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OLHAR EXTERNO
Professor compara Lula a Clinton e diz que petista diminuiu agenda social para concentrar-se na redução do déficit
Lula reduz social por mercado, diz Stiglitz
Claudia Daut - 26.ago.02/Reuters
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Joseph Stiglitz, para quem o Brasil está fazendo bom trabalho |
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Para o economista Joseph Stiglitz, o governo Lula começou fazendo um bom trabalho, especialmente no que toca à necessidade
de reformar a Previdência.
Professor da Universidade Columbia, em Nova York, e Prêmio
Nobel de Economia, Stiglitz, 60,
diz que, em contrapartida, o preço disso pode estar sendo o abandono inicial da agenda social.
Leia trechos da entrevista concedida por telefone da Espanha na
semana passada.
Folha - No Brasil, algumas pessoas criticam o governo por não ser
tão reformista quanto esperavam.
Qual sua impressão, vendo de fora?
Joseph Stiglitz - Em geral, a impressão do exterior sobre o Brasil
tem sido muito positiva. Acho
que a maior parte das pessoas crê
que o governo tem feito um trabalho muito bom no começo. Mas a
questão que muitas pessoas levantam é: está havendo um custo,
a agenda social foi diminuída. Para satisfazer o mercado de capitais, ele está tomando ações conservadoras. Algumas dessas ações
são boas. Acho que há um consenso amplo de que algo deveria
ser feito com a Previdência.
Nos EUA, Clinton gastou oito
anos trabalhando muito duro para eliminar o déficit. Desistiu de
uma parte muito grande de seu
programa social. Ele tinha um documento chamado: "Colocando
as pessoas em primeiro lugar".
Era o coração de sua agenda e a
maior parte dela foi congelada
por causa da redução dos déficits.
Agora, muita gente que estava no
governo Clinton vê tudo isso como um erro, porque, menos de
um ano depois, todo o trabalho de
redução do déficit foi destruído
por Bush.
Folha - Mas o sr. acha que o Brasil
poderia deixar de controlar seu Orçamento neste momento? A dívida
pública é de 56% do PIB e, em média, vence em menos de três anos.
Não seria grande o risco de inflação
e reação negativa do mercado?
Stiglitz - Não há resposta simples. Aumentar seu déficit é um
problema para um país como o
Brasil, no qual o nível de dívida já
é alto. O problema nem é tanto inflação. Não está tão relacionado
ao tamanho do déficit, mas sim ao
nível de demanda agregada, e não
há agora um problema de demanda agregada.
Folha - Há uma discussão muito
grande no Brasil sobre juros. As taxas estão altas e o Banco Central
tem dito que a inflação ainda é
preocupação. Empresários dizem
que estão enfrentando dificuldades com as taxas. O sr. acha que o
BC pode estar discutindo juros sem
levar em conta o desemprego?
Stiglitz - Acho que qualquer um
que olhar para os juros no Brasil
vai ver que as taxas são extremamente altas. Dificultam muito os
negócios. Empresas americanas
não poderiam operar com essas
taxas. Minha visão é que se tem
que se preocupar muito com inflação, mas não deixar a inflação
ser a única força motriz. É preciso
ter preocupação com crescimento
e empregos também.
Há um risco neste momento de
que a luta contra a inflação possa
ter sido levada muito adiante e
que se esteja dando muito pouco
peso à preocupação com empregos e trabalho. Isso, certamente,
terá um impacto muito grande na
habilidade do governo de manter
o programa social. Altas taxas de
juros tornam mais difícil para o
governo segurar dinheiro que poderia ir para programas sociais.
Baixo crescimento significa que a
renda será menor e desemprego
alto significa que a magnitude do
trauma social será maior.
Folha - Mas, se as taxas de juros
caírem de uma vez e o país crescer
muito rapidamente, o superávit comercial deve sumir depressa. Como
há problemas nas contas externas,
não poderia haver crise?
Stiglitz - A alta taxa de juros
compõe o problema do déficit.
Taxas mais baixas vão promover
o crescimento e ajudar duas vezes
o déficit -o crescimento maior
trará maior arrecadação e os juros
mais baixos vão diminuir os gastos com o serviço da dívida.
Há alternativas que governos
em posições semelhantes à do
Brasil têm utilizado, ou ao menos
pensado em utilizar, para diminuir seus gastos com juros. Por
exemplo, um governo pode aumentar as exigências de retenção
de títulos governamentais com taxas de juros próximas a zero ou
abaixo das do mercado, com o lucro sendo passado ao governo.
Pode emitir títulos com taxas
mais baixas, com algum adoçantes para torná-los atrativos.
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