São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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ARTIGO

Bernanke precisa ampliar ação do Fed

FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Em substância , Ben S. Bernanke talvez não seja muito diferente de Alan Greenspan, o homem a quem ele sucederá na presidência do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Mas, em estilo, Bernanke pode estar a anos-luz de distância de Greenspan.
Não apenas porque Bernanke tem sido claro ao pedir maior transparência do Fed, argumentando que os mercados terão melhor desempenho se souberem o que o Fed está fazendo; é que ele diz as coisas claramente, mesmo quando discute questões altamente técnicas.
Considere sua afirmação de que o Fed não devia combater as bolhas no mercado de ações aumentando as taxas de juros. Ele argumentou que essa medida provavelmente não ajudaria muito a reduzir a especulação, mas poderia prejudicar toda a economia norte-americana.
"É a mesma coisa que fazer uma cirurgia de cérebro com uma marreta", disse ele.
Ou considere sua tentativa de tranqüilizar os mercados nervosos em 2002, dizendo que a deflação no estilo japonês não era um risco nos EUA.
"O governo americano tem uma tecnologia chamada prensa tipográfica", ele disse, "que permite produzir tantos dólares quanto quiser, com praticamente nenhum custo". Um governo determinado sempre pode gerar inflação, ele disse.
Na época, o discurso foi surpreendente. Todo mundo sabia que os bancos centrais podiam imprimir dinheiro, mas não era algo de que se gabassem.

Greenspan
Tudo isso é muito distante de Greenspan, que raramente formulou uma frase que pudesse ser transcrita na íntegra sem confundir os pouco informados.
Talvez a exceção mais famosa tenha apenas confirmado isso: "Acho que devo avisá-los", disse em um discurso em 1988, no início de seu mandato como presidente do Fed, "que, se eu parecer especialmente claro, vocês provavelmente entenderam errado o que eu disse".
Em depoimentos ao Congresso, Greenspan foi hábil em desviar-se de perguntas que considerava imbecis sem deixar clara a sua opinião. Será Bernanke mais transparente em suas opiniões, e será que os congressistas ficarão indignados por isso?
O poder e o prestígio de Greenspan provavelmente atingiram o pico no final da década de 1990. O símbolo disso foi uma capa da revista "Time" em 1999, que proclamou: "O Comitê para Salvar o Mundo", com ele como presidente e o secretário do Tesouro, Robert E. Rubin, e o vice-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, abaixo dele.
Hoje, o poder financeiro dos EUA, e portanto do Fed, está reduzido, uma tendência que Bernanke foi um dos primeiros a analisar. Levando em conta quem possui dólares hoje, se houvesse necessidade de um comitê semelhante, ele não seria totalmente americano e provavelmente teria de incluir alguém da China.

Sucesso
Para Bernanke ser um presidente de sucesso no Fed, talvez precise ampliar sua visão do que o Fed pode fazer. Ele é um especialista em política monetária, mas há outras coisas envolvidas.
As palavras de Greenspan podiam abalar os mercados financeiros e os políticos, mesmo que o Fed não agisse. Aqueles que acham que o Fed deveria ter agido antes de a bolha estourar notam que, nos estágios finais da bolha tecnológica, Greenspan não disse uma palavra para abrandar o fervor especulativo.
Em vez disso, fez discursos que aceitavam como razoáveis as previsões cor-de-rosa dos analistas de ações de tecnologia. Palavras diferentes vindas dele talvez tivessem ajudado.
Ele também resistiu a sugestões de que o Fed usasse sua autoridade para restringir a quantia que os investidores podem tomar emprestada para comprar ações, dizendo que inovações financeiras haviam facilitado contornar essas regras. Mas o poder simbólico talvez tivesse ajudado.
Ao afirmar no passado que o Fed não deveria usar a política monetária para lidar com bolhas de ativos, Bernanke nem sequer admitiu o possível poder de persuasão do Fed.
Será que ele vai evitar discutir, como fez Greenspan no mês passado, o "aparente fervilhar nos mercados imobiliários"?
Esperemos que não. Especialmente em uma época em que o poder financeiro dos Estados Unidos não é o que era, Bernanke talvez precise ter uma visão mais ampla das ferramentas que um presidente do Fed tem à sua disposição.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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