São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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INFORMÁTICA
Empresa diz que compra da Netscape pela AOL cria forte concorrente, mas promotor rebate o argumento
Microsoft aponta fusão
para se defender

Editoria de Arte/Folha Imagem
O presidente da Microsoft, Bill Gates, discursa em conferência sobre tecnologia em Kuala Lumpur, Malásia.


da Redação

A aquisição da empresa de software Netscape pela America Online (maior provedor de acesso à Internet do mundo), na quarta-feira passada, pode modificar o desfecho do processo contra a Microsoft.
Já na quarta-feira, quando o negócio foi concretizado, advogados da Microsoft procuravam usá-lo em seu favor.
William Neukom, conselheiro-geral sênior da empresa, afirmou que a Microsoft tem agora um concorrente de bastante peso e que o mercado sempre teve as condições necessárias para reagir à estratégia da empresa.
A acusação diz exatamente o contrário. O promotor David Boies, do Departamento de Justiça, afirmou que a aquisição apenas demonstra que as outras empresas simplesmente não têm como enfrentar a Microsoft, e que a venda era a única saída para a Netscape.

Aliança A compra da Netscape pela AOL reúne o maior provedor de acesso do mercado e uma das marcas que mais atraem visitas para o seu site na Internet (são 20 milhões de usuários por mês).
O negócio inclui um acordo da AOL com a empresa de computadores Sun. As duas companhias firmaram uma parceria de três anos -a Sun vai ficar encarregada de desenvolver e distribuir software da Netscape para clientes corporativos.

Portáteis Mas o coração da estratégia das três empresas é o investimento em comércio eletrônico e em aparelhos alternativos para acesso à Internet (portáteis mais simples e baratos que computadores, cuja principal função será o acesso à rede).
As empresas pretendem utilizar a tecnologia Java, da Sun, nesses aparelhos.
O Java é uma linguagem de programação bastante utilizada na Internet. A aliança de empresas pretende usá-lo como base de um sistema operacional para aparelhos portáteis de acesso à Internet.
Por trás desse esforço há uma questão que a indústria de informática evita mencionar: o mercado de PCs nos EUA está bem próximo da saturação.

Bug do milênio Este ano o crescimento deve ficar entre 10% e 12% (dados do International Data Corporation e do Dataquest), bem mais baixo do que a média entre 16% e 18% que vinha sendo mantida nos últimos anos.
Para 1999 há expectativa de um certo aumento nas vendas no primeiro semestre, devido à reposição de computadores afetados pelo bug do milênio (problema que impedirá muitos computadores atualmente em uso de identificar corretamente o ano 2000, confundindo-o com o ano de 1900).
Mesmo assim, o crescimento tende a ficar na faixa de 13% (International Data Corporation).
As margens de lucro também vão diminuir muito, pois o preço dos modelos menos sofisticados de computador deve cair para cerca de US$ 500.
Isso significa que, para continuar a expandir o mercado de acesso à Internet e o comércio eletrônico, é preciso tentar atingir um público menos sofisticado, que talvez jamais compre um computador pessoal.
Daí a necessidade de criar aparelhos de custo baixo (algo em torno de US$ 200) e operação bem mais simples que um PC.
Não há nenhuma garantia de que essa estratégia será efetiva, ou de que a dupla AOL/Netscape consiga ser bem-sucedida com ela. Mas ela com certeza é temida pela Microsoft, que tenta também fincar pé no mercado de portáteis para acesso à Internet (ver página ao lado), com seu software Windows CE.
No curto prazo, a AOL quer somar a audiência do site da Netscape e a força de sua marca à carteira de assinantes do seu serviço on line. De acordo com dados da empresa de pesquisa NetRatings, as duas empresas teriam, cada uma, um alcance de 70% dos consumidores norte-americanos na Internet. O Yahoo, por exemplo, tem pouco mais de 50%.
(MARIA ERCILIA)


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