São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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País defende empresas suspeitas de cartel

Itamaraty questiona na OMC medidas antidumping aplicadas contra empresas de suco investigadas no Brasil

IURI DANTAS
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na mais nova disputa entre Brasil e EUA na OMC (Organização Mundial do Comércio), o Itamaraty vai defender no exterior empresas de suco de laranja que são investigadas pelas autoridades antitruste brasileiras por suspeita de formação de cartel no mercado nacional.
Na terça-feira, a chancelaria brasileira entrou com pedido de consulta na OMC contra o governo americano, a partir de reclamações da Cutrale e da Fischer (Citrosuco). Ambas são afetadas por medidas antidumping norte-americanas, assim como a Coinbra-Frutesp, a Cargill e a Montecitrus. Outras empresas brasileiras não pagam a tarifa antidumping cobrada pelos EUA.
As cinco empresas exportadoras integram uma lista de acusados de cartel na compra de laranja dos produtores brasileiros. O processo administrativo foi aberto em 1999 pela SDE (Secretaria de Direito Econômico) para investigar divisão de mercado e fixação de preços uniformes.
Formação de cartel permite às empresas envolvidas no conluio obter vantagens na concorrência com outras empresas do setor. Entre janeiro e outubro deste ano, a indústria brasileira exportou US$ 1,6 bilhão em suco de laranja.
Entre 2002 e 2004, o Brasil já havia travado uma disputa com os americanos, questionando uma tarifa específica imposta pela Flórida ao suco de laranja brasileiro. Agora, no entanto, o Itamaraty refuta o método usado pelos norte-americanos para calcular antidumping contra exportadores brasileiros.
Na avaliação do Departamento de Comércio dos EUA, o suco brasileiro é barato o suficiente para prejudicar a indústria norte-americana e por isso fixou margens de antidumping de até 4,81% para as cinco empresas nacionais.
O Itamaraty, porém, reclama dos critérios usados para fazer o cálculo, o "zeroing" -mecanismo que leva em conta só o preço do produto no mercado doméstico, sem computar o preço (mais alto) do mesmo produto exportado. Na prática, os brasileiros questionam na OMC a tarifa, que vem sendo aplicada só às empresas envolvidas no suposto cartel.
Procurado pela Folha, o Itamaraty respondeu que não defende esta ou aquela empresa, mas questiona o sistema norte-americano por prejudicar exportações brasileiras. Nos registros oficiais do governo dos EUA, o antidumping vale somente para Cargill, Coinbra-Frutesp, Cutrale, Fischer e Montecitrus.
A chancelaria brasileira acrescentou que a controvérsia com os EUA envolve o "zeroing", que distorce o comércio, e a intenção do Brasil é evitar que novas avaliações do americanos venham a prejudicar empresas brasileiras.
Segundo a Folha apurou, autoridades de defesa da concorrência avaliam que o antidumping americano e a investigação de cartel não podem ser relacionados, porque a punição dos EUA tem outra natureza: proteger uma indústria local ineficiente.
"Há uma contradição. O Brasil precisa, sim, defender a indústria nacional, mas há um cartel, que não é só na compra da fruta. Um cartel que opera no mundo inteiro na venda do produto. A defesa do Brasil é burocrática, porque é uma obrigação do país. Mas é uma defesa vazia, que não corrige a base do problema", ponderou o representante dos produtores (Associtrus), Flavio Viegas.
Por meio de sua assessoria, a Cutrale informou que está "100% satisfeita com o apoio do governo" na questão do antidumping e evitou comentar as investigações na área de concorrência. A Fischer também não se manifestou sobre o assunto. A Folha procurou o presidente da Abecitrus (associação que representa 11 exportadores), Ademerval Garcia, mas não obteve resposta.


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