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Instituição pública "substitui" a
privada na oferta de crédito, diz BC
JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O chefe do Departamento de
Supervisão Indireta do Banco
Central, Vânio Aguiar, afirmou
ontem em seminário no Rio que a
participação dos bancos privados
na oferta de crédito no Brasil está
caindo, enquanto a dos bancos
públicos tende a aumentar.
Em dezembro de 2001, os bancos privados eram responsáveis
por 45% desses financiamentos.
O percentual caiu para 44,3% em
maio deste ano. Em contrapartida, a participação dos bancos públicos na oferta de crédito aumentou de 30% para 31,6%.
Os dados são preliminares e serão publicados pela autoridade
monetária em novembro, no Relatório de Estabilidade Financeira, disse ele.
Aguiar atribui o aumento da
participação das instituições do
governo na oferta de crédito à expansão de postos de atendimento.
Como exemplo, cita o projeto
"Correspondente Bancário", do
Banco do Brasil, que consiste na
oferta de serviços em 2.000 pontos comerciais, como supermercados e lotéricas.
"Os bancos públicos tiveram
crescimento de captação e foram
obrigados a aplicar parte desses
recursos em créditos direcionados, como o rural e o imobiliário",
disse. "Já os bancos particulares,
diante da falta de procura por crédito causada pelo desaquecimento econômico, acabam aplicando
seus recursos em títulos públicos", afirma ele.
Para o economista Fernando
Cardim, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a justificativa é um pouco diferente. Ele lembra que a taxa de juros alta faz
com que as aplicações em títulos
do governo sejam mais rentáveis
e seguras para os bancos privados
do que a oferta de crédito, que envolve risco de inadimplência dos
tomadores.
Crítica
Cardim, um dos críticos mais
ferrenhos da política econômica
do governo, disse que o Brasil pode ter começado a tomar o rumo
correto após o corte de 2,5 pontos
percentuais na taxa de juros, para
22% ao ano.
Ele coordenou ontem uma mesa de debates sobre a eficiência,
produtividade e estabilidade bancária, na sede do Banco Central
no Rio. Cardim foi um dos signatários do manifesto de economistas por mudanças na política econômica, há três meses.
Apesar de ter baixado o tom das
críticas, o especialista disse estar
certo de que a política econômica
governo Lula "acentuou o quadro
de desaquecimento" no país. Ele
voltou a defender a redução da
meta de superávit primário (de
4,75% do PIB neste ano) e um
corte mais agressivo dos juros,
acompanhado do controle do fluxo de capitais de curto prazo.
"O governo ainda não desmontou a armadilha em que está preso. Por isso, destinou um orçamento menor para o setor social
que o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso", comparou.
Para ele, o ideal é que a meta de
superávit primário seja de 3%.
Até julho deste ano, o governo havia atingido um superávit de
5,05% do PIB. "Se fossem liberados 2,5 pontos percentuais desse
total, haveria dinheiro à beça para
investir", calculou.
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