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CENÁRIO GLOBAL
Instituição eleva estimativa de expansão para o país neste ano para 4%, ante uma média mundial de 5%
Brasil cresce menos que o mundo, prevê FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) reviu para cima as projeções de crescimento para o Brasil neste ano e em 2005, para 4% e
3,5%, respectivamente. Ainda assim, o país terá no período uma
das menores taxas de expansão
em todo o mundo.
O desempenho do país ficará
abaixo da média mundial, dos
países da América Latina, do
Mercosul, da Ásia e da África. O
mesmo já ocorrera em 2003.
A previsão anterior do Fundo
para o crescimento do Brasil neste
ano era de 3,5%. Em relatório divulgado ontem, a instituição
manteve, para 2005, os mesmos
3,5% que haviam sido projetados
em abril.
O desempenho brasileiro será
um dos melhores dos últimos
anos, mas não refletirá com a
mesma intensidade de seus concorrentes emergentes o cenário
otimista da economia mundial.
Em seu maior ritmo em 30 anos,
o mundo como um todo deve
crescer 5% neste ano e 4,3% em
2005, segundo projeções do relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", do FMI.
Enquanto o Brasil deve crescer
4% em 2004 -depois de um desempenho negativo de 0,2% em
2003-, a China crescerá 9%. A
Índia, 6,4%, e a média dos países
africanos, 4,5%.
Raghuram Rajan, economista-chefe do FMI, qualificou como
"muito saudável" a previsão de
crescimento do Brasil. "Poderia
ser mais? Claro que isso seria melhor. Esperamos que as reformas
em curso criem a plataforma para
taxas maiores."
"Mas quero enfatizar que a
questão aqui é dar sustentabilidade ao crescimento. É possível
crescer 6,7% por alguns anos e depois cair para -10%. É melhor um
crescimento sustentável, que é o
que o Brasil vem tentando alcançar", disse Rajan.
Apesar do desempenho abaixo
da média mundial e da estimativa
de crescimento menor para 2005,
Rajan defendeu o recente aumento da taxa de juro básica no Brasil
(de 16% para 16,25% ao ano).
"Foi claramente um movimento de precaução, especialmente
por causa dos efeitos potenciais
dos preços do petróleo sobre a inflação. A inflação no Brasil tem se
mantido razoavelmente alta, e essa antecipação [o aumento dos juros] foi uma coisa boa."
Rajan disse que novos aumentos de juros devem ser esperados
nos países em desenvolvimento
por causa da pressão do petróleo,
que, segundo o FMI, tende a continuar em alta até o final de 2005.
"O que é melhor? Aumentar os
juros para segurar as pressões inflacionárias ou deixar que a inflação se instale a ponto de obrigar
que os juros subam ainda mais?
Acreditamos que uma ação preventiva seja o melhor. É uma escolha pelo mal menor", disse.
Vulnerabilidade e reformas
Segundo o Fundo, apesar das
medidas para diminuir o estoque
da dívida em dólar e para aumentar as reservas do BC, as "vulnerabilidades persistem" no Brasil.
O FMI cobrou uma nova rodada de reformas estruturais, que
deveriam ser "ampliadas e aprofundadas". O Fundo citou explicitamente a flexibilização do mercado de trabalho, reformas no Judiciário e nas agências reguladoras, medidas para melhorar o ambiente empresarial e para simplificar o sistema tributário.
O FMI afirma que países fortemente endividados como o Brasil
devem aproveitar a atual "janela
de oportunidade" aberta pela recuperação mundial para aprofundar o ajuste fiscal e aumentar a
sustentabilidade da dívida.
Sobre a América Latina como
um todo, Rajan afirmou que as
"reformas finalmente começam a
pagar dividendos".
"A demanda doméstica cresce
na região na esteira de uma confiança maior. Mas as reformas devem continuar para que o endividamento [dos países] não estrague a recuperação, como aconteceu no passado."
Segundo o FMI, a Argentina seguirá se recuperando, com um
crescimento de 7% em 2004. No
Uruguai, a expansão será de 10%.
Acordos preventivos
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse ontem que o
governo insistirá, no encontro
anual do FMI, na defesa da possibilidade de "acordos preventivos"
entre o Fundo e os países.
Seria um acordo em que o FMI
manteria recursos à disposição de
países que estivessem praticando
políticas econômicas consideradas virtuosas -e o dinheiro só seria sacado em caso de crise.
O FMI já trabalhou com esse tipo de acordo, mas as condições
exigidas foram consideradas muito rigorosas pelos países, que as
rejeitaram. O Brasil tentou negociar um acordo preventivo no ano
passado, mas acabou renovando
o seu programa com o Fundo nas
bases convencionais.
"O Brasil está fazendo isso [um
acordo preventivo] na prática",
disse Palocci, argumentando que
o país não tem sacado os recursos
do FMI a que tem direito.
Palocci disse que a intenção do
governo continua sendo não renovar com o Fundo. Mas ressalvou não ver por que antecipar
uma decisão que só será tomada
no primeiro trimestre de 2005.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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