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RJ prende 25 acusados de desvio de R$ 1 bi
Fiscais da Secretaria da Fazenda aparecem em escutas telefônicas pedindo propina em troca de sonegação fiscal
Acusados moram em bairros nobres do Rio e ganham entre R$ 10 mil e R$ 12 mil; procurador diz que esquema era só a "ponta do iceberg"
LUISA BELCHIOR
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Uma quadrilha de sonegação
e corrupção fiscal formada por
fiscais da Secretaria da Fazenda, empresários e contadores
desviou cerca de R$ 1 bilhão do
Estado do Rio em um ano, de
acordo com o Ministério Público. Até a conclusão desta edição, 25 pessoas haviam sido
presas -funcionários públicos,
empresários e contadores.
Com salários entre R$10 mil
e R$ 12 mil, os fiscais denunciados pelo MP moravam em bairros nobres do Rio, como Gávea,
Ipanema, Urca (zona sul) e Itanhangá (zona oeste). "São fiscais antigos, em fim de carreira", disse o procurador-geral de
Justiça do Rio, Marfan Vieira.
A operação Propina S.A., deflagrada ontem pelo Ministério
Público do Rio, teve como base
2.053 horas de escutas de
107.258 ligações de 70 telefones grampeados. A Justiça decretou 31 mandados de prisão
provisória -11 de fiscais da Receita Estadual- e 106 de busca
e apreensão. Outros dez fiscais
foram afastados do cargo.
O caso lembra o Propinoduto, esquema montado por fiscais do Estado e da Receita Federal e empresários para cobrar propinas, mas o valor das
fraudes desta vez é 16 vezes superior. Apesar de condenados
em primeira e segunda instâncias, nenhum dos envolvidos
no Propinoduto está preso.
Além das 25 pessoas que haviam sido detidas, blocos de notas fiscais, computadores e
bens foram apreendidos. Segundo o MP, os presos serão
denunciados à 33ª Vara Criminal do Rio sob acusação de sonegação fiscal, corrupção ativa
e passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
As investigações do MP
apontam que os fiscais denunciados comandavam esquema
de sonegação fiscal baseado no
recebimento de propinas por
empresas que vão desde salões
de beleza e lojas de sapatos a indústrias farmacêuticas, passando por escritórios de contabilidade, postos de gasolina, lojas de material hospitalar e elétrico e locadoras de veículos.
Com as propinas, os fiscais
abrandavam as fiscalizações,
deixando de lavrar autos de infração, aplicando multas em
valores menores e resolvendo
pendências das empresas com
a Fazenda, de acordo com as investigações. Prestavam, ainda,
espécie de consultoria, ensinando empresários a fazer caixa dois e sonegar impostos.
Uma das empresas acusadas
de envolvimento no esquema, é
a International Boats, que pertence ao filho do fiscal Francisco Ribeiro da Cunha Gomes,
conhecido como Chico Olho-de-Boi e apontado como o principal envolvido do esquema.
Chico foi preso na madrugada
de ontem no aeroporto Tom
Jobim, no Rio, quando ia embarcar para Manaus, com R$ 20
mil em dinheiro. A International Boats tem uma filial na capital.
A sede da empresa em São
Paulo foi fechada pelo MP local,
a pedido da operação do MP do
Rio. Segundo o promotor paulista Arthur Lemos, há suspeitas de que a International Boats
fosse usada pelo esquema para
lavagem de dinheiro. Chico
Olho-de-Boi chegou a substituir, por três dias, Rodrigo Silveirinha -o principal acusado
do caso Propinoduto- na coordenação de uma inspetoria na
Secretaria Estadual de Fazenda
do Rio, depois que ele foi preso.
A Polícia Federal apreendeu
parte da documentação que
comprovaria que a International Boats intermediou a venda
de casa em Angra do Reis para o
traficante colombiano Juan
Carlos Ramírez Abadía em 7 de
agosto.
Vieira disse que o rombo do
esquema nos cofres públicos
soma cerca de R$ 1 bilhão. "É a
maior operação do gênero no
país. É a ponta do iceberg." A Folha não conseguiu localizar os advogados dos acusados.
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