São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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CENÁRIO GLOBAL

Instituição eleva estimativa de expansão para o país neste ano para 4%, ante uma média mundial de 5%

Brasil cresce menos que o mundo, prevê FMI

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) reviu para cima as projeções de crescimento para o Brasil neste ano e em 2005, para 4% e 3,5%, respectivamente. Ainda assim, o país terá no período uma das menores taxas de expansão em todo o mundo.
O desempenho do país ficará abaixo da média mundial, dos países da América Latina, do Mercosul, da Ásia e da África. O mesmo já ocorrera em 2003.
A previsão anterior do Fundo para o crescimento do Brasil neste ano era de 3,5%. Em relatório divulgado ontem, a instituição manteve, para 2005, os mesmos 3,5% que haviam sido projetados em abril.
O desempenho brasileiro será um dos melhores dos últimos anos, mas não refletirá com a mesma intensidade de seus concorrentes emergentes o cenário otimista da economia mundial.
Em seu maior ritmo em 30 anos, o mundo como um todo deve crescer 5% neste ano e 4,3% em 2005, segundo projeções do relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", do FMI.
Enquanto o Brasil deve crescer 4% em 2004 -depois de um desempenho negativo de 0,2% em 2003-, a China crescerá 9%. A Índia, 6,4%, e a média dos países africanos, 4,5%.
Raghuram Rajan, economista-chefe do FMI, qualificou como "muito saudável" a previsão de crescimento do Brasil. "Poderia ser mais? Claro que isso seria melhor. Esperamos que as reformas em curso criem a plataforma para taxas maiores."
"Mas quero enfatizar que a questão aqui é dar sustentabilidade ao crescimento. É possível crescer 6,7% por alguns anos e depois cair para -10%. É melhor um crescimento sustentável, que é o que o Brasil vem tentando alcançar", disse Rajan.
Apesar do desempenho abaixo da média mundial e da estimativa de crescimento menor para 2005, Rajan defendeu o recente aumento da taxa de juro básica no Brasil (de 16% para 16,25% ao ano).
"Foi claramente um movimento de precaução, especialmente por causa dos efeitos potenciais dos preços do petróleo sobre a inflação. A inflação no Brasil tem se mantido razoavelmente alta, e essa antecipação [o aumento dos juros] foi uma coisa boa."
Rajan disse que novos aumentos de juros devem ser esperados nos países em desenvolvimento por causa da pressão do petróleo, que, segundo o FMI, tende a continuar em alta até o final de 2005.
"O que é melhor? Aumentar os juros para segurar as pressões inflacionárias ou deixar que a inflação se instale a ponto de obrigar que os juros subam ainda mais? Acreditamos que uma ação preventiva seja o melhor. É uma escolha pelo mal menor", disse.

Vulnerabilidade e reformas
Segundo o Fundo, apesar das medidas para diminuir o estoque da dívida em dólar e para aumentar as reservas do BC, as "vulnerabilidades persistem" no Brasil.
O FMI cobrou uma nova rodada de reformas estruturais, que deveriam ser "ampliadas e aprofundadas". O Fundo citou explicitamente a flexibilização do mercado de trabalho, reformas no Judiciário e nas agências reguladoras, medidas para melhorar o ambiente empresarial e para simplificar o sistema tributário.
O FMI afirma que países fortemente endividados como o Brasil devem aproveitar a atual "janela de oportunidade" aberta pela recuperação mundial para aprofundar o ajuste fiscal e aumentar a sustentabilidade da dívida.
Sobre a América Latina como um todo, Rajan afirmou que as "reformas finalmente começam a pagar dividendos".
"A demanda doméstica cresce na região na esteira de uma confiança maior. Mas as reformas devem continuar para que o endividamento [dos países] não estrague a recuperação, como aconteceu no passado."
Segundo o FMI, a Argentina seguirá se recuperando, com um crescimento de 7% em 2004. No Uruguai, a expansão será de 10%.

Acordos preventivos
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse ontem que o governo insistirá, no encontro anual do FMI, na defesa da possibilidade de "acordos preventivos" entre o Fundo e os países.
Seria um acordo em que o FMI manteria recursos à disposição de países que estivessem praticando políticas econômicas consideradas virtuosas -e o dinheiro só seria sacado em caso de crise.
O FMI já trabalhou com esse tipo de acordo, mas as condições exigidas foram consideradas muito rigorosas pelos países, que as rejeitaram. O Brasil tentou negociar um acordo preventivo no ano passado, mas acabou renovando o seu programa com o Fundo nas bases convencionais.
"O Brasil está fazendo isso [um acordo preventivo] na prática", disse Palocci, argumentando que o país não tem sacado os recursos do FMI a que tem direito.
Palocci disse que a intenção do governo continua sendo não renovar com o Fundo. Mas ressalvou não ver por que antecipar uma decisão que só será tomada no primeiro trimestre de 2005.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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