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OPINIÃO ECONÔMICA
Responda depressa: o governo FHC é responsável?
ALOYSIO BIONDI
A Bahiafarma, estatal que produz remédios contra a tuberculose, está falida. Incompetência?
Não. Seus remédios eram comprados pelo Ministério da Saúde,
para distribuição à população
pobre. O governo FHC cortou
80% de suas compras, no ano
passado. Responda depressa: você
acha que é por isso que a tuberculose está avançando no país, colocando-o entre os dez maiores
focos da doença no mundo? A
culpa é do corte de verbas sociais
pelo governo FHC?
Nordeste
O governo FHC nega que tenha
demorado em anunciar providências para minorar os efeitos
da seca no Nordeste. Um porta-voz chega a dizer que nos últimos quatro meses o governo fez
silêncio sobre o problema para
"não alarmar", não provocar
êxodo. Como sempre, explicações
otimistas. Roraima, dengue, greve nas universidades, sempre a
mesma demora, e a mesma indiferença. O fato é que, mesmo
agora, o governo precisa de três
semanas para começar a distribuição maciça de comida. Ah,
sim. E não há arroz nos estoques
do governo. E nem para comprar:
mesmo sem a seca nordestina, a
safra brasileira seria de apenas
9,5 milhões de toneladas, contra
o consumo de 12 milhões de toneladas. Responda depressa: você
acha que Brasília planeja algo?
Deveria ter previsto importações
(ou, antes, estimulado o plantio?).
Covardia
O ministro José Serra demite
coordenadores do combate à
dengue. Mas quem reteve as verbas desse programa foi a equipe
econômica, o governo FHC. Em
dezembro de 1994, o coordenador
de Goiás pediu R$ 28 mil (isso
mesmo, o preço de um automóvel) para comprar inseticida e
matar o mosquito transmissor.
Há três anos. Se essa verba tivesse sido liberada para Goiás e outros Estados, a epidemia teria sido abortada. Não houve dinheiro, como não houve para o combate à tuberculose, ou para vacinas contra a hepatite, a meningite, o sarampo. Responda depressa: você acha que as demissões
na Saúde -e no Nordeste- são
manobras para criar "bodes expiatórios"?
Energia elétrica
As tarifas de energia elétrica,
de empresas privadas como a
Light ou estatais, são reajustadas
uma vez por ano. No começo do
mês, às vésperas do leilão de privatização das energéticas paulistas, o governo FHC anunciou que
essas empresas de São Paulo não
teriam reajuste neste ano, mas
somente em abril de 1999. Porta-vozes de Brasília, como o
co-governador paulista Geraldo
Alkmin, encarregado da "desestatização", derramaram falação
na TV e jornais, dizendo que esse
"congelamento de tarifas" já
mostrava as vantagens que a privatização traria ao consumidor.
Engraçado. Passado o leilão, o
governo FHC anunciou reajuste
de tarifas para a Light, para a
CPFL, energética paulista já privatizada, para todo mundo enfim. Engraçado. Só as estatais
paulistas ficaram sem reajuste
na faixa de 4% a 5%. Responda
depressa: em um país civilizado,
o Legislativo e a sociedade não
pediriam explicações sobre tamanha arbitrariedade, tamanho
autoritarismo? E o "congelamento", ao reduzir o faturamento
previsto para as empresas em fase de privatização, não reduz
também o seu prazo para os
compradores nos leilões, com
prejuízos de centenas de milhões
de reais para São Paulo?
Sem compromisso
O governo FHC vai privatizar
até a Embratel, responsável pelo
sistema de satélites que ligam o
Brasil ao mundo (fornecem canais para mais telefonia, televisão etc.). Até há um mês, o próprio governo FHC concordava
com os críticos e admitia que não
se pode deixar o controle desse
sistema totalmente nas mãos da
iniciativa privada -porque um
grupo empresarial, seu proprietário, poderia prejudicar os concorrentes, monopolizar etc. (Sem
falar em problemas estratégicos
já que está em jogo a própria
comunicação do país com o
mundo).
Para evitar esse perigo -controle e monopólio privado-, o
governo FHC anunciava que o
Estado teria o poder de interferir
quando necessário, pois participaria do capital da empresa privada com ações especiais ("golden shares"). Há alguns dias,
saiu o edital para vender, privatizar a Embratel. O governo
FHC, na surdina, quebrou seus
compromissos. Não está prevista
a criação das ações especiais.
Responda depressa: pode-se confiar no governo FHC?
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico. Foi
editor de Economia da Folha. É diretor-geral do
grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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