportadora (soja), em prejuízo de culturas tradicionais para o mercado interno. Os três produtos representam cerca de 90% da produção total de grãos do país (90,69% em 2001).
O chefe do Departamento de Agropecuária do IBGE, Carlos Alberto Lauria, disse que o levantamento indicou que o aumento da área da soja ocorrerá em substituição a outras culturas, e não pela ocupação de novas áreas.
O IBGE constatou que, entre cereais, leguminosas e oleaginosas, haverá também aumento de 8,78% na área plantada de feijão (1ª safra) e uma redução de 16,58% da área cultivada de algodão herbáceo.
Lauria disse que a safra de grãos do país só não passará de 100 milhões de toneladas em 2002 se houver algum problema climático. Em 2001, de acordo com a estimativa de outubro divulgada ontem, e com a safra já praticamente toda colhida, o número ficou em 98,343 milhões de toneladas, com crescimento de 18,13% em relação à safra anterior.
Ainda de acordo com o técnico do IBGE, a barreira dos 100 milhões só não foi superada neste ano porque houve uma quebra de 27,1% na safra do Nordeste.
Como a cultura de soja tem alta produtividade, Lauria avalia que o aumento da área plantada de quase 11% poderá fazer com que a safra do produto chegue a 50% da safra total do país. Neste ano ela representou 38,29%, contra 39,32% no ano anterior.

Porcos da Europa
A prioridade para a produção agroexportadora divide os analistas. Para o economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "o modelo agrícola exportador é uma tragédia". "Preferimos produzir soja para alimentar os porcos da Europa a produzir arroz e milho para a população brasileira."
Gonçalves disse que priorizar exportações de agrícolas é um equívoco porque o mercado dos agronegócios representa só 10% do comércio internacional.
Ele disse ainda que, como estaria havendo uma forte desnacionalização dos agronegócios no país, o Brasil acaba transferindo para o exterior como lucros pelo menos parte da receita obtida com as exportações.
Para o economista Guilherme Bastos, do Centro de Estudos Agrícolas da FGV, a expansão da soja não tem nada de errado e representa só a resposta do setor a um mercado internacional favorável, reforçado pela boa situação da taxa de câmbio no Brasil.
Bastos disse que os produtores de arroz e de milho devem buscar também um espaço no mercado externo, deixando de ser excessivamente dependentes das condições do mercado interno.



Texto Anterior: Despenca redução de consumo de luz
Próximo Texto: Panorâmica - Acordo: Para evitar demissão de 400, trabalhador da Scania aceita jornada menor e PDV
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.