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Para Langoni, inflação e incertezas são vilões
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A política monetária mais restritiva nos últimos meses não foi a
principal vilã da economia no primeiro trimestre deste ano, na opinião de Carlos Geraldo Langoni,
diretor do Centro de Economia
Mundial da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e ex-presidente do
Banco Central.
Para o economista, a combinação entre alta da inflação e queda
nos investimentos -provocada
pelas incertezas do fim do ano
passado- foram as principais
causas do crescimento lento entre
janeiro e março deste ano.
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - O que o senhor acha do
desempenho do PIB?
Carlos Geraldo Langoni - O resultado mostrou um ritmo lento de
crescimento. Mesmo em relação
ao primeiro trimestre de 2002, podemos dizer que a economia tem
crescido muito lentamente. Pelo
menos não tivemos recessão.
Folha - O que explica esse ritmo
lento de crescimento?
Langoni - Ao contrário do que
muitos dizem, acho que a principal causa não é a taxa de juros
mais alta. Até porque, em termos
reais, a taxa de juros caiu em relação ao primeiro trimestre de 2002.
Portanto essa é uma visão distorcida. A taxa de juros não foi a
grande vilã desta vez. Para mim, a
recente estagnação da economia
foi causada principalmente pela
alta da inflação e pela queda de investimentos por conta de incertezas internas e externas. As incertezas domésticas, relacionadas à
eleição no ano passado, e as externas, associadas à guerra no Iraque, a alta nos preços do petróleo
e a desaceleração econômica levaram a uma forte redução dos investimentos no país. Além disso, a
inflação alta tem provocado forte
queda do rendimento real. Ou seja, a inflação corroeu a renda. Como a economia não é mais indexada, e a taxa de desemprego está
alta, o poder de barganha dos sindicatos está fraco. Isso limita o espaço para reposição das perdas
salariais. Assim, podemos dizer
que o resultado do PIB no primeiro trimestre é efeito de uma combinação entre demanda interna
fraca e investimentos paralisados.
Folha - Então a política monetária não teve efeito sobre o PIB?
Langoni - É lógico que a política
monetária tem efeito restritivo.
Mas não é correto atribuir tudo
aos juros. No caso do PIB trimestral, na minha opinião, a inflação
alta e o adiamento de decisões sobre investimentos de médio e longo prazos -que não são afetadas
pelos juros no curto prazo- pesaram mais. Acho que os efeitos
da política monetária mais restritiva neste início de ano começarão a ser sentidos agora. Mas, por
outro lado, teremos o efeito positivo da recuperação do nível de
investimentos. Já há empresas
que estão retomando os planos de
investimentos. O que falta é uma
queda maior da inflação, que deverá ser notada no fim deste e no
próximo trimestre. Isso contribuirá para a recuperação do salário real e da demanda e abrirá espaço para a queda dos juros. Devemos ter uma recuperação da
economia no segundo semestre.
Isso não será suficiente para evitar
que tenhamos um crescimento
medíocre em 2003, não superior a
1,5% pelos meus cálculos.
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