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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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Instituição pública "substitui" a privada na oferta de crédito, diz BC

JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O chefe do Departamento de Supervisão Indireta do Banco Central, Vânio Aguiar, afirmou ontem em seminário no Rio que a participação dos bancos privados na oferta de crédito no Brasil está caindo, enquanto a dos bancos públicos tende a aumentar.
Em dezembro de 2001, os bancos privados eram responsáveis por 45% desses financiamentos. O percentual caiu para 44,3% em maio deste ano. Em contrapartida, a participação dos bancos públicos na oferta de crédito aumentou de 30% para 31,6%.
Os dados são preliminares e serão publicados pela autoridade monetária em novembro, no Relatório de Estabilidade Financeira, disse ele.
Aguiar atribui o aumento da participação das instituições do governo na oferta de crédito à expansão de postos de atendimento. Como exemplo, cita o projeto "Correspondente Bancário", do Banco do Brasil, que consiste na oferta de serviços em 2.000 pontos comerciais, como supermercados e lotéricas.
"Os bancos públicos tiveram crescimento de captação e foram obrigados a aplicar parte desses recursos em créditos direcionados, como o rural e o imobiliário", disse. "Já os bancos particulares, diante da falta de procura por crédito causada pelo desaquecimento econômico, acabam aplicando seus recursos em títulos públicos", afirma ele.
Para o economista Fernando Cardim, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a justificativa é um pouco diferente. Ele lembra que a taxa de juros alta faz com que as aplicações em títulos do governo sejam mais rentáveis e seguras para os bancos privados do que a oferta de crédito, que envolve risco de inadimplência dos tomadores.

Crítica
Cardim, um dos críticos mais ferrenhos da política econômica do governo, disse que o Brasil pode ter começado a tomar o rumo correto após o corte de 2,5 pontos percentuais na taxa de juros, para 22% ao ano.
Ele coordenou ontem uma mesa de debates sobre a eficiência, produtividade e estabilidade bancária, na sede do Banco Central no Rio. Cardim foi um dos signatários do manifesto de economistas por mudanças na política econômica, há três meses.
Apesar de ter baixado o tom das críticas, o especialista disse estar certo de que a política econômica governo Lula "acentuou o quadro de desaquecimento" no país. Ele voltou a defender a redução da meta de superávit primário (de 4,75% do PIB neste ano) e um corte mais agressivo dos juros, acompanhado do controle do fluxo de capitais de curto prazo.
"O governo ainda não desmontou a armadilha em que está preso. Por isso, destinou um orçamento menor para o setor social que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", comparou.
Para ele, o ideal é que a meta de superávit primário seja de 3%. Até julho deste ano, o governo havia atingido um superávit de 5,05% do PIB. "Se fossem liberados 2,5 pontos percentuais desse total, haveria dinheiro à beça para investir", calculou.


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