São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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Argentina admite rever medidas

MARCIO AITH
enviado especial a Nova York

Com um discurso conciliador, o presidente argentino, Carlos Menem, disse ontem em Nova Orleans (EUA) que a decisão de seu governo de adotar salvaguardas a produtos produzidos pelos demais membros do Mercosul não é irreversível. "Só a morte é irreversível. A política é a arte do possível", disse.
Menem anunciou que faria uma viagem ao Brasil algumas horas depois e negou que tivesse sido "desconvidado" pelo governo brasileiro para uma visita agora, em razão dos atritos comerciais entre os dois países. Segundo ele, a notícia do "desconvite" brasileiro, publicada nos jornais argentinos e brasileiros, seria "ridícula e fantasiosa".
O presidente argentino disse estar disposto a encontrar até amanhã uma solução para a crise entre os dois países e afirmou estar empenhado no avanço da integração comercial no Mercosul.
O recuo argentino começou a ser cogitado por Menem no aeroporto de Buenos Aires, anteontem à noite, pouco antes do embarque para os EUA.
Em conversa com seu secretário-geral, Alberto Cohen, e com o chanceler argentino, Guido di Tela, Menem considerou que as restrições comerciais impostas pela Argentina aos membros do Mercosul causaram reações mais fortes que as previstas inicialmente.
Menem teria ficado especialmente surpreso com a notícia do "desconvite" brasileiro.
Do avião, o secretário Cohen ligou para o secretário-geral do Palácio do Planalto, Aloysio Nunes Ferreira, pedindo um encontro entre os presidentes brasileiro e argentino. O pedido foi aceito.
A crise comercial entre os dois países foi causada por duas ações argentinas. Na primeira, há 15 dias, a Argentina anunciou salvaguardas (restrições comerciais temporárias) às exportações brasileiras de cinco tipos de tecidos de algodão. O país alegou que as regras do Mercosul sobre o setor são omissas e incompletas e invocou uma regra da Organização Mundial de Comércio sobre o comércio de têxteis e vestuário.
Uma semana depois, o ministro da Economia, Roque Fernández, anunciou uma segunda medida que, em tese, permite ao país ampliar essas salvaguardas a qualquer outro produto brasileiro.
Menem não deixou claro qual das duas medidas poderia ser retirada pelo governo. Assessores do ministro Fernández, no entanto, acreditam na possibilidade de a Argentina manter todas as medidas já aplicadas, mas excluir de seu alcance as exportações de países do Mercosul.


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