UOL


São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Venda externa sente esgotamento do incentivo do câmbio e a alta do real e cai 1,3% sobre o 4º trimestre de 2002

Exportações caem e já não "carregam" país

DA REPORTAGEM LOCAL
E DA SUCURSAL DO RIO

O setor externo perdeu fôlego no primeiro trimestre deste ano. Motor, com o setor agropecuário, do pouco crescimento registrado no ano passado, as vendas externas encolheram 1,3% nos três primeiros meses deste ano em relação ao último trimestre do ano passado.
A pequena retração está longe de ofuscar a alta de mais de 20% em relação ao primeiro trimestre de 2002, mas é indício de dois fatores: que a queda do dólar no primeiro trimestre afetou as vendas externas e que a capacidade de aumentar ainda mais as exportações apenas com o incentivo do câmbio começou a se esgotar.
O dólar chegou a ser cotado a R$ 3,63 no final de janeiro. No final de março, a moeda já havia caído para R$ 3,35, cotação 7,7% menor. A valorização do real começou a preocupar depois do primeiro trimestre, quando a moeda se aproximou de R$ 3 e o debate sobre o perigo de comprometer as exportações esquentou. Mas os dados do PIB mostram que, já no primeiro trimestre, o câmbio não era incentivo suficiente para que as vendas externas continuassem aquecendo a economia no mesmo ritmo que o fizeram em 2002.

Exportações ajudaram
No ano passado, a produção de bens cresceu 3,29% graças às exportações. Segundo estimativas da Secretaria de Política Econômica, o resultado do setor externo (exportações menos importações) contribuiu para este crescimento com 6,1 pontos percentuais, compensando uma queda de 2,81 pontos percentuais do mercado interno. Ou seja, sem consumidores locais dispostos a comprar seus produtos -a renda dos trabalhadores e os gastos de consumo caíram durante todo o ano-, as empresas tiveram que vendê-los no exterior.
Até agora, 2003 mostra resultados muito similares aos do ano passado. Nos três primeiros meses do ano, os resultados positivos dos setores externo e agropecuário compensaram a fraca procura interna e seguraram a economia que, apesar de patinar no primeiro trimestre, ainda cresce em relação ao mesmo período de 2002. Ou seja, a economia patinou, mas se não fossem as exportações o resultado seria pior.

Mais importações
O PIB não cresceu pouco por conta do resultado do setor externo. Mas mais exportações e menos importações ajudariam o indicador a ser mais positivo.
As exportações caíram ligeiramente e, segundo o IBGE, as importações subiram 4,5%. Para entender por que as exportações têm impacto positivo no PIB e as importações negativo, basta imaginar que, quando uma empresa do exterior compra um produto brasileiro, está gerando procura no mercado brasileiro -ou seja, aquece a economia local. Quando os brasileiros importam produtos, eles geram procura nos mercados de outros países.
A avaliação da Secretaria de Política Econômica, em boletim de maio, é que as importações subiram porque, durante os últimos meses do ano passado, as empresas adiaram ao máximo a compra de matérias-primas e máquinas importadas. O dólar oscilava muito e os empresários preferiram esperar a redução das incertezas geradas pela troca de governo.
Com a valorização do real a partir de janeiro, avalia o boletim, a indústria voltou a importar, investindo em máquinas e repondo estoques esgotados.
A pequena retração das exportações, apesar de surpreendente para quem vem acompanhando o desempenho positivo das exportações brasileiras, é explicada pelo IBGE como resultado de um comportamento atipicamente aquecido que as vendas externas tiveram na segunda metade de 2002 -novamente, por conta da taxa de câmbio que, desvalorizada, tornava os produtos brasileiros mais baratos no mercado internacional, incentivando as exportações.
O cálculo da evolução das exportações também sofre um efeito estatístico. Como a comparação de um trimestre com o anterior é feita descontando-se os efeitos típicos de cada período -ou o que os técnicos chamam de sazonalidade-, a combinação do desconto dos efeitos típicos do primeiro trimestre deste ano, como o afluxo de turistas e as exportações de soja, com a soma do crescimento atípico das vendas no período de outubro a dezembro de 2002 provocou a aparente incongruência -a queda das exportações no cálculo do PIB ao mesmo tempo em que a balança comercial apresenta dados positivos-, segundo explicou Roberto Olinto, chefe do Departamento de Contas Nacionais do IBGE.
Nos três últimos trimestres do ano passado, as exportações brasileiras atingiram US$ 16,8 bilhões. No primeiro trimestre deste ano elas chegaram a US$ 15 bilhões.
(MARCELO BILLI E CHICO SANTOS)


Texto Anterior: Para Langoni, inflação e incertezas são vilões
Próximo Texto: Agricultura pára se economia não crescer
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.