São Paulo, domingo, 30 de abril de 2000


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Fazenda de ministro traz 1º orelhão a vila

da Sucursal de Brasília

O aposentado Albino Batista Ferreira, 76, mora a menos de um quilômetro da fazenda de Pimenta da Veiga, o ministro das Comunicações. Mesmo assim, Ferreira não consegue se comunicar com suas filhas, que vivem em Goiânia (GO).
Ferreira é um dos 6.000 habitantes do Jardim ABC, distrito de Cidade Ocidental, na divisa de Goiás com o Distrito Federal, a apenas 40 km do Plano Piloto da capital federal.
A localidade não tem nenhum telefone fixo. Aqueles que têm celular sofrem com a falta de sinal, já que não há antenas de operadoras na região.
Apenas há 15 dias a vila rompeu o isolamento total. Graças à influência de Pimenta da Veiga, a cidade ganhou o primeiro telefone público e um posto dos Correios.
"Quando o Pimenta assumiu o ministério nossa vida mudou. Ele conseguiu telefone e posto dos Correios. Em um ano, ele trouxe mais benefícios para cá do que a cidade tinha nos últimos 30 anos", declarou Ferreira, que é o morador mais velho na cidade, desde o final da década de 70 no Jardim ABC.
"O ministro tem muitos funcionários que moram na vila, por isso tenta ajudar", relata.

Fazenda
Pimenta da Veiga é o morador ilustre do Jardim ABC. Sua fazenda, São Bento do Tesouro, fica a 500 metros do núcleo urbano.
O ministro costuma passar os finais de semana no local. Para não ficar isolado, Pimenta instalou na fazenda um telefone rural, operado a bateria, que muitas vezes sai do ar.
Há 15 dias, o ministro das Comunicações foi tratado como herói no Jardim ABC, no dia do lançamento do primeiro orelhão da cidade.

Metas
Mesmo usufruindo dos primeiros benefícios da vizinhança famosa, o Jardim ABC é um exemplo do não-cumprimento das metas da Anatel. Pelo plano de metas, todos os vilarejos com mais de mil habitantes, em qualquer lugar do Brasil, já deveriam ter telefonia fixa. No Jardim ABC, as primeiras linhas serão instaladas em junho.
A meta prega também a existência de um orelhão a cada 800 metros. Nos cinco quilômetros da área urbana, há apenas um telefone público, que vive lotado. "É um sufoco conseguir fazer uma ligação, é fila o dia inteiro", reclama o soldado da PM Divino Soares, que trabalha no posto onde fica o orelhão solitário.
O posto da PM é outro exemplo da falha no cumprimento das metas. Pelo plano da Anatel, todos prédios de polícia, escolas e hospitais devem ter telefone público. No Jardim ABC, alunos, professores, policiais e médicos não conseguem se comunicar.

O satisfeito
Nesse cenário de caos, alguns vizinhos de Pimenta da Veiga ainda conseguem lucrar com a falta de telefones. É o caso do comerciante Antenor Raposeiras, que tem um bar e um mercadinho na entrada da cidade.
Dono de um telefone celular, Raposeiras anota os pedidos de todos os outros comerciantes da pequena vila e os repassa para as distribuidoras de bebidas e alimentos de Brasília, que fazem as entregas no Jardim ABC uma vez por semana.
Pela intermediação nos negócios, o comerciante ganha uma comissão. "Se o sistema de comunicação da cidade fosse melhor, meu lucro seria menor", admitiu Raposeiras. "Acho que vou perder dinheiro com a chegada dos telefones."
A assessoria de imprensa de Pimenta da Veiga disse que ele não comentaria o assunto.
A Telebrasília, responsável pela telefonia no Jardim ABC, disse que teve problemas técnicos que atrasaram as obras de instalação. A previsão da empresa é que o sistema de telefonia no local esteja em funcionamento em junho.
(OTÁVIO CABRAL)





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