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Famílias gastam 4% da renda com cultura
Quando adicionados os gastos com telefonia, despesas atingem 8%, segundo pesquisa do IBGE com dados de 2003 e 2004
Setor é quarto item no orçamento familiar, diz estudo feito a pedido do ministro Gil para "repensar formas de investir"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
As famílias brasileiras gastam, em média, 8% de seu orçamento doméstico com despesas culturais, incluindo nesse
cálculo os gastos com telefonia.
Os recursos gastos nesses serviços são inferiores somente
aos de habitação, alimentação e
transporte e são superiores até
aos de educação, segundo o IBGE, que divulgou ontem a pesquisa "Sistema de Informações
e Indicadores Culturais", com
dados de 2003 e 2004.
Esse percentual em relação
aos gastos domésticos, no entanto, varia muito de acordo
com o nível de renda. Nas famílias mais pobres (renda inferior
a R$ 400), ele é de apenas 4%.
Nas mais ricas (mais de R$
3.000), chega a 9%.
Por se tratar da primeira pesquisa do instituto que tenta dimensionar o peso da cultura na
economia, o IBGE optou por
trabalhar com um conceito amplo do que seriam atividades ligadas direta ou indiretamente
a área. Foi por essa razão que a
telefonia foi incluída como integrante do grupo de atividades
culturais. Se a telefonia não estivesse incluída, o percentual
de gastos mensais das famílias
cairia para 4,4%. Seria, ainda
assim, superior ao percentual
destinado à educação (3,5%).
"É fundamental saber que a
cultura corresponde ao quarto
item de consumo das famílias
brasileiras. Certamente, essa
movimentação econômica merece ser encarada como motivação para repensarmos nossas
formas de investir", disse o ministro da Cultura, Gilberto Gil,
presente ao evento de divulgação da pesquisa.
Os pesquisadores do IBGE
dizem que um dos fatores que
levaram o instituto a incluir a
telefonia como um ramo cultural foi permitir a comparação
com pesquisas internacionais,
que adotam o mesmo critério.
Ao tentar dimensionar o peso da cultura na economia -e
não somente no orçamento das
famílias-, no entanto, eles encontraram algumas limitações,
como a impossibilidade de separar dentro de um mesmo setor atividades usualmente considerados culturais com outras
nem tanto.
O exemplo mais claro dessa
dificuldade está na telefonia.
Dentro dele, há desde atividades técnicas como a manutenção operacional de redes de telecomunicação até a venda de
jogos, músicas ou acesso à internet.
Também foram consideradas culturais as atividades de
venda de eletrodomésticos como computadores, rádios, televisores e DVDs, que possibilitam o acesso a bens culturais.
É por isso que no cálculo das
despesas culturais das famílias
foram incluídos também o valor médio gasto na compra desses eletrodomésticos. Esse valor representa 15% do total de
gastos com cultura (incluindo
telefonia).
A análise dos gastos familiares permite também detectar
que as formas de acesso a bens
culturais variam muito de acordo com a classe de renda. Nas
famílias com renda média
mensal inferior a R$ 2.000, por
exemplo, gasta-se mais com o
aluguel de fitas de vídeo e DVD
do que com ingressos de cinema. Essa situação se inverte nas
famílias com renda superior a
R$ 3.000, cujo gasto médio é de
R$ 9,4 com cinema e de R$ 6,3
com aluguel de fitas ou DVD.
Em todas as classes sociais,
no entanto, as famílias informaram gastar mais indo a boates, danceterias e discotecas do
que com cinemas, teatros ou
shows. O gastos com festas,
principalmente as de aniversário e de casamento, também foram muito superiores aos com
outras atividades de lazer cultural.
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