São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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LUÍS NASSIF

O inventário do Real

Nos anos 90, até a entrada de Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, o tema das reformas estava colocado na mesa. No início de 1994, o país começava a colher os frutos da abertura gradativa da economia e da agenda modernizante do início da década. Tudo foi paralisado e todas as energias foram concentradas na mera mudança monetária, com uma visão incorreta sobre o dia seguinte.
Para evitar a crítica da crítica -de que é fácil apontar os erros depois de cometidos-, remeto ao que escrevi na época.
Da coluna "O julgamento da história", de 2 de março de 1994: "(...) No momento em que uma URV passou a valer US$ 1, a âncora cambial já está lançada. As reformas são fundamentais para compensarem, via aumento de produtividade, o encarecimento de custos na economia pela valorização do dólar. Se isso não ocorrer, no mais tardar no primeiro semestre do próximo ano terá que ser efetuado um ajuste cambial que explodirá o plano e obrigará o próximo presidente a começar o ajuste do zero novamente. (...) O eleitor pode ser iludido por alguns meses. Mas a história será implacável".
Da coluna "A apreciação do câmbio", de 10 de maio de 1994: "(...) As reformas (para contrabalançar a apreciação cambial) não têm efeito imediato sobre as contas públicas e sobre as expectativas gerais da economia. Estão amarradas a calendários fiscais e a quesitos operacionais relevantes. O próximo presidente assumirá o país com o câmbio acumulando certo atraso e nenhuma das reformas encaminhadas. (...) Justamente por isso, desde o momento em que Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda, pedia-se a ele e a seus economistas que tivessem a grandeza de encaminhar as reformas econômicas e deixassem o golpe final da inflação para o próximo presidente (...)".
Da coluna "A gangorra do câmbio", de 9 de julho de 1994: "(...) A defasagem (cambial) decorre de um processo de arbitragem do mercado, tendo em vista essa posição (dos juros) do BC. (...) Não é uma situação que se possa suportar por muito tempo. Por isso mesmo, passada essa fase inicial, o Banco Central terá que encontrar outras maneiras de conter eventuais ingressos indesejáveis de dólares. Ou impondo prazos de permanência maiores para o dinheiro que ingressar no país ou aumentando a tributação".
Da coluna "Pois é, pra quê?", de 12 de novembro de 1994: "(...) O Brasil não vive crise cambial. Pelo contrário, há excesso de reservas cambiais, que pressionam tremendamente a dívida interna. (...) As taxas de juros internas deveriam no máximo ser do mesmo nível das taxas internacionais. Aí o fluxo de recursos e a valorização do real limitar-se-iam a acompanhar a melhora da economia como um todo (...)".
Da coluna "O governo vai quebrar o país", de 28 de abril de 1995: "(...) Solicito que, quando começar a quebradeira das empresas e voltar o desemprego em doses violentas, que os senhores Ciro Gomes, Winston Fritsch, Edmar Bacha e Gustavo Franco (acrescento, agora, Pérsio Arida e André Lara Rezende) ocupem uma rede nacional de televisão para apresentar suas explicações para as loucuras que cometeram na política cambial".

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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