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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Governo afirma que retomada não será suficientemente forte para elevar os reajustes acima dos índices de preço

Salário perderá para a inflação, diz Fazenda

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A recuperação econômica não será suficiente para garantir aos trabalhadores reajustes salariais acima da inflação, segundo avaliação da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. A retomada do crescimento é esperada pelo governo a partir do próximo mês.
O Boletim de Conjuntura Econômica, divulgado ontem pela secretaria, afirma que os reajustes negociados entre trabalhadores e empresários no primeiro semestre do ano, em sua maioria, foram inferiores à variação dos índices de preço.
"Portanto, a recuperação gradual da atividade econômica prevista para o segundo semestre de 2003 não deverá ser suficientemente forte para elevar os reajustes salariais acima da inflação acumulada em 12 meses", afirma o boletim.
"Por causa da elevada inflação em 12 meses, vai levar algum tempo para haver recuperação dos salários, mas já temos indicações de que essa recuperação já começou e vai ocorrer em 2004", disse o secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa.

Risco
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando foi definido um corte de dois pontos percentuais na taxa de juros básica da economia, de 22% para 20%, afirma que seria um risco as empresas reajustarem os salários dos trabalhadores pela inflação.
O segundo semestre do ano é marcado pela data-base de várias categorias importantes, como petroleiros e bancários.

Camuflagem
Lisboa disse que a redução da inflação em curso e uma melhora do mercado de trabalho têm levado à elevação do rendimento do trabalhador. Para ele, as melhores condições do mercado de trabalho não têm sido notadas porque os altos índices de desemprego camuflam um dado importante: aumentou o número de pessoas procurando emprego.
Entre agosto deste ano e agosto do ano passado, a PEA (População Economicamente Ativa) cresceu 5,1%, ou seja, 1 milhão de pessoas. Desse total, 360 mil são trabalhadores que estavam fora do mercado de trabalho por falta de expectativa.

Inflação
No Boletim de Conjuntura Econômica, o governo prevê uma leve alta da inflação neste mês, como já indicam várias pesquisas prévias de índices de preços. No entanto o estudo do Ministério da Fazenda afirma que "o comportamento dos índices nos próximos 12 meses continuam convergindo, indicando a possibilidade de que a inflação em 2003 não supere um dígito".
A queda da inflação, além do comportamento da taxa de câmbio, permite a manutenção da expectativa de novos cortes na taxa de juros até o final do ano. O estudo mostra que a moeda brasileira está no nível mais desvalorizado dos últimos dez anos.
Lisboa disse, porém, que isso tem possibilitado o bom desempenho do Brasil em seu balanço de pagamentos. Ele não quis fazer nenhuma previsão sobre a taxa de câmbio no futuro. "Prever câmbio é um esporte muito arriscado", declarou o secretário.

Estoques
O documento diz que, apesar do espaço existente para recuperação industrial, os altos níveis dos estoques de bens finais podem postergar essa recuperação. Na avaliação de Lisboa, essa demora na recuperação já está calculada nas projeções de crescimento do governo, que se situam em torno de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.
Em outro estudo divulgado ontem, a Secretaria de Política Econômica aborda o desempenho fiscal do setor público. Nele, o governo comemora o aumento da poupança do setor público, que está em 3,5% do PIB, contra 3% em meados de 2002.


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