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ARTIGO
Política econômica e (des)emprego
ANTÔNIO CORRÊA DE LACERDA
O agravamento do desemprego é o maior problema da economia brasileira atual. O indicador
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) já atinge
8,2% em março para o nível nacional e o da Fundação Seade/Dieese, 18,1% na Região Metropolitana de São Paulo.
O problema do desemprego
tem um fundo macroeconômico, decorrente dos efeitos diretos da política econômica, que
combina um conjunto de medidas desfavoráveis ao crescimento econômico e, portanto, pouco
geradoras de emprego.
De fato, há um processo de
reestruturação produtiva na
economia brasileira, basicamente decorrente da abertura comercial intensificada nos anos
90. Mais tarde, a implantação do
Plano Real provocou a valorização do câmbio, de forma que o
crescimento das importações foi
imensamente superior ao crescimento da atividade econômica e
das exportações.
De 1993 a 1997, enquanto as
importações cresceram 143% no
acumulado, as exportações evoluíram 37,4% e a atividade econômica, somente 17%. A consequência direta é a diminuição do
valor agregado local, ou um processo de "exportação de empregos". No mesmo período, o desemprego aumentou em quase
dois pontos percentuais da PEA
(População Economicamente
Ativa).
Nos últimos dois anos, o governo mudou seu discurso original de que deveria cuidar da estabilização e que o restante viria
pelo "mercado". Desde então,
vem promovendo uma gradual
correção do câmbio. Timidamente, inicia um processo de retomada das políticas industrial e
de comércio exterior, com o fortalecimento da Camex (Câmara
de Comércio Exterior). É uma
mudança positiva importante,
mas ainda insuficiente para o
que o país precisa.
Neste ano, o crescimento econômico dificilmente superará
1,5%. Enquanto isso, a PEA vem
crescendo 2,5% ao ano. Ou seja,
estaremos crescendo abaixo da
PEA, o que por si só significa o
agravamento potencial do desemprego.
Mas, além disso, há, em conjunto com a baixa atividade econômica, um processo de reestruturação, que primeiro ocorreu
na indústria e agora atinge o setor terciário. A despeito dos aspectos positivos dessa reestruturação, ocorre um agravamento
no quadro social, já que até então o desempenho do setor terciário vinha, mínima e parcialmente, compensando os efeitos
da reestruturação na indústria.
Os dados do desemprego de
março da pesquisa Seade/Dieese
apontam a eliminação de 48 mil
vagas no comércio. É fruto da
reestruturação, mas também (e
principalmente) dos elevados
níveis de juros e da inadimplência. Ao mesmo tempo em que
houve aumento dos juros, a renda real dos consumidores diminuía, impactando diretamente a
demanda agregada e os índices
de inadimplência, gerando dificuldades para as empresas manterem seu quadro de pessoal.
Ao contrário do que possa parecer num primeiro momento, o
baixo crescimento brasileiro não
é decorrente da globalização,
mas dos erros da nossa política
econômica, que recriou a restrição externa, com o crescimento
do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos de
0,6% do PIB, em 93, para 2%, em
97.
Além disso, a ausência de políticas públicas voltadas para esse
fim não tem permitido as condições para "puxar" o crescimento econômico.
Muito pode ser feito com o incentivo a setores fortemente demandadores de mão-de-obra,
como infra-estrutura, construção civil, turismo e lazer, por
exemplo, todos com baixo coeficiente importador. O Brasil, ao
contrário da maioria dos Tigres
Asiáticos, possui um amplo
mercado interno, cuja demanda
é reprimida.
A expansão dos investimentos,
combinada com uma política
agressiva de exportações, pode
permitir geração de emprego e
renda locais, além de contribuir
para a eliminação da restrição
externa no médio prazo.
Os recursos públicos (BNDES)
podem ser canalizados para essas atividades, no bojo de uma
política de desenvolvimento.
Não há razão, exceto pelos equívocos de implantação e/ou pela
ausência de delineamentos claros de políticas públicas, para o
Brasil ficar refém de medidas
econômicas que restringem o
crescimento, agravam o desemprego, deterioram o poder de
compra dos salários e precarizam o mercado de trabalho.
PS: dedico este artigo à memória do professor Álvaro Antônio
Zini Jr., falecido precocemente
em 23 deste mês, exemplo de
dignidade no exercício da cidadania e da profissão.
Antônio Corrêa de Lacerda, 41, economista,
é coordenador da Cofecon (Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia), professor e pesquisador do Departamento de Economia da PUC-SP. Foi presidente do Conselho Regional de Economia de
1995 a 1997.
E-mail: lacerda@cofecon.org.br
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