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ANP encerra leilão após duas liminares
Ação de deputada petista já havia barrado rodada, e auto-suficiência do Brasil no abastecimento de gás deve atrasar
Só 20% dos blocos foram leiloados, mas pode haver contestação; agência e investidor estrangeiro vêem prejuízo à imagem do país
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Diante de duas liminares que
suspendiam a realização da oitava Rodada de Licitações de
áreas de exploração de óleo e
gás, a ANP (Agência Nacional
do Petróleo) decidiu encerrar o
leilão com a oferta de só 20%
dos blocos previstos para a licitação, atrasando o projeto da
auto-suficiência em gás do país.
Anteontem, em seu primeiro
dia, o leilão foi suspenso em razão de liminar concedida pela
Justiça Federal de Brasília, cuja
origem foi uma ação popular
impetrada pela deputada petista Dra. Clair (PR). Ontem, liminar da Justiça Federal do Rio,
para a qual a ANP havia obtido
efeito suspensivo por 48 horas,
voltou a ter validade. Foi a primeira vez que ações na Justiça
prejudicaram a realização de
rodadas da ANP.
Segundo o diretor-geral da
ANP, Haroldo Lima, o final antecipado da oferta adia a auto-suficiência na produção de gás
no país. O foco da oitava rodada
eram as áreas de gás e óleo leve.
Lima disse que o fato de a expectativa da cassação da liminar de Brasília não ter se confirmado e o de a liminar do Rio
ter voltado a vigorar fizeram a
agência "deliberar em conjunto
com o Ministério de Minas e
Energia" pelo término definitivo do leilão. "Agora, vamos começar a trabalhar para a preparar a nona rodada", disse.
Na avaliação de Lima, a parte
do leilão que chegou a ser executada está válida e não cabe
contestação na Justiça. "O leilão seguiu dentro da legalidade
até ser suspenso."
Ainda assim, o diretor-geral
reconheceu que a interrupção
da rodada afeta a imagem do
país no mercado internacional
de petróleo. "Inequivocamente, vão rebaixar o nosso conceito, o que pensam de nós."
Quando foi proferida a decisão da Justiça Federal de Brasília anteontem, haviam sido leiloados 38 blocos dos 58 ofertados, em apenas 3 dos 14 setores
envolvidos na licitação.
A arrecadação de bônus pagos pelas concessões dos blocos
ficou em R$ 588 milhões. Lima
comemorou o resultado: "Com
poucos blocos, já conseguimos
pouco mais da metade do que
arrecadamos na sétima rodada,
cujo valor havia sido recorde."
Em toda a sétima rodada, os bônus somaram R$ 1,089 bilhão.
A Petrobras foi a maior vencedora, com o arremate de 20
áreas.
Mudança de regras
Uma regra criada pela ANP
para a oitava rodada foi o estopim para as contestações na
Justiça. A norma que limitava
uma mesma empresa a levar,
no máximo, três blocos num
mesmo setor (pedaço de uma
bacia, subdividido em blocos)
foi alvo dos dois pedidos de liminar, além de desagradar às
empresas.
Por conta das contestações, o
diretor-geral da ANP disse que
a norma pode ser alterada. Para
ele, o conceito de ampliar a
competição nas rodadas por
meio do ingresso de mais empresas está consolidado. Porém
a forma pela qual essa "idéia
consolidada na agência" poderá
ser implementada será alvo de
discussão, disse.
O gerente-executivo de Exploração e Produção da Petrobras, Francisco Nepomuceno,
defendeu a revisão da regra,
pois ela limita a atuação das
empresas e afeta o futuro exploratório das companhias. No
caso da Petrobras, tem de repor
de 700 mil a 1 milhão de barris
de óleo ao ano em razão do declínio natural da produção.
Frustrado com o final precoce do leilão, o vice-presidente
da norueguesa Norsk Hydro no
Brasil, Luis Amorim, disse que
o fato foi "lamentável" e que a
limitação na aquisição de blocos prejudicou não só a Petrobras, mas todas as empresas.
Ele vê ainda um ônus à imagem
do Brasil e teme contestações
na Justiça sobre o resultado do
leilão. Sozinha ou em consórcio, a Norsk Hydro arrematou
três blocos na bacia de Santos.
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