|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMUNICAÇÃO
Hélio Costa, que sofria crítica de teles, agradou às empresas ao defender regulamentação da convergência de mídias
Ministro afirma que "apanha" do setor
DA ENVIADA ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
Na guerra entre telefônicas e
empresas de radiodifusão, o ministro das Comunicações, Hélio
Costa, tem sido alvo de críticas
nos bastidores como um aliado de
TVs e rádios. Na última segunda,
porém, surpreendeu positivamente o empresariado das teles.
Afirmou que o governo está empenhado em regulamentar a convergência de mídias em 2006 -o
que é do interesse das teles.
"Ainda bem. Minhas costas estavam doendo de tanto apanhar",
disse à Folha, ao comentar a mudança de humor dos executivos.
A seguir, leia trechos da entrevista.
(JANAÍNA LEITE)
Folha - O paulistano poderá assistir aos jogos da Copa de 2006 em TV
digital ou isso é apenas uma promessa para obter simpatia política?
Hélio Costa - Estamos trabalhando contra o tempo para que possamos, no ano que vem, fazer o
teste da TV digital. Já há canal disponível e condições técnicas. Não
adianta provar para nós mesmos
que estamos em condições de
transmitir digitalmente, temos de
fazer experiência pública. Foi decidido que haverá em São Paulo.
Folha - O teste ficará restrito a
São Paulo?
Costa - Teremos alguns pontos
em Brasília e no Rio, mas onde
haverá uma transmissão pública é
em São Paulo.
Folha - O que falta para colocar o
teste na rua?
Costa - Estamos apenas aguardando o relatório do grupo liderado pelo CPqD [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações]. Ele deverá ser apresentado em 10 de dezembro. O
CPqD terá espaço de algumas semanas para apresentar sua opinião. Em cima das decisões, o governo decidirá sobre o sistema de
modulação principalmente, que é
o que vai definir os outros instrumentos. A pirâmide da TV digital
é composta de aparelhos eletrônicos e ferramentas de informática.
O CPqD, durante dois anos, organizou estudos em busca de soluções no Brasil para alguns problemas que vimos nos modelos japonês, europeu e americano.
Folha - Quais são os problemas?
Costa - O principal é a dificuldade de recepção. Isso pode passar
pelo aumento da potência. Se não
houver um sistema robusto de
transmissão, não adianta, porque
não dá para pegar [o sinal].
Folha - E a rádio digital? Como está andando?
Costa - Assinaremos, possivelmente na próxima semana, um
convênio do Ministério das Comunicações, por meio da Funtel,
com o Instituto Inatel de Santa Rita do Sapucaí. Prevê, já para o ano
que vem, a conversão do rádio para a rádio digital. Na verdade, isso
é feito por um aparelho que funciona como um excitador de rádio digital. Ele custa hoje US$ 30
mil. Minha proposta é que uma
empresa brasileira desenvolva esse produto para nós. O preço vai
cair, quem sabe, até para R$ 10
mil. É isso que o país precisa: pesquisa para desenvolver produtos.
Folha - A condução desse processo relativo a rádio digital está gerando críticas sobre a falta de licitações. São justas?
Costa - Não estamos implantando sistemas, nem vendendo ou
comprando produtos. Estamos financiando uma pesquisa que trará resultado prático: dotará empresas brasileiras de capacidade
tecnológica para fazer um produto que, agora, só existe fora. Ou fazemos isso ou teremos comprar
para sempre dos americanos e
dos europeus. Isso vai ao encontro da política industrial.
Folha - Fala-se muito em inclusão
digital como prioridade do governo, mas há medidas efetivas que
garantam isso na prática?
Costa - Faremos uma licitação
no final do ano para chamar as
empresas que vão suprir a proposta do Ministério das Comunicações de se tornar o "ministério
da conectividade". Chegaremos a
um local -pode ser escola, posto
de saúde, hospital- e diremos:
"Onde vamos ligar a internet para
você?". Se tiver telefone digital, será por telefone. Se tiver TV a cabo,
usaremos o cabo. Nas cidades onde não há telefone, colocaremos
via satélite. Nós, do governo, garantiremos a conectividade.
Folha - E a inclusão digital das pequenas empresas?
Costa - Do ponto de vista empresarial, se a empresa não tem
R$ 34, custo da banda larga mais
comum no interior do Brasil, fica
a questão. De 40 mil habitantes
para cima, diria que pelo menos
nas regiões leste, sul e principais
cidades do Norte e do Nordeste
há o serviço. Lá o governo entra e
pode até resolver.
Folha - O governo estuda mudar a
Lei Geral de Telecomunicações?
Costa - Garanto que não haverá
modificação. Conversei isso com
o presidente da República e com o
ministro da Fazenda. Ambos
também pensam que mudanças
não são razoáveis.
Folha - Mas alguns pontos da Lei
Geral não podem ser mudados por
meio da Lei Geral de Comunicação
de Massas?
Costa - A Lei Geral de Comunicação de Massas é outra coisa. Será discutida a partir de janeiro
com o Congresso Nacional. A primeira vez que chegou ao Legislativo veio carregada de problemas,
notadamente os impostos. A idéia
do governo é criar uma ampla
frente de discussão, inclusive com
todos os parlamentares afeitos à
área de comunicação, para garantir uma tramitação rápida, respeitando o debate sobre o modelo, as
audiências públicas.
Folha - Uma de suas principais
bandeiras tem sido o telefone social, mas a proposta é bastante criticada pelas teles. O governo vai
mesmo levá-la adiante?
Costa - Está em fase final um
procedimento realizado pelo governo para equacionar a proposta
da Anatel e a do Ministério das
Comunicações. Segundo as operadoras, do jeito que o texto foi escrito pela Anatel, o telefone social
implicaria R$ 7 bilhões de prejuízos num prazo de cinco anos. Pedi que fosse feita uma análise porque, se houver desequilíbrio,
quem paga a conta é o governo.
Folha - O projeto continua de pé?
Costa - Sim, continua. E vai ser
um sucesso.
Folha - O governo já escolheu um
nome para ficar à frente da Anatel?
Costa - Não. Tenho um encontro
marcado com a ministra Dilma
[Rousseff, Casa Civil] para definir
isso. Mas tenho certeza de que
não precisaremos mostrar ao presidente uma lista tríplice. Vamos
chegar a um nome de consenso.
Texto Anterior: Comunicação: Governo e empresas divergem sobre TV Próximo Texto: Transição: Na era digital, gigantes da foto mudam ação no Brasil Índice
|