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LUÍS NASSIF
O inventário do Real
Nos anos 90, até a entrada
de Fernando Henrique
Cardoso no Ministério da Fazenda, o tema das reformas estava
colocado na mesa. No início de
1994, o país começava a colher os
frutos da abertura gradativa da
economia e da agenda modernizante do início da década. Tudo
foi paralisado e todas as energias
foram concentradas na mera
mudança monetária, com uma
visão incorreta sobre o dia seguinte.
Para evitar a crítica da crítica
-de que é fácil apontar os erros
depois de cometidos-, remeto
ao que escrevi na época.
Da coluna "O julgamento da
história", de 2 de março de 1994:
"(...) No momento em que uma
URV passou a valer US$ 1, a âncora cambial já está lançada. As
reformas são fundamentais para
compensarem, via aumento de
produtividade, o encarecimento
de custos na economia pela valorização do dólar. Se isso não
ocorrer, no mais tardar no primeiro semestre do próximo ano
terá que ser efetuado um ajuste
cambial que explodirá o plano e
obrigará o próximo presidente a
começar o ajuste do zero novamente. (...) O eleitor pode ser iludido por alguns meses. Mas a
história será implacável".
Da coluna "A apreciação do
câmbio", de 10 de maio de 1994:
"(...) As reformas (para contrabalançar a apreciação cambial)
não têm efeito imediato sobre as
contas públicas e sobre as expectativas gerais da economia. Estão amarradas a calendários fiscais e a quesitos operacionais relevantes. O próximo presidente
assumirá o país com o câmbio
acumulando certo atraso e nenhuma das reformas encaminhadas. (...) Justamente por isso,
desde o momento em que Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda,
pedia-se a ele e a seus economistas que tivessem a grandeza de
encaminhar as reformas econômicas e deixassem o golpe final
da inflação para o próximo presidente (...)".
Da coluna "A gangorra do
câmbio", de 9 de julho de 1994:
"(...) A defasagem (cambial) decorre de um processo de arbitragem do mercado, tendo em vista
essa posição (dos juros) do BC.
(...) Não é uma situação que se
possa suportar por muito tempo.
Por isso mesmo, passada essa fase inicial, o Banco Central terá
que encontrar outras maneiras
de conter eventuais ingressos indesejáveis de dólares. Ou impondo prazos de permanência maiores para o dinheiro que ingressar
no país ou aumentando a tributação".
Da coluna "Pois é, pra quê?",
de 12 de novembro de 1994: "(...)
O Brasil não vive crise cambial.
Pelo contrário, há excesso de reservas cambiais, que pressionam
tremendamente a dívida interna. (...) As taxas de juros internas
deveriam no máximo ser do
mesmo nível das taxas internacionais. Aí o fluxo de recursos e a
valorização do real limitar-se-iam a acompanhar a melhora da
economia como um todo (...)".
Da coluna "O governo vai quebrar o país", de 28 de abril de
1995: "(...) Solicito que, quando
começar a quebradeira das empresas e voltar o desemprego em
doses violentas, que os senhores
Ciro Gomes, Winston Fritsch,
Edmar Bacha e Gustavo Franco
(acrescento, agora, Pérsio Arida
e André Lara Rezende) ocupem
uma rede nacional de televisão
para apresentar suas explicações
para as loucuras que cometeram
na política cambial".
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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