|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUPERMERCADOS
Os produtos que puxaram a alta da inflação terão abatimentos menores ou ficarão fora da lista de descontos
Grandes redes anunciam megapromoção
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As duas maiores redes varejistas
do país, Carrefour e Pão de Açúcar, que têm juntas 604 pontos no
Brasil, começam nesta semana
uma de suas mais importantes
promoções anuais de venda. Mas
os produtos que subiram de preços e puxaram a recente alta da inflação devem estar fora dessas
"operações-desconto". Ou terão
os menores abatimentos, segundo a Folha apurou com fornecedores das duas redes.
Itens da cesta básica como feijão, açúcar e leite, por exemplo,
não farão parte da promoção de
preços realizada pelo Carrefour,
que terá mais de mil itens.
Só o feijão subiu 16,8% nos últimos trinta dias e o açúcar, 9,42%,
de acordo com dados da Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas).
No caso do café, só haverá promoção para um tipo de marca no
Carrefour. Será possível levar 50
gramas grátis do Café do Ponto
(pacote de 500 gramas). No arroz,
apenas a marca Camil dará 500
gramas na compra do pacote de
cinco quilos. Mas este produto
não está pressionando a inflação
da classe de menor renda.
Isso porque o preço do arroz sofreu queda de 0,23% nos últimos
trinta dias, segundo a Fipe.
No Carrefour, entre os produtos
que estão com descontos de 10% a
40% estão o peixe salmão, microcomputador, terno e patinete. A
expectativa da empresa é que a
promoção, realizada para comemorar os 25 anos da empresa no
país, resultará num aumento de
até 20% nas vendas.
Longa negociação
Para definir preços e os itens
com desconto, foram meses de
negociações entre os supermercados e os fornecedores. As conversas aconteceram num período em
que as safras de café e feijão sofreram perdas.
Outros itens da cesta básica, como o leite, também estavam em
plena entressafra no momento
em que as redes discutiam a estratégia das promoções de venda.
Mesmo nesse cenário não muito favorável, a política das redes
sempre foi de negociar reajustes
até conseguir o abatimento necessário para serem competitivas no
mercado. Segundo Jean Duboc,
presidente do Carrefour, a idéia é
"liderar movimentos que evitem
pressões inflacionárias".
Não é uma tarefa fácil, como dizem os concorrentes de menor
porte. "Essas são negociações delicadas e está complicado conseguir abatimento nesses produtos", diz Martinho Paiva Moreira,
presidente do D'Avó Supermercados.
A estratégia das redes em proporções de venda é a mesma.
Apenas de 10% a 15% do itens
com desconto fazem parte do
grupo dos "produtos com destino", ou seja, produtos que o consumidor tem noção de preço (como os hortifrutigranjeiros). Eles
também já estão na prateleira
com margem pequena de lucro.
O restante são itens que o consumidor não acompanha o valor
da etiqueta, como brinquedos,
itens de cama, mesa e banho, entre outros, explica Eugênio Foganholo, da Mixxer Consultoria.
Por causa dessa diferença é que
nem sempre os produtos da cesta
básica são incluídos em megapromoções, ou, pelo menos, não têm
descontos consideráveis. "Se eu
jogo o preço da cerveja lá embaixo, ou de algum outro produto
com boa receptividade, atraio a
atenção do consumidor para outros itens da loja. Isso porque o
cliente imagina que todos os produtos terão semelhante desconto", explica Foganholo.
Massa salarial
Para Moreira, a busca das redes
por promoções relâmpagos reflete a dificuldade em conseguir trazer o consumidor para dentro das
lojas hoje. O crédito está facilitado
e o desemprego caiu um pouco,
mas a massa salarial não aumenta. Está estável neste ano, enquanto o faturamento das redes só cai.
A redução nas vendas foi de
1,92% de janeiro a julho, segundo
dados da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). A entidade é contra a bandeira levantada pelo governo a favor da importação de alimentos, com o objetivo de forçar uma redução nos
preços no varejo.
"Houve problemas de estiagem
e negociou-se os reajustes dos
produtos com os fornecedores.
Mas essa idéia do governo de importação passa a impressão que
somos os vilões da inflação, e não
somos", diz Osmar Assaf, presidente da Apas, entidade que representa os supermercados em
São Paulo.
Texto Anterior: Telecomunicações: Justiça Federal no RS autoriza a venda da CRT para a Brasil Telecom Próximo Texto: Carrefour negocia com 6.000 empresas Índice
|