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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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Para Langoni, inflação e incertezas são vilões

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A política monetária mais restritiva nos últimos meses não foi a principal vilã da economia no primeiro trimestre deste ano, na opinião de Carlos Geraldo Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e ex-presidente do Banco Central.
Para o economista, a combinação entre alta da inflação e queda nos investimentos -provocada pelas incertezas do fim do ano passado- foram as principais causas do crescimento lento entre janeiro e março deste ano.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - O que o senhor acha do desempenho do PIB?
Carlos Geraldo Langoni -
O resultado mostrou um ritmo lento de crescimento. Mesmo em relação ao primeiro trimestre de 2002, podemos dizer que a economia tem crescido muito lentamente. Pelo menos não tivemos recessão.

Folha - O que explica esse ritmo lento de crescimento?
Langoni -
Ao contrário do que muitos dizem, acho que a principal causa não é a taxa de juros mais alta. Até porque, em termos reais, a taxa de juros caiu em relação ao primeiro trimestre de 2002. Portanto essa é uma visão distorcida. A taxa de juros não foi a grande vilã desta vez. Para mim, a recente estagnação da economia foi causada principalmente pela alta da inflação e pela queda de investimentos por conta de incertezas internas e externas. As incertezas domésticas, relacionadas à eleição no ano passado, e as externas, associadas à guerra no Iraque, a alta nos preços do petróleo e a desaceleração econômica levaram a uma forte redução dos investimentos no país. Além disso, a inflação alta tem provocado forte queda do rendimento real. Ou seja, a inflação corroeu a renda. Como a economia não é mais indexada, e a taxa de desemprego está alta, o poder de barganha dos sindicatos está fraco. Isso limita o espaço para reposição das perdas salariais. Assim, podemos dizer que o resultado do PIB no primeiro trimestre é efeito de uma combinação entre demanda interna fraca e investimentos paralisados.

Folha - Então a política monetária não teve efeito sobre o PIB?
Langoni -
É lógico que a política monetária tem efeito restritivo. Mas não é correto atribuir tudo aos juros. No caso do PIB trimestral, na minha opinião, a inflação alta e o adiamento de decisões sobre investimentos de médio e longo prazos -que não são afetadas pelos juros no curto prazo- pesaram mais. Acho que os efeitos da política monetária mais restritiva neste início de ano começarão a ser sentidos agora. Mas, por outro lado, teremos o efeito positivo da recuperação do nível de investimentos. Já há empresas que estão retomando os planos de investimentos. O que falta é uma queda maior da inflação, que deverá ser notada no fim deste e no próximo trimestre. Isso contribuirá para a recuperação do salário real e da demanda e abrirá espaço para a queda dos juros. Devemos ter uma recuperação da economia no segundo semestre. Isso não será suficiente para evitar que tenhamos um crescimento medíocre em 2003, não superior a 1,5% pelos meus cálculos.


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