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Argentina admite rever medidas
MARCIO AITH
enviado especial a Nova York
Com um discurso conciliador, o
presidente argentino, Carlos Menem, disse ontem em Nova Orleans (EUA) que a decisão de seu
governo de adotar salvaguardas a
produtos produzidos pelos demais membros do Mercosul não é
irreversível. "Só a morte é irreversível. A política é a arte do possível", disse.
Menem anunciou que faria uma
viagem ao Brasil algumas horas
depois e negou que tivesse sido
"desconvidado" pelo governo
brasileiro para uma visita agora,
em razão dos atritos comerciais
entre os dois países. Segundo ele,
a notícia do "desconvite" brasileiro, publicada nos jornais argentinos e brasileiros, seria "ridícula e
fantasiosa".
O presidente argentino disse estar disposto a encontrar até amanhã uma solução para a crise entre os dois países e afirmou estar
empenhado no avanço da integração comercial no Mercosul.
O recuo argentino começou a
ser cogitado por Menem no aeroporto de Buenos Aires, anteontem à noite, pouco antes do embarque para os EUA.
Em conversa com seu secretário-geral, Alberto Cohen, e com o
chanceler argentino, Guido di Tela, Menem considerou que as restrições comerciais impostas pela
Argentina aos membros do Mercosul causaram reações mais fortes que as previstas inicialmente.
Menem teria ficado especialmente surpreso com a notícia do
"desconvite" brasileiro.
Do avião, o secretário Cohen ligou para o secretário-geral do Palácio do Planalto, Aloysio Nunes
Ferreira, pedindo um encontro
entre os presidentes brasileiro e
argentino. O pedido foi aceito.
A crise comercial entre os dois
países foi causada por duas ações
argentinas. Na primeira, há 15
dias, a Argentina anunciou salvaguardas (restrições comerciais
temporárias) às exportações brasileiras de cinco tipos de tecidos
de algodão. O país alegou que as
regras do Mercosul sobre o setor
são omissas e incompletas e invocou uma regra da Organização
Mundial de Comércio sobre o comércio de têxteis e vestuário.
Uma semana depois, o ministro
da Economia, Roque Fernández,
anunciou uma segunda medida
que, em tese, permite ao país ampliar essas salvaguardas a qualquer outro produto brasileiro.
Menem não deixou claro qual
das duas medidas poderia ser retirada pelo governo. Assessores
do ministro Fernández, no entanto, acreditam na possibilidade de
a Argentina manter todas as medidas já aplicadas, mas excluir de
seu alcance as exportações de países do Mercosul.
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