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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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INTEGRAÇÃO

Comissário de Comércio de UE argumenta que sem ajuda os agricultores do bloco não conseguiriam competir

Subsídios da UE não vão acabar, diz Lamy

Alan Marques/Folha Imagem


DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade de eliminação total dos subsídios concedidos a agricultores da União Européia foi descartada pelo comissário de Comércio da UE, o francês Pascal Lamy.
Durante o debate "O Papel da Sociedade Civil nas Relações Multilaterais", promovido pela Folha, ontem, em São Paulo, o comissário europeu argumentou que, sem subsídios e submetidos às regras normais de mercado, os produtores rurais europeus desapareceriam. "Sabemos que esse sistema causa problemas para os países em desenvolvimento, por isso, desde a década passada, temos procurado tornar esse sistema mais justo para todos", disse.
O secretário afirmou que atualmente as demandas da sociedade civil, sobretudo por intermédio da ação de ONGs (Organizações Não-Governamentais), têm um peso maior nas negociações dos organismos multilaterais.
Ricardo Young, do Instituto Ethos, fez coro com o comissário. "As necessidades sociais andam mais rápido que as negociações multilaterais", afirmou.
O secretário das Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, Kjeld Jacobsen, que participou da mesa, enfatizou que os municípios deveriam ter um papel mais relevante nas questões comerciais entre os países.
Apesar de o foco do debate ser questões relacionadas à sociedade civil, os temas agrícolas foram o destaque das discussões.
Um dos debatedores, o consultor de comércio exterior do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Marcos Jank, questionou o comissário a respeito da classificação dos países emergentes em duas categorias: os LDCs (sigla em inglês para os 50 países mais pobres) e os países em desenvolvimento mais avançados, Brasil e Argentina, por exemplo. A primeira com acesso livre ao mercado europeu em determinados produtos e a segunda com barreiras tarifárias e não-tarifárias.
Na avaliação de Lamy, há, de fato, uma decisão unilateral da UE de fazer distinção entre esses dois grupos de países. "A divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento não é suficiente para abranger a diversidade da economia mundial", disse.
Ainda sobre a mesma questão, o comissário criticou a entrada do Brasil da OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a UE. O processo movido pelo Brasil condena a preferência concedida pela UE a produtores de açúcar dos LDCs. "Acho que o Brasil não vai ganhar esse processo, mas, se ganhar, vai prejudicar os países mais pobres", disse.
Durante a rodada de perguntas para o público, o gerente de negócios Ricardo Pitelli pediu que o comissário avaliasse o impacto de eventual guerra no Iraque na agenda de negociações da UE. "Não dá para avaliar. Tudo o que podemos fazer é criar regras comerciais mais claras."
O debate foi mediado pelo jornalista Luís Nassif, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha.


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