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Redes são substitutas de mão invisível
GILSON SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"A Riqueza das Redes", título do livro de Yochai Benkler, é mais que um jogo de
palavras. É uma síntese perfeita da sua proposta econômica, que ainda reverbera a
filosofia política liberal consagrada pelo clássico de
Adam Smith, "A Riqueza das
Nações". Entre o velho mundo das nações e o novo mundo das redes sumiu de vez o
Estado.
A célebre "mão invisível"
assumiu agora a forma de
uma nova autonomia, a das
forças de oferta e demanda
que se contrapõem no universo das redes digitais. O
mercado não desaparece, assume dinâmicas cuja eficiência depende mais da qualidade das redes do que da ação
de governos e corporações.
O pensamento de Benkler
não é, portanto, um desafio
radical à ortodoxia econômica nem serve como ideologia
para quem pretenda criticar
o chamado "neoliberalismo".
Ao contrário, trata-se de um
modelo inspirado numa filosofia política ultraliberal,
praticamente anarquista.
Os mais ingênuos, no entanto, acreditam que a importância dos softwares
"não-proprietários" nessas
novas redes digitais é a prova
definitiva de que o capitalismo, sob o choque das novas
tecnologias, está perdendo o
seu elemento essencial, a
propriedade privada.
O livro ajuda a dissolver
essa ilusão anarquista. Há
uma enorme diferença entre
ser "livre" (muitos softwares
têm seus códigos abertos) e
ser gratuito. Benkler discute
(e sonha com) a expansão de
uma sociedade em que a autonomia dos indivíduos seja
levada o mais longe possível,
mas sem ameaçar o "status
quo" e muito menos abolir a
propriedade privada. Ele
aposta no aumento da liberdade na medida em que circulam mais informação, conhecimento, tecnologia e
cultura.
É uma hipótese bastante
razoável e que, a rigor, tem
sido o norte da civilização
ocidental desde a invenção
do tipógrafo, com a expansão
vertiginosa das mídias que se
seguiu.
Mas não é uma lei nem algo irreversível. A mesma expansão das redes de comunicação e das mídias criou um
mundo de enorme concentração econômica nos setores de comunicação e cultura. E nada serviu tanto à
opressão e à manipulação como a expansão das redes de
comunicação.
As redes digitais, com ou
sem software livre, têm provocado mudanças em todas
as áreas da vida econômica e
social, da empresa multinacional à ONG, passando pela
universidade, pelas administrações públicas e até mesmo
pelo consumidor, que se defronta com um número crescente de opções em produtos, serviços e tecnologias.
O fenômeno econômico
fundamental, subjacente ao
fenômeno tecnológico (a espetacular expansão das redes e mesmo do software de
código aberto), é a expansão
dos serviços e a necessidade
de inovação permanente para se manter no mercado.
O código aberto de um
software, sem um bom programador, é tão opaco quanto uma caixa preta. Benkler
insiste nesse ponto e vê a difusão do modelo de software
livre para outras áreas da
economia e da sociedade como uma benesse para os
prestadores de serviços, ou
seja, aqueles que podem nos
ensinar a ler e usar as novas
mídias com independência e
senso crítico.
Professor de economia da ECA-USP, diretor
da Cidade do Conhecimento (www.cidade.usp.br) e autor de "As Profissões do Futuro" (PubliFolha)
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