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País defende empresas suspeitas de cartel
Itamaraty questiona na OMC medidas antidumping aplicadas contra empresas de suco investigadas no Brasil
IURI DANTAS
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na mais nova disputa entre
Brasil e EUA na OMC (Organização Mundial do Comércio), o
Itamaraty vai defender no exterior empresas de suco de laranja que são investigadas pelas
autoridades antitruste brasileiras por suspeita de formação de
cartel no mercado nacional.
Na terça-feira, a chancelaria
brasileira entrou com pedido
de consulta na OMC contra o
governo americano, a partir de
reclamações da Cutrale e da
Fischer (Citrosuco). Ambas são
afetadas por medidas antidumping norte-americanas, assim
como a Coinbra-Frutesp, a
Cargill e a Montecitrus. Outras
empresas brasileiras não pagam a tarifa antidumping cobrada pelos EUA.
As cinco empresas exportadoras integram uma lista de
acusados de cartel na compra
de laranja dos produtores brasileiros. O processo administrativo foi aberto em 1999 pela
SDE (Secretaria de Direito
Econômico) para investigar divisão de mercado e fixação de
preços uniformes.
Formação de cartel permite
às empresas envolvidas no conluio obter vantagens na concorrência com outras empresas
do setor. Entre janeiro e outubro deste ano, a indústria brasileira exportou US$ 1,6 bilhão
em suco de laranja.
Entre 2002 e 2004, o Brasil já
havia travado uma disputa com
os americanos, questionando
uma tarifa específica imposta
pela Flórida ao suco de laranja
brasileiro. Agora, no entanto, o
Itamaraty refuta o método usado pelos norte-americanos para calcular antidumping contra
exportadores brasileiros.
Na avaliação do Departamento de Comércio dos EUA, o
suco brasileiro é barato o suficiente para prejudicar a indústria norte-americana e por isso
fixou margens de antidumping
de até 4,81% para as cinco empresas nacionais.
O Itamaraty, porém, reclama
dos critérios usados para fazer
o cálculo, o "zeroing" -mecanismo que leva em conta só o
preço do produto no mercado
doméstico, sem computar o
preço (mais alto) do mesmo
produto exportado. Na prática,
os brasileiros questionam na
OMC a tarifa, que vem sendo
aplicada só às empresas envolvidas no suposto cartel.
Procurado pela Folha, o Itamaraty respondeu que não defende esta ou aquela empresa,
mas questiona o sistema norte-americano por prejudicar exportações brasileiras. Nos registros oficiais do governo dos
EUA, o antidumping vale somente para Cargill, Coinbra-Frutesp, Cutrale, Fischer e
Montecitrus.
A chancelaria brasileira
acrescentou que a controvérsia
com os EUA envolve o "zeroing", que distorce o comércio, e a intenção do Brasil é evitar que novas avaliações do
americanos venham a prejudicar empresas brasileiras.
Segundo a Folha apurou, autoridades de defesa da concorrência avaliam que o antidumping americano e a investigação de cartel não podem ser relacionados, porque a punição
dos EUA tem outra natureza:
proteger uma indústria local
ineficiente.
"Há uma contradição. O Brasil precisa, sim, defender a indústria nacional, mas há um
cartel, que não é só na compra
da fruta. Um cartel que opera
no mundo inteiro na venda do
produto. A defesa do Brasil é
burocrática, porque é uma
obrigação do país. Mas é uma
defesa vazia, que não corrige a
base do problema", ponderou o
representante dos produtores
(Associtrus), Flavio Viegas.
Por meio de sua assessoria, a
Cutrale informou que está
"100% satisfeita com o apoio
do governo" na questão do antidumping e evitou comentar
as investigações na área de
concorrência. A Fischer também não se manifestou sobre o
assunto. A Folha procurou o
presidente da Abecitrus (associação que representa 11 exportadores), Ademerval Garcia,
mas não obteve resposta.
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