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RECEITA ORTODOXA
Governo afirma que retomada não será suficientemente forte para elevar os reajustes acima dos índices de preço
Salário perderá para a inflação, diz Fazenda
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A recuperação econômica não
será suficiente para garantir aos
trabalhadores reajustes salariais
acima da inflação, segundo avaliação da Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Fazenda. A retomada do crescimento é esperada pelo governo a partir do próximo mês.
O Boletim de Conjuntura Econômica, divulgado ontem pela secretaria, afirma que os reajustes
negociados entre trabalhadores e
empresários no primeiro semestre do ano, em sua maioria, foram
inferiores à variação dos índices
de preço.
"Portanto, a recuperação gradual da atividade econômica prevista para o segundo semestre de
2003 não deverá ser suficientemente forte para elevar os reajustes salariais acima da inflação acumulada em 12 meses", afirma o boletim.
"Por causa da elevada inflação
em 12 meses, vai levar algum tempo para haver recuperação dos salários, mas já temos indicações de
que essa recuperação já começou
e vai ocorrer em 2004", disse o secretário de Política Econômica,
Marcos Lisboa.
Risco
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando foi definido um corte
de dois pontos percentuais na taxa de juros básica da economia,
de 22% para 20%, afirma que seria um risco as empresas reajustarem os salários dos trabalhadores
pela inflação.
O segundo semestre do ano é
marcado pela data-base de várias
categorias importantes, como petroleiros e bancários.
Camuflagem
Lisboa disse que a redução da
inflação em curso e uma melhora
do mercado de trabalho têm levado à elevação do rendimento do
trabalhador. Para ele, as melhores
condições do mercado de trabalho não têm sido notadas porque
os altos índices de desemprego
camuflam um dado importante:
aumentou o número de pessoas
procurando emprego.
Entre agosto deste ano e agosto
do ano passado, a PEA (População Economicamente Ativa) cresceu 5,1%, ou seja, 1 milhão de pessoas. Desse total, 360 mil são trabalhadores que estavam fora do
mercado de trabalho por falta de
expectativa.
Inflação
No Boletim de Conjuntura Econômica, o governo prevê uma leve alta da inflação neste mês, como já indicam várias pesquisas
prévias de índices de preços. No
entanto o estudo do Ministério da
Fazenda afirma que "o comportamento dos índices nos próximos
12 meses continuam convergindo, indicando a possibilidade de
que a inflação em 2003 não supere
um dígito".
A queda da inflação, além do
comportamento da taxa de câmbio, permite a manutenção da expectativa de novos cortes na taxa
de juros até o final do ano. O estudo mostra que a moeda brasileira
está no nível mais desvalorizado
dos últimos dez anos.
Lisboa disse, porém, que isso
tem possibilitado o bom desempenho do Brasil em seu balanço
de pagamentos. Ele não quis fazer
nenhuma previsão sobre a taxa de
câmbio no futuro. "Prever câmbio é um esporte muito arriscado", declarou o secretário.
Estoques
O documento diz que, apesar do
espaço existente para recuperação industrial, os altos níveis dos
estoques de bens finais podem
postergar essa recuperação. Na
avaliação de Lisboa, essa demora
na recuperação já está calculada
nas projeções de crescimento do
governo, que se situam em torno
de 1% do PIB (Produto Interno
Bruto) para este ano.
Em outro estudo divulgado ontem, a Secretaria de Política Econômica aborda o desempenho
fiscal do setor público. Nele, o governo comemora o aumento da
poupança do setor público, que
está em 3,5% do PIB, contra 3%
em meados de 2002.
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