São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

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TRANSPORTES

Governo beneficia policial e postos para isolar líderes do movimento

Bloqueio à greve custa R$ 840 mi



OTÁVIO CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ação do governo para tentar isolar os líderes do movimento grevista dos caminhoneiros, que teve início ontem, e evitar que outras categorias aderissem à paralisação custou aos cofres federais pelo menos R$ 840 milhões.
Para bloquear a adesão à greve, o Ministério da Justiça decidiu ontem pagar uma gratificação por operações especiais aos policiais rodoviários federais, que ameaçavam deixar de multar e guinchar os caminhões que bloqueassem as pistas de rodovias.
A gratificação, que irá beneficiar todos os patrulheiros, vai consumir R$ 346 milhões do Orçamento do Ministério da Justiça.
Outra medida antigreve foi tomada na semana passada pelo Ministério de Minas e Energia, que aumentou a margem de lucro para distribuidores e donos de postos na venda de óleo diesel.
A concessão foi feita depois de os comerciantes ameaçarem interromper a venda de diesel nos postos em estradas durante a greve dos caminhoneiros.
A margem de lucro passou de R$ 0,06 para R$ 0,10 por litro, o que irá representar um gasto mensal de R$ 45 milhões.
Até o final do ano, portanto, o Tesouro Nacional terá de custear um subsídio de cerca de R$ 495 milhões na venda de diesel, com recursos da PPE (Parcela de Preços Específica).
As ações deram resultado. Ontem, a greve ficou restrita a alguns pontos isolados, sem prejudicar o transporte de combustível.
Os policiais rodoviários, após a notícia do aumento, trabalharam normalmente.
A gratificação era reivindicada pela Polícia Rodoviária Federal havia pelo menos um ano, quando a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal passaram a receber o benefício. O pagamento agora depende apenas da equipe econômica.
Além de abrir o cofre, o governo fortaleceu outros líderes dos caminhoneiros, buscando isolar Nélio Botelho. Na semana passada, Gregori e Eliseu Padilha (Transportes) se reuniram com sindicalistas e prometeram atender algumas reivindicações caso eles não aderissem à paralisação.
Dois pleitos de Botelho, porém, o governo não aceita negociar: a criação de uma tabela de frete e o fim da cobrança de pedágios para caminhoneiros.
Por fim, o governo foi beneficiado com a decisão da Justiça de conceder liminares antecipadas a concessionárias de rodovias contra a greve. As liminares proíbem o bloqueio de rodovias e estipulam multas em caso de prejuízo às concessionárias, que devem ser pagas pelo MUBC.

Profissão: caminhoneiro
Um projeto que regulamenta a profissão de caminhoneiro, cuja tramitação no Congresso o governo prometeu apressar na tentativa de evitar a greve da categoria, teve sua aprovação barrada na Câmara por um deputado do PSDB, partido de FHC.
Segundo o projeto, motoristas de caminhão e de ônibus não podem ficar mais de quatro horas ininterruptas dirigindo e, a cada 24 horas, precisam ter pelo menos 12 horas de descanso.
O pedido para agilizar o projeto foi uma das principais promessas feitas pelo governo na quarta em uma reunião com 12 representantes de caminhoneiros.
Em nota distribuída depois do encontro, os ministros da Justiça, José Gregori, e dos Transportes, Eliseu Padilha, informaram que iriam "pedir ao Congresso Nacional a tramitação em regime de urgência" desse projeto.
Apresentado pelo governo em 1996, o projeto passou na Câmara por três comissões: Viação e Transportes, Trabalho e Constituição e Justiça. Era um projeto que no Congresso é definido como terminativo, ou seja, é considerado aprovado, sem ter de passar pelo plenário, caso consiga aprovação nas comissões.
Em 8 de agosto de 2000, último dia para apresentação de recursos contra o caráter terminativo do projeto, Oswaldo Soler apresentou um requerimento para que a proposta fosse discutida em plenário. O tucano Soler é o segundo suplente da coligação do PSDB do Mato Grosso e naquela época estava na titularidade do mandato.
O recurso impediu que o projeto fosse enviado ao Senado. A proposta está parada na Câmara.
A Folha tentou na sexta-feira e ontem ouvir Soler sobre o recurso que barrou a tramitação do projeto. Ele informou que "não tem interesse" em falar sobre o caso.


Colaborou Solano Nascimento, da Sucursal de Brasília

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