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AGRICULTURA
Grão deve roubar área plantada de milho e arroz; pela 1ª vez Brasil pode ultrapassar 100 milhões de toneladas
Soja deve representar metade da safra do país em 2002
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra de
2002 feito pelo IBGE constatou
que haverá uma expansão de
10,76% na área plantada de soja e,
em contrapartida, uma redução
de 12,05% na área do milho (1ª safra) e de 2,55% na do arroz. O IBGE estima que, pela primeira vez,
a safra de grãos do país vai passar
dos 100 milhões de toneladas.
O quadro indica que os produtores estão preferindo concentrar
esforços em uma cultura tipicamente exportadora (soja), em
prejuízo de culturas tradicionais
para o mercado interno. Os três
produtos representam cerca de
90% da produção total de grãos
do país (90,69% em 2001).
O chefe do Departamento de
Agropecuária do IBGE, Carlos Alberto Lauria, disse que o levantamento indicou que o aumento da
área da soja ocorrerá em substituição a outras culturas, e não pela ocupação de novas áreas.
O IBGE constatou que, entre cereais, leguminosas e oleaginosas,
haverá também aumento de
8,78% na área plantada de feijão
(1ª safra) e uma redução de
16,58% da área cultivada de algodão herbáceo.
Lauria disse que a safra de grãos
do país só não passará de 100 milhões de toneladas em 2002 se
houver algum problema climático. Em 2001, de acordo com a estimativa de outubro divulgada ontem, e com a safra já praticamente
toda colhida, o número ficou em
98,343 milhões de toneladas, com
crescimento de 18,13% em relação
à safra anterior.
Ainda de acordo com o técnico
do IBGE, a barreira dos 100 milhões só não foi superada neste
ano porque houve uma quebra de
27,1% na safra do Nordeste.
Como a cultura de soja tem alta
produtividade, Lauria avalia que
o aumento da área plantada de
quase 11% poderá fazer com que a
safra do produto chegue a 50% da
safra total do país. Neste ano ela
representou 38,29%, contra
39,32% no ano anterior.
Porcos da Europa
A prioridade para a produção
agroexportadora divide os analistas. Para o economista Reinaldo
Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "o modelo
agrícola exportador é uma tragédia". "Preferimos produzir soja
para alimentar os porcos da Europa a produzir arroz e milho para a
população brasileira."
Gonçalves disse que priorizar
exportações de agrícolas é um
equívoco porque o mercado dos
agronegócios representa só 10%
do comércio internacional.
Ele disse ainda que, como estaria havendo uma forte desnacionalização dos agronegócios no
país, o Brasil acaba transferindo
para o exterior como lucros pelo
menos parte da receita obtida
com as exportações.
Para o economista Guilherme
Bastos, do Centro de Estudos
Agrícolas da FGV, a expansão da
soja não tem nada de errado e representa só a resposta do setor a
um mercado internacional favorável, reforçado pela boa situação
da taxa de câmbio no Brasil.
Bastos disse que os produtores
de arroz e de milho devem buscar
também um espaço no mercado
externo, deixando de ser excessivamente dependentes das condições do mercado interno.
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