São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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Crise vai de má gestão a polícia

da Reportagem Local

A crise financeira da construtora Encol, que chegou a ser considerada uma das melhores e maiores do país, começou como um exemplo de incompetência gerencial.
No ano passado, no auge da crise da construtora, o caso tornou-se um escândalo e virou questão de polícia, com acusações de desvio de dinheiro, sonegação de impostos e remessa ilegal de divisas para o exterior por parte do acionista majoritário, Pedro Paulo de Souza, e ex-diretores.
Os primeiros rumores de que a construtora Encol estava enfrentando problemas financeiros graves começaram a circular em maio de 1995.
Alguns meses depois, apesar de a empresa ter desmentido os boatos sobre problemas, o Banco Pactual foi contratado para fazer um projeto de reestruturação da construtora, que foi recusado posteriormente pelos acionistas.
No ano de 1996, o Banco do Brasil, um dos principais credores, promoveu uma "intervenção branca" na Encol, nomeando um executivo para cuidar das finanças da empresa.
Em janeiro de 1997, Pedro Paulo de Souza é afastado da direção da empresa. Os maiores bancos credores passam a discutir a formação de um pool para salvar a construtora da falência.
O pool de bancos não consegue arquitetar uma solução de consenso para todos os credores.
Ao mesmo tempo, promotores de defesa do consumidor de Brasília (sede da empresa) instauram inquérito civil para apurar danos causados a clientes. As obras prometidas já estavam atrasadas.
Em agosto do mesmo ano, o problema, até então de má gestão financeira de um negócio, ganha dimensão policial.
Um relatório da auditoria Deloitte Touche Tohmatsu sobre as contas da Encol vem a público e aponta a evidência de sonegação de impostos, desvio de dinheiro, uso de caixa-dois e prejuízo de R$ 380 milhões.
Investigações realizadas pela Polícia Federal também indicavam que as irregularidades na empresa eram praticadas desde 1993.
A PF chega até a sugerir que a Encol estava envolvida com o esquema PC Farias (o tesoureiro do ex-presidente da República Fernando Collor, afastado do cargo por suspeita de corrupção).
Nessa altura, vários processos pedindo a falência da construtora tramitavam na Justiça de Brasília.
O proprietário da Encol, Pedro Paulo de Souza, passa a responder processo com base em denúncias da Promotoria de Defesa do Consumidor do Distrito Federal, no qual é acusado de ter distribuído, em 1995, dividendos (lucro líquido) fictícios aos acionistas, o que caracteriza crime fiscal.
Em outubro do ano passado, a Encol decidiu mudar o endereço de sua sede de Brasília para Goiânia. A mudança, segundo alegou a empresa, era para reduzir custos operacionais.
A Promotoria de Brasília encarou a alteração como uma manobra para atrasar os julgamentos dos pedidos de falência.
Em novembro de 97, a Encol entrou com um pedido de concordata preventiva na Vara de Falências e Concordatas de Goiânia.
Ficou criado então um conflito de competências entre a Justiça de Brasília e de Goiânia, que só foi resolvido em junho deste ano pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), a favor de Goiás. (ME)



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