|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Brasil, porto seguro?
Economistas de bancos discutem se "emergentes" podem se tornar centros de estabilidade durante a crise
O BRASIL E outros emergentes
como portos seguros em caso de piora da crise? Algumas
autoridades econômicas e gestores
de grandes fundos privados brasileiros aventaram a idéia nos primeiros
dias de tumulto financeiro.
Agora, economistas do Morgan
Stanley e da Merrill Lynch discutem
extensamente a possibilidade, e
com "simpatia", mas ainda acham
que ainda é cedo para o "upgrade"
dos ditos emergentes. O ambiente
macroeconômico no Brasil e no
complexo China e cia. estaria firme,
mesmo com todas as incertezas sobre os efeitos da crise de crédito nos
EUA e na Europa. No curto prazo (e
desde que não ocorra uma grande
recessão). No médio e longo prazos,
há ainda mais problemas.
O garoto-propaganda da turma
dos novos "portos seguros" poderia
ser o Brasil, dizem os economistas
do Morgan Stanley. Há quatro anos,
a economia brasileira era um exemplo concentrado de todos os riscos
dos mercados emergentes, em especial do risco de calote. Hoje o Brasil
tem reservas que cobrem quase toda
a sua dívida externa, o perfil da dívida melhorou, a moeda e Bolsa brasileira resistiram bem aos choques
mais recentes e, por fim, a dívida do
país está à beira de ganhar a medalhinha de "grau de investimento".
Problemas? O progresso dos
"emergentes" é recente e se baseia
em anos de excepcional crescimento (e crescimento numa direção que
favoreceu em especial os "emergentes", como no caso da alta do preços
das "commodities", o que favoreceu
superávits nas contas correntes e a
enorme acumulação de reservas).
O que aconteceria com os novos
"portos seguros" se a economia
mundial passasse a crescer menos?
Mais: não se sabe se os "emergentes" são de fato imunes a recessões
nos países centrais -o teste ainda
não ocorreu. De resto, nem todas as
contas dos emergentes estão em ordem -a Índia tem déficit em conta
corrente, Turquia e Índia tem problemas fiscais (não citam o Brasil...).
Por último, a melhora econômica
teria tornado os "emergentes" autocomplacentes: não dedicam bastante atenção a educação, infra-estrutura e regras para investimento, o
que embaçaria as perspectivas de futuro para esses países.
O discurso
O oráculo Ben Bernanke voltará
a se manifestar amanhã, no seminário anual do Fed, em Jackson
Hole, Wyoming. Bancos, fundos,
investidores e os dirigentes de bancos centrais de outros países vão
dar tratos à bola hermenêutica a
fim de interpretar o discurso, palavra por palavra.
Em carta divulgada ontem, disse
outra vez, a mais um senador, que o
Fed "está preparado para agir a fim
de mitigar os efeitos adversos de
um baque nos mercados financeiros sobre a economia".
Wall Street e seus amigos no
Congresso americano estão numa
campanha raramente vista para
que o Fed baixe os juros básicos na
reunião do Fomc de 18 de setembro. Vários porta-vozes de bancos
("analistas") viram na divulgação
da carta de Bernanke um sinal de
que o presidente do Fed vai amaciar ainda no discurso de Jackson
Hole. O que não faz o desespero (e a
perspectiva de não receber nenhum bônus no final do ano)...
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Sem perdas: CUT e Força vão pedir correção maior do FGTS Próximo Texto: Em dia de recuperação, Bolsa de SP avança 2,11% Índice
|