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ARTIGO
Bernanke precisa ampliar ação do Fed
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
Em substância , Ben S. Bernanke talvez não seja muito
diferente de Alan Greenspan, o
homem a quem ele sucederá na
presidência do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
Mas, em estilo, Bernanke pode estar a anos-luz de distância de
Greenspan.
Não apenas porque Bernanke
tem sido claro ao pedir maior
transparência do Fed, argumentando que os mercados terão melhor desempenho se souberem o
que o Fed está fazendo; é que ele
diz as coisas claramente, mesmo
quando discute questões altamente técnicas.
Considere sua afirmação de que
o Fed não devia combater as bolhas no mercado de ações aumentando as taxas de juros. Ele argumentou que essa medida provavelmente não ajudaria muito a reduzir a especulação, mas poderia
prejudicar toda a economia norte-americana.
"É a mesma coisa que fazer uma
cirurgia de cérebro com uma
marreta", disse ele.
Ou considere sua tentativa de
tranqüilizar os mercados nervosos em 2002, dizendo que a deflação no estilo japonês não era um
risco nos EUA.
"O governo americano tem
uma tecnologia chamada prensa
tipográfica", ele disse, "que permite produzir tantos dólares
quanto quiser, com praticamente
nenhum custo". Um governo determinado sempre pode gerar inflação, ele disse.
Na época, o discurso foi surpreendente. Todo mundo sabia
que os bancos centrais podiam
imprimir dinheiro, mas não era
algo de que se gabassem.
Greenspan
Tudo isso é muito distante de
Greenspan, que raramente formulou uma frase que pudesse ser
transcrita na íntegra sem confundir os pouco informados.
Talvez a exceção mais famosa
tenha apenas confirmado isso:
"Acho que devo avisá-los", disse
em um discurso em 1988, no início de seu mandato como presidente do Fed, "que, se eu parecer
especialmente claro, vocês provavelmente entenderam errado o
que eu disse".
Em depoimentos ao Congresso,
Greenspan foi hábil em desviar-se
de perguntas que considerava imbecis sem deixar clara a sua opinião. Será Bernanke mais transparente em suas opiniões, e será
que os congressistas ficarão indignados por isso?
O poder e o prestígio de Greenspan provavelmente atingiram o
pico no final da década de 1990. O
símbolo disso foi uma capa da revista "Time" em 1999, que proclamou: "O Comitê para Salvar o
Mundo", com ele como presidente e o secretário do Tesouro, Robert E. Rubin, e o vice-secretário
do Tesouro, Lawrence Summers,
abaixo dele.
Hoje, o poder financeiro dos
EUA, e portanto do Fed, está reduzido, uma tendência que Bernanke foi um dos primeiros a
analisar. Levando em conta quem
possui dólares hoje, se houvesse
necessidade de um comitê semelhante, ele não seria totalmente
americano e provavelmente teria
de incluir alguém da China.
Sucesso
Para Bernanke ser um presidente de sucesso no Fed, talvez precise ampliar sua visão do que o Fed
pode fazer. Ele é um especialista
em política monetária, mas há outras coisas envolvidas.
As palavras de Greenspan podiam abalar os mercados financeiros e os políticos, mesmo que o
Fed não agisse. Aqueles que
acham que o Fed deveria ter agido
antes de a bolha estourar notam
que, nos estágios finais da bolha
tecnológica, Greenspan não disse
uma palavra para abrandar o fervor especulativo.
Em vez disso, fez discursos que
aceitavam como razoáveis as previsões cor-de-rosa dos analistas
de ações de tecnologia. Palavras
diferentes vindas dele talvez tivessem ajudado.
Ele também resistiu a sugestões
de que o Fed usasse sua autoridade para restringir a quantia que os
investidores podem tomar emprestada para comprar ações, dizendo que inovações financeiras
haviam facilitado contornar essas
regras. Mas o poder simbólico talvez tivesse ajudado.
Ao afirmar no passado que o
Fed não deveria usar a política
monetária para lidar com bolhas
de ativos, Bernanke nem sequer
admitiu o possível poder de persuasão do Fed.
Será que ele vai evitar discutir,
como fez Greenspan no mês passado, o "aparente fervilhar nos
mercados imobiliários"?
Esperemos que não. Especialmente em uma época em que o
poder financeiro dos Estados
Unidos não é o que era, Bernanke
talvez precise ter uma visão mais
ampla das ferramentas que um
presidente do Fed tem à sua disposição.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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