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TRANSPORTES
Governo beneficia policial e postos para isolar líderes do movimento
Bloqueio à greve custa R$ 840 mi
OTÁVIO CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ação do governo para tentar
isolar os líderes do movimento
grevista dos caminhoneiros, que
teve início ontem, e evitar que outras categorias aderissem à paralisação custou aos cofres federais
pelo menos R$ 840 milhões.
Para bloquear a adesão à greve,
o Ministério da Justiça decidiu
ontem pagar uma gratificação por
operações especiais aos policiais
rodoviários federais, que ameaçavam deixar de multar e guinchar
os caminhões que bloqueassem as
pistas de rodovias.
A gratificação, que irá beneficiar
todos os patrulheiros, vai consumir R$ 346 milhões do Orçamento do Ministério da Justiça.
Outra medida antigreve foi tomada na semana passada pelo
Ministério de Minas e Energia,
que aumentou a margem de lucro
para distribuidores e donos de
postos na venda de óleo diesel.
A concessão foi feita depois de
os comerciantes ameaçarem interromper a venda de diesel nos
postos em estradas durante a greve dos caminhoneiros.
A margem de lucro passou de
R$ 0,06 para R$ 0,10 por litro, o
que irá representar um gasto
mensal de R$ 45 milhões.
Até o final do ano, portanto, o
Tesouro Nacional terá de custear
um subsídio de cerca de R$ 495
milhões na venda de diesel, com
recursos da PPE (Parcela de Preços Específica).
As ações deram resultado. Ontem, a greve ficou restrita a alguns
pontos isolados, sem prejudicar o
transporte de combustível.
Os policiais rodoviários, após a
notícia do aumento, trabalharam
normalmente.
A gratificação era reivindicada
pela Polícia Rodoviária Federal
havia pelo menos um ano, quando a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal passaram a
receber o benefício. O pagamento
agora depende apenas da equipe
econômica.
Além de abrir o cofre, o governo
fortaleceu outros líderes dos caminhoneiros, buscando isolar
Nélio Botelho. Na semana passada, Gregori e Eliseu Padilha
(Transportes) se reuniram com
sindicalistas e prometeram atender algumas reivindicações caso
eles não aderissem à paralisação.
Dois pleitos de Botelho, porém,
o governo não aceita negociar: a
criação de uma tabela de frete e o
fim da cobrança de pedágios para
caminhoneiros.
Por fim, o governo foi beneficiado com a decisão da Justiça de
conceder liminares antecipadas a
concessionárias de rodovias contra a greve. As liminares proíbem
o bloqueio de rodovias e estipulam multas em caso de prejuízo às
concessionárias, que devem ser
pagas pelo MUBC.
Profissão: caminhoneiro
Um projeto que regulamenta a
profissão de caminhoneiro, cuja
tramitação no Congresso o governo prometeu apressar na tentativa de evitar a greve da categoria,
teve sua aprovação barrada na
Câmara por um deputado do
PSDB, partido de FHC.
Segundo o projeto, motoristas
de caminhão e de ônibus não podem ficar mais de quatro horas
ininterruptas dirigindo e, a cada
24 horas, precisam ter pelo menos
12 horas de descanso.
O pedido para agilizar o projeto
foi uma das principais promessas
feitas pelo governo na quarta em
uma reunião com 12 representantes de caminhoneiros.
Em nota distribuída depois do
encontro, os ministros da Justiça,
José Gregori, e dos Transportes,
Eliseu Padilha, informaram que
iriam "pedir ao Congresso Nacional a tramitação em regime de urgência" desse projeto.
Apresentado pelo governo em
1996, o projeto passou na Câmara
por três comissões: Viação e
Transportes, Trabalho e Constituição e Justiça. Era um projeto
que no Congresso é definido como terminativo, ou seja, é considerado aprovado, sem ter de passar pelo plenário, caso consiga
aprovação nas comissões.
Em 8 de agosto de 2000, último
dia para apresentação de recursos
contra o caráter terminativo do
projeto, Oswaldo Soler apresentou um requerimento para que a
proposta fosse discutida em plenário. O tucano Soler é o segundo
suplente da coligação do PSDB do
Mato Grosso e naquela época estava na titularidade do mandato.
O recurso impediu que o projeto fosse enviado ao Senado. A
proposta está parada na Câmara.
A Folha tentou na sexta-feira e
ontem ouvir Soler sobre o recurso
que barrou a tramitação do projeto. Ele informou que "não tem interesse" em falar sobre o caso.
Colaborou Solano Nascimento,
da Sucursal de Brasília
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