|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
O Brasil na rabeira
LUCIANO COUTINHO
Sob uma burocracia de Estado
competente e meritocrática,
relativamente imune a pressões
políticas, capaz de estabelecer um
planejamento racional para uma
trajetória superdinâmica de acumulação produtiva tanto por parte do setor estatal como por parte
do seu pujante setor privado emergente e contando com um sistema
bancário "socializado" que mobiliza e oferta crédito barato de longo prazo segundo as prioridades
estabelecidas, a China vem crescendo há duas décadas e meia a
uma taxa de 9,5% ao ano. Desde
1980 sua renda per capita aumentou 300%; universalizou-se a educação básica e o percentual de jovens freqüentando universidades
subiu de 2,2% para 21% (com concentração em engenharias e carreiras técnicas). As exportações
chinesas saltaram de 0,9% das exportações mundiais para 6,5% em
2004; de um participante marginal, tornou-se o terceiro protagonista do comércio mundial.
Mas a China não quer dormir
sobre esses louros: planeja quadruplicar a renda per capita nos próximos 25 anos, transformando-se
em uma sociedade urbana moderna em que as regiões hoje mais pobres do interior estarão integradas
às suas cadeias de fornecimento
global. A China pretende se mover
-de fato já se move- na direção
das cadeias dinâmicas de alta tecnologia, com marcas próprias e
grandes empresas investindo pesadamente em P&D e na capacitação de pessoal qualificado. Utiliza
pragmaticamente os modernos
instrumentos de política industrial (proteção tarifária "inteligente", incentivos à tecnologia, requisitos às transnacionais nas áreas
prioritárias, ZPEs, isenções tributárias, exigências crescentes de governança e excelência gerencial).
A política econômica será cautelosa e previdente no futuro para poder diluir progressivamente os empréstimos insolventes dos quatro
grandes bancos estatais (20 a 25%
do PIB) e para poder flexibilizar
cuidadosamente a formação das
taxas de juro e de câmbio, sem
aguçar riscos que possam ameaçar
o rápido crescimento. O grande
desafio será adaptar o monopólio
político e de poder do PC à rápida
emergência de uma nova classe
burguesa e de uma sociedade civil
com aspirações crescentes.
Ao lado da China a Índia, a partir da grave crise cambial de 1991,
logrou superar a fragilidade externa e desde então cresce à taxa de
6% ao ano. Suas reservas de divisas alcançam hoje confortáveis
US$ 146 bilhões. A Índia desenvolveu um importante setor de serviços (com um relevante segmento
em tecnologias da informação).
Há, ainda, grandes desafios pela
frente (que abordaremos em próximo artigo), mas aspira-se subir o
ritmo de crescimento do PIB para
8% ao ano na próxima década.
Diante desses exemplos é ridículo conformar-se com um crescimento "potencial" do PIB brasileiro de apenas 3,5%. Deveríamos
construir condições para crescer
anualmente a 6%. Isso é possível e
deveria ocupar a agenda pública
que, infelizmente, ainda chafurda
sem objetividade nessa lamentável crise do nosso sistema político.
Luciano Coutinho, 54, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Foi secretário-geral do Ministério
da Ciência e Tecnologia (1985-88).
Texto Anterior: Opinião econômica - Rubens Ricupero: O Mistério da simplicidade Próximo Texto: Fogo amigo: Dirceu teve ação decisiva na escolha de Dilma para posto Índice
|