São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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SUPERMERCADOS
Os produtos que puxaram a alta da inflação terão abatimentos menores ou ficarão fora da lista de descontos
Grandes redes anunciam megapromoção

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As duas maiores redes varejistas do país, Carrefour e Pão de Açúcar, que têm juntas 604 pontos no Brasil, começam nesta semana uma de suas mais importantes promoções anuais de venda. Mas os produtos que subiram de preços e puxaram a recente alta da inflação devem estar fora dessas "operações-desconto". Ou terão os menores abatimentos, segundo a Folha apurou com fornecedores das duas redes.
Itens da cesta básica como feijão, açúcar e leite, por exemplo, não farão parte da promoção de preços realizada pelo Carrefour, que terá mais de mil itens.
Só o feijão subiu 16,8% nos últimos trinta dias e o açúcar, 9,42%, de acordo com dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
No caso do café, só haverá promoção para um tipo de marca no Carrefour. Será possível levar 50 gramas grátis do Café do Ponto (pacote de 500 gramas). No arroz, apenas a marca Camil dará 500 gramas na compra do pacote de cinco quilos. Mas este produto não está pressionando a inflação da classe de menor renda.
Isso porque o preço do arroz sofreu queda de 0,23% nos últimos trinta dias, segundo a Fipe.
No Carrefour, entre os produtos que estão com descontos de 10% a 40% estão o peixe salmão, microcomputador, terno e patinete. A expectativa da empresa é que a promoção, realizada para comemorar os 25 anos da empresa no país, resultará num aumento de até 20% nas vendas.

Longa negociação
Para definir preços e os itens com desconto, foram meses de negociações entre os supermercados e os fornecedores. As conversas aconteceram num período em que as safras de café e feijão sofreram perdas.
Outros itens da cesta básica, como o leite, também estavam em plena entressafra no momento em que as redes discutiam a estratégia das promoções de venda.
Mesmo nesse cenário não muito favorável, a política das redes sempre foi de negociar reajustes até conseguir o abatimento necessário para serem competitivas no mercado. Segundo Jean Duboc, presidente do Carrefour, a idéia é "liderar movimentos que evitem pressões inflacionárias".
Não é uma tarefa fácil, como dizem os concorrentes de menor porte. "Essas são negociações delicadas e está complicado conseguir abatimento nesses produtos", diz Martinho Paiva Moreira, presidente do D'Avó Supermercados.
A estratégia das redes em proporções de venda é a mesma. Apenas de 10% a 15% do itens com desconto fazem parte do grupo dos "produtos com destino", ou seja, produtos que o consumidor tem noção de preço (como os hortifrutigranjeiros). Eles também já estão na prateleira com margem pequena de lucro.
O restante são itens que o consumidor não acompanha o valor da etiqueta, como brinquedos, itens de cama, mesa e banho, entre outros, explica Eugênio Foganholo, da Mixxer Consultoria.
Por causa dessa diferença é que nem sempre os produtos da cesta básica são incluídos em megapromoções, ou, pelo menos, não têm descontos consideráveis. "Se eu jogo o preço da cerveja lá embaixo, ou de algum outro produto com boa receptividade, atraio a atenção do consumidor para outros itens da loja. Isso porque o cliente imagina que todos os produtos terão semelhante desconto", explica Foganholo.

Massa salarial
Para Moreira, a busca das redes por promoções relâmpagos reflete a dificuldade em conseguir trazer o consumidor para dentro das lojas hoje. O crédito está facilitado e o desemprego caiu um pouco, mas a massa salarial não aumenta. Está estável neste ano, enquanto o faturamento das redes só cai.
A redução nas vendas foi de 1,92% de janeiro a julho, segundo dados da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). A entidade é contra a bandeira levantada pelo governo a favor da importação de alimentos, com o objetivo de forçar uma redução nos preços no varejo.
"Houve problemas de estiagem e negociou-se os reajustes dos produtos com os fornecedores. Mas essa idéia do governo de importação passa a impressão que somos os vilões da inflação, e não somos", diz Osmar Assaf, presidente da Apas, entidade que representa os supermercados em São Paulo.


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