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ENTREVISTA
Secretário de Política Econômica espera aprovar projetos ainda neste ano
Fazenda prepara nova fase
da agenda microeconômica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O otimismo que move a equipe
econômica levou o Ministério da
Fazenda a preparar um novo conjunto de medidas para compor a
chamada agenda microeconômica do governo. Em entrevista à
Folha, o secretário de Política
Econômica, Bernard Appy, disse
que tal agenda é "dinâmica" e novas propostas estão no "forno".
Entre as medidas estão projetos
que precisam passar pelo Congresso e outras mudanças que dispensam o aval dos parlamentares.
Com a aprovação da MP 255, que
incorporou a chamada "MP do
Bem" e desonerou vários setores,
o secretário crê que será possível
tocar adiante a agenda de reformas institucionais, cujo objetivo é
elevar a eficiência da economia.
A agenda foi lançada no final do
ano passado em um documento
preparado pela equipe do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Desde então, pouco se avançou. Para o secretário, muitos dos
projetos lá previstos podem ser
aprovados neste ano e no próximo, restando ainda espaço para
apresentar novas propostas ao
Legislativo, apesar da crise política e das dificuldades decorrentes
da disputa eleitoral de 2006.
Leia trechos da entrevista.
(JULIANNA SOFIA e SHEILA D'AMORIM)
Folha - A agenda microeconômica elaborada pela Fazenda -que
inclui abertura do mercado de resseguros, reforma do sistema de defesa da concorrência e cadastro positivo- não andou. O sr. acha que
pode ser aprovada no Congresso
até o final do governo?
Bernard Appy - Dois projetos tiveram um avanço relevante e estão praticamente prontos para serem votados: a abertura do mercado de resseguros [quebra do
monopólio do IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil)] e o de normas contábeis [cria um órgão técnico privado para sugerir adequações nas normas contábeis aos
padrões internacionais]. Até o final deste ano, há uma chance
grande de votá-los na Câmara.
Com relação ao cadastro positivo
[bancos de dados com histórico
de tomadores de crédito], que foi
enviado recentemente, há uma
perspectiva otimista de votá-lo
até o final do ano que vem. O projeto que altera o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência é
mais recente. Acho difícil aprová-lo até o final deste ano, mas, para
2006, a perspectiva é positiva.
Folha - O governo vai ter tempo
de colher os frutos dessa agenda?
Appy - A maior parte das mudanças tem impacto de longo prazo. O objetivo deste governo não é
colher resultados imediatos. Todos esses projetos têm um efeito
cumulativo positivo ao longo do
tempo. Isolados, podem parecer
ter alcance limitado, mas, no conjunto, acabam tendo efeito importante sobre a eficiência da economia, a criação de ambiente favorável para negócios e o ritmo de
crescimento potencial. Mas a
agenda microeconômica é dinâmica. É possível que novos projetos venham a surgir nos próximos
meses. O que a gente conseguir
votar até o final do ano que vem,
ótimo. O que não conseguir fica
para o próximo governo.
Folha - Que projetos são esses?
Appy - São vários, mas não posso falar. São em várias áreas, inclusive na de mercado de capitais.
A discussão ainda não foi fechada
dentro do governo. A agenda continua sendo discutida, há projetos
novos no forno. O grupo de trabalho de mercado de capitais continua trabalhando. Logo teremos
resultados na linha de dar mais
eficiência ao funcionamento do
mercado e das agências de supervisão e fiscalização.
Folha - A idéia é anunciar um conjunto de medidas? Quando? A
agenda não pode ser vista como se
o governo estivesse levando em
conta o ano eleitoral?
Appy - Não cuido do "timing" do
envio, mas algumas coisas podem
sair neste ano. A disputa eleitoral
já começou. Não adianta dizermos que não, porque ela está colocada desde o início da crise e está condicionando o trabalho do
Congresso. O que não significa
que não se possa avançar em projetos que são positivos. O próprio
Congresso aprovou a MP 255 [redução de impostos] recuperando
todos os dispositivos da MP 252
[chamada "MP do Bem"], que são
positivos para o país. Acredito
que propostas positivas para a
economia tendem a ter boa receptividade no Congresso, mesmo
em um ambiente mais tenso. Não
são coisas incompatíveis.
Folha - Mas e o que aconteceu
com a "MP do Bem"?
Appy - A "MP do Bem" teve um
problema de "timing". A votação
ficou muito em cima do prazo final. Foi algo localizado. Não acredito que outras medidas positivas
vão sofrer o que houve com a "MP
do Bem". Ao contrário, acho que
existe um espaço bastante razoável para andarem. Medidas mais
polêmicas talvez tenham mais dificuldade. Nessa agenda que estamos discutindo, os projetos não
são muito polêmicos.
Folha - O senhor não está muito
otimista?
Appy - Veja o caso da Lei de Falências. Havia interesses e pressões, mas o resultado final foi positivo. E é uma legislação extremamente complexa. O cadastro
positivo, por exemplo, é bem
mais simples e o tempo para um
debate adequado é menor. No caso do mercado de resseguros, o
projeto em si é simples. Não há
muitos interesses por trás. Quem
poderia estar interessado em o
projeto não avançar seria o IRB.
Agora, o presidente do IRB é Marcos Lisboa [ex-secretário de Política Econômica e um dos mentores do projeto]. Obviamente o
IRB não vai criar problemas.
Folha - Há um foco nessa nova fase da agenda em que vocês estão
trabalhando?
Appy - Não. Há uma abrangência grande. Não é só um setor ou
outro. Desde eficiência do mercado de capitais, reforço de garantias nas operações de crédito, o
próprio desenho institucional de
regulação dos setores e a parte de
inovação. Também estamos participando da discussão da micro e
pequena empresa.
Folha - A aprovação da "MP do
Bem" abre caminho para votar outras medidas econômicas?
Appy - Quando a pauta está obstruída, não há espaço para aprovar medidas que não sejam MPs.
Agora, desobstruiu a pauta. E há
na agenda projetos que são claramente positivos para a economia.
Talvez haja resistência contra alguns. O Congresso é um pouco cíclico. No auge da tensão, a racionalidade perde espaço no debate.
Mas isso é cíclico. Mesmo que
continue a tensão política, volta a
ter um espaço de debate racional.
Todo mundo sabe que, em ano
eleitoral, não é só a tensão, mas a
própria disponibilidade dos parlamentares se reduz. Isso gera dificuldade. Mas há espaço para
aprovar medidas positivas para a
economia.
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