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LUÍS NASSIF
A telefonia e a interconexão
Um dos maiores desafios da
Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) será regulamentar e fiscalizar as chamadas interconexões -peças
centrais de um sistema de telecomunicações interligado. Interconexão é o uso da estrutura
de uma operadora por outra, essencial para manter o sistema
interligado.
Historicamente, sempre ocorreram problemas entre as operadoras que atuam na ponta do
cliente (basicamente a telefonia
fixa local) e os demais prestadores de serviços. Foi assim nos Estados Unidos, quando se separou a AT&T do sistema Bell. No
México houve uma guerra, assim como na Austrália. E mesmo no Brasil, no período em que
tanto o Sistema Telebrás quanto
a Embratel pertenciam ao Estado, eram frequentes conflitos
dessa ordem.
Em geral, nesses casos, a telefonia fixa tem a rede básica
-que administra, mas tem que
abrir para outros serviços-,
mas oferece também serviços de
valor agregado. Uma tendência
-observada nesses países- é a
de os operadores locais comandarem pequenas guerras de boicote, como entregar cadastros
desatualizados de usuários,
atrasar na conexão dos serviços
da concorrência etc., enquanto
oferecem seus próprios serviços
aos assinantes.
Nas próximas semanas, há
dois conflitos latentes que deverão explodir no colo da Anatel.
O primeiro, nas relações entre
telefonia fixa e celular.
Nessas relações, os usuários
pagam a conta e os diversos serviços de telefonia fixa e celular
definem regras de rateio quando as ligações forem de um serviço para outro.
Em alguns países, quem paga
é o dono do celular, independentemente do fato de ele fazer
ou receber a ligação. Foi assim
no Brasil, quando se implementou a banda A. Depois resolveu-se mudar para um sistema mais
eficaz, no qual paga quem faz a
ligação. Com o novo sistema, os
donos de celulares se desarmaram e passaram a manter os
aparelhos ligados permanentemente.
Quando um assinante de celular faz ligação para fora, paga.
Quando um assinante de fora
da rede liga para o celular, ele
paga por meio da operadora dele por essa ligação.
Agora, a Anatel está propondo
mudanças na regra. A operadora que origina o tráfego terá liberdade para determinar o seu
preço. E com esse preço ela pode
negociar livremente entre as outras operadoras envolvidas o rateio da tarifa.
Hoje em dia a taxa de interconexão das operadoras fixas é da
ordem de R$ 0,04. Nas celulares,
a taxa de interconexão gira entre R$ 0,17 e R$ 0,24. Pela regra
da Anatel, preços que hoje são
definidos no contrato de concessão passam a ser livremente negociados, limitados pelo que
uma operadora pretende cobrar
de seu cliente.
Na prática, vai significar redução de tarifas. O que as celulares temem é que a operadora
local resolva reduzir a tarifa à
custa do faturamento da operadora de celular. Ou seja, em vez
de R$ 0,24, a operadora fixa cobrar R$ 0,15 e ratear meio a
meio com a de celular.
É esse mesmo problema que as
operadoras de longa distância
estão encontrando para disputar com a telefonia fixa a banda
larga de comunicações.
Hoje em dia apenas a Telefônica opera com a tecnologia
DSL (de alta velocidade, usando
a rede de fios de cobre convencional). A idéia da Embratel seria oferecer a conexão em banda larga (mais de 2 Mbt/s), mas
não consegue acesso à interconexão. Para tanto, protocolou
pedido de mediação à Anatel,
que deverá ser apreciado em
breve.
A regulamentação do setor diz
que os mercados serão abertos
em 2002. A estratégia da Embratel é antecipar suas metas de
universalização e entrar mais
cedo nesse mercado. Do lado da
Telefônica, a alegação é a de
que a Embratel pretende antecipar o prazo para a telefonia local, mas sem abrir o seu monopólio, que é da interconexão internacional.
No momento trava-se uma
guerra surda entre a Embratel,
sua "empresa-espelho" e também os operadores de TV a cabo. A questão exigirá uma regulamentação minuciosa da Anatel.
E-mail - nassif@advivo.com.br
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