São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Brasil, porto seguro?

Economistas de bancos discutem se "emergentes" podem se tornar centros de estabilidade durante a crise

O BRASIL E outros emergentes como portos seguros em caso de piora da crise? Algumas autoridades econômicas e gestores de grandes fundos privados brasileiros aventaram a idéia nos primeiros dias de tumulto financeiro.
Agora, economistas do Morgan Stanley e da Merrill Lynch discutem extensamente a possibilidade, e com "simpatia", mas ainda acham que ainda é cedo para o "upgrade" dos ditos emergentes. O ambiente macroeconômico no Brasil e no complexo China e cia. estaria firme, mesmo com todas as incertezas sobre os efeitos da crise de crédito nos EUA e na Europa. No curto prazo (e desde que não ocorra uma grande recessão). No médio e longo prazos, há ainda mais problemas.
O garoto-propaganda da turma dos novos "portos seguros" poderia ser o Brasil, dizem os economistas do Morgan Stanley. Há quatro anos, a economia brasileira era um exemplo concentrado de todos os riscos dos mercados emergentes, em especial do risco de calote. Hoje o Brasil tem reservas que cobrem quase toda a sua dívida externa, o perfil da dívida melhorou, a moeda e Bolsa brasileira resistiram bem aos choques mais recentes e, por fim, a dívida do país está à beira de ganhar a medalhinha de "grau de investimento".
Problemas? O progresso dos "emergentes" é recente e se baseia em anos de excepcional crescimento (e crescimento numa direção que favoreceu em especial os "emergentes", como no caso da alta do preços das "commodities", o que favoreceu superávits nas contas correntes e a enorme acumulação de reservas).
O que aconteceria com os novos "portos seguros" se a economia mundial passasse a crescer menos?
Mais: não se sabe se os "emergentes" são de fato imunes a recessões nos países centrais -o teste ainda não ocorreu. De resto, nem todas as contas dos emergentes estão em ordem -a Índia tem déficit em conta corrente, Turquia e Índia tem problemas fiscais (não citam o Brasil...).
Por último, a melhora econômica teria tornado os "emergentes" autocomplacentes: não dedicam bastante atenção a educação, infra-estrutura e regras para investimento, o que embaçaria as perspectivas de futuro para esses países.

O discurso
O oráculo Ben Bernanke voltará a se manifestar amanhã, no seminário anual do Fed, em Jackson Hole, Wyoming. Bancos, fundos, investidores e os dirigentes de bancos centrais de outros países vão dar tratos à bola hermenêutica a fim de interpretar o discurso, palavra por palavra.
Em carta divulgada ontem, disse outra vez, a mais um senador, que o Fed "está preparado para agir a fim de mitigar os efeitos adversos de um baque nos mercados financeiros sobre a economia".
Wall Street e seus amigos no Congresso americano estão numa campanha raramente vista para que o Fed baixe os juros básicos na reunião do Fomc de 18 de setembro. Vários porta-vozes de bancos ("analistas") viram na divulgação da carta de Bernanke um sinal de que o presidente do Fed vai amaciar ainda no discurso de Jackson Hole. O que não faz o desespero (e a perspectiva de não receber nenhum bônus no final do ano)...


vinit@uol.com.br

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