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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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Volks poderá dar férias coletivas

DA REPORTAGEM LOCAL

A Volkswagen pretende dar férias coletivas a 1.923 funcionários excedentes de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, de 13 de outubro a 12 de novembro. Em audiência ontem no Ministério Público do Trabalho, a empresa afirmou que não tem a intenção de demitir trabalhadores que exercerem o direito de greve.
Os funcionários que podem entrar em férias receberam no final de julho cartas de transferência para o projeto Autovisão, uma unidade de negócios que a montadora quer implementar no Brasil como parte de um plano de reestruturação. No total, a empresa anunciou a realocação de 3.933 funcionários -sendo 1.923 do ABC e 2.010 de Taubaté.
A transferência dos excedentes estava prevista para começar amanhã, mas pode ser adiada em razão das negociações marcadas para hoje entre representantes da montadora e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O comunicado sobre as férias coletivas foi encaminhado ontem pela empresa, enquanto o presidente do sindicato, José Lopez Feijóo, e o diretor de assuntos governamentais e jurídicos da Volkswagen, Ricardo Carvalho, participavam de uma audiência no Ministério Público do Trabalho de São Paulo.
A Volkswagen confirma que enviou o comunicado, mas "não sabe se utilizará esse recurso". Pela lei, a empresa precisa encaminhar o pedido de férias coletivas ao sindicato dos trabalhadores com 15 dias de antecedência.
A Folha apurou, entretanto, que essa alternativa seria acionada caso as negociações sobre o projeto Autovisão previstas para hoje não avançassem.
"O que nos interessa é que os trabalhadores que saírem de férias retornem para os seus postos de trabalho, e não para a Autovisão", disse Feijóo. O sindicalista informou que os trabalhadores já escolheram dez formas de protesto para serem utilizadas, caso a empresa inicie as transferências para o Autovisão. O sindicato é contra a mudança, porque entende que fere o acordo de estabilidade dos funcionários, válido até novembro de 2006.
Em assembléias na fábrica do ABC, Feijóo que "dia 1º [amanhã] é uma data muito importante" e que os "trabalhadores têm de estar preparados para forte luta".

Advertência
A audiência no Ministério Público do Trabalho foi convocada após o presidente mundial da companhia, Bernd Pischetsrieder, declarar na semana passada na Alemanha que a Volks demitiria os empregados que fizessem greve. Na ocasião, a montadora não se pronunciou. Ontem, durante a audiência, o diretor da companhia afirmou que "a Volks não vai demitir ninguém no regular exercício de greve".
"Não identificamos de que maneira foi dada a declaração [do presidente mundial da montadora], mas o direito de greve está mantido", disse Carvalho.
A procuradora do Trabalho Oksana Boldo informou que a empresa recebeu ontem uma notificação de advertência. "É uma recomendação contra a afirmação do presidente mundial da companhia, que atenta contra o direito de greve e pode ser caracterizada como uma ameaça de dispensa coletiva. Ambos são um atentado à legislação em vigor no país", disse a procuradora.
A medida foi tomada após a Abrat (Associação de Advogados Trabalhistas) solicitar a abertura de um inquérito para apurar as declarações da direção mundial da companhia.
(CLAUDIA ROLLI)


Colaborou o "Agora"

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