São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Varejo estende prazos e "pulveriza" calote

Lojas postergam 1ª parcela, e atrasos, comuns a partir do 4º mês, devem ser mais sentidos em agosto

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As estratégias de venda do varejo neste Natal devem alterar o "calendário do calote" do comércio e expandir o período de inadimplência em 2007 para além do intervalo regular. Foi o aumento no calote em 2006 que, em parte, postergou maiores reduções nas taxas de juros ao mercado e "segurou" uma expansão mais vigorosa das vendas do varejo no ano.
Como as lojas tentaram atrair clientes para elevar as vendas de final de ano, um dos caminhos foi postergar o pagamento da primeira parcela das compras a prazo para março e abril, como o fizeram grandes redes de varejo de eletroeletrônicos e móveis neste ano. Historicamente, consumidores começam a ter dificuldades para quitar a "mensalidade" no crediário na terceira ou quarta parcela. É nesse momento que os atrasos começam. Como neste ano foram feitas vendas com o primeiro pagamento datado apenas para março ou abril, o calote pode se dar mais tarde, em julho ou agosto -meses em que, no passado, o comércio já trabalhava com baixos níveis de insolvência.
Entidades do comércio estão a par desse movimento. Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo, diz que poderá haver um "espaçamento" da inadimplência pelo ano, com picos em diferentes meses, mas, por outro lado, essa "pulverização" tem um fator positivo. Ela ajudaria a reduzir a pressão do calote naqueles períodos geralmente mais freqüentes, como março e abril.
Isso, obviamente, se o cliente que fez a compra -e deve começar a quitá-la a partir de março ou abril- já não estiver na lista de inadimplentes no começo do ano por causa do não-pagamento de outras contas -IPTU, IPVA, por exemplo.

Tendência
Em 2006, esse movimento de "pulverização" do calote pelo ano já foi perceptível. Para expandir a demanda no Natal de 2005, as lojas passaram a vender televisores, DVDs, entre outros eletrônicos, além de móveis, com o primeiro pagamento para após o Carnaval. A Casas Bahia, por exemplo, fez isso no Natal do ano passado -neste ano, aceita fazer a venda com a parcela inicial paga em março. A Marabras, loja popular de móveis, também estendeu os prazos de pagamentos nos dois últimos Natais.
Com isso, o período mais concentrado de atrasos nas contas já deu sinais de mudança em 2006. O volume de registros recebidos de contas em atraso teve o pico em fevereiro, seguido de maio e agosto, esses dois quase empatados. Agosto tem se destacado como um período de saltos na inadimplência há dois anos. Em 2006, foram quase 414 mil registros recebidos de nomes de pessoas com alguma dívida aberta, segundo a ACSP. Foi o terceiro pior resultado do ano. O mesmo aconteceu em 2004 e 2005.

Sem riscos
Os efeitos nocivos desse movimento no mercado podem ser administráveis, na avaliação de especialistas. "Não vemos riscos porque não estamos trabalhando com uma explosão do calote pelo ano", diz Alfieri, da ACSP. Houve uma subida, porém, neste ano. O número de registros excluídos de nomes com problemas na praça em dezembro de 2006 é 3,9% maior que o verificado em 2005. Para os registros incluídos, a previsão é a de uma alta maior, de 5,3%. Ao analisar o ano todo, há um ligeiro crescimento de 5,4% na inadimplência em 2006, contra 5% no mesmo período de 2005.


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