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VINICIUS TORRES FREIRE
Uma reforma para os juros
Nada se fala sobre mudanças
no sistema financeiro, nem
disparates, agora reservados
apenas para o gasto público
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NESTES DIAS de tanta criatividade, quando se prepara a
política econômica de Lula 2
e tanto ainda se fala de reformas, nada se escuta sobre a reforma do sistema financeiro e sobre os meios de
administrar a dívida do governo.
A gente não ouve nem mais disparates sobre juros. Apenas disparates
fiscais. Sindicalistas e parlamentares querem estourar o Tesouro com
aumento de 20% do salário mínimo
e redução de imposto para classe
média e ricos. O governo quer tirar
do superávit primário o dinheiro do
investimento. Mas a tarefa essencial
é investir contendo gastos: com
INSS, salários, cartilhas do Gushiken ou financeiros (juros).
Quede reformas financeiras? Da
decrépita lei do sistema financeiro?
Da gestão da dívida pública, ainda
contaminada pela era da superinflação? Por que o juro ainda é alto?
Qual o nível do juro real? A taxa de
juro relevante para o cálculo econômico é aquela esperada para o futuro, diz o manual. O futuro, no ambiente das finanças do Brasil, fica no
final do ano que vem. A estimativa
razoável do juro real é a taxa esperada (negociada no mercado futuro)
para daqui um ano, descontada a inflação que, estima o mercado, vai se
acumular nos próximos 12 meses.
No dizer dos especialistas, trata-se
da taxa "ex ante", que está em torno
de 9% ao ano. Em janeiro, rondava
os 13%. Mas a taxa "ex post", a verificada a posteriori, a taxa real deste final de ano e do começo de 2007, ficará em torno de 10%.
Quer dizer, houve e tem havido
discrepância entre o que o mercado
"prevê" e a taxa verificada um ano
depois. Parêntese: "prevê" aqui significa "quer/negocia". Como as decisões do Banco Central sobre juros
são influenciadas por expectativas
de mercado, pode-se dizer que o BC
paga um tipo de "ágio", um prêmio
de risco, um extra de juros. Por quê?
Porque o Brasil tem histórico de
confusões, de variações de preços
devido a crises externas (que afetam
o dólar), de volatilidade: de variação
intensa e freqüente da inflação,
mesmo após o Real. Também se coloca nessa conta o risco de descontrole do gasto do governo e da dívida
pública, potencialmente explosiva
no Brasil (pois é de curto prazo e sujeita, na maior parte, a taxas de juros
variáveis: prefixada). Isto é, em caso
de rolo financeiro ou político grave,
a dívida dispara quase pari passu
com a taxa de juros.
Mas as incertezas diminuíram.
Expectativas de inflação e inflação
real estão convergindo mais. A discrepância das estimativas de mercado sobre a inflação também caiu
muito. A dívida, ainda alta, parou de
corcovear. A perspectiva de crise
cambial diminui muitíssimo. Por
que a dívida ainda é tão prefixada?
No começo deste ano, o governo
dizia que a parcela prefixada da dívida pública cairia. Bem, caiu de 2005
para 2006. Mas desde fevereiro a
coisa parou de andar. Pode-se dizer
que houve estresse financeiro em
abril. Com eleição, a incerteza cresce. Mas foram só esses os motivos?
Alongar a dívida e a "pós-fixar" depende decerto de torná-la mais previsível e cadente, o que depende de
controle de gastos. Mas o que este
governo faz para gerir melhor a dívida, tornar sua gestão mais barata? E
por que não se trata da nova regulamentação financeira, pendente faz
mais de década?
vinit@uol.com.br
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