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ENERGIA
Obra, que cruzará Amazônia e áreas indígenas, é condenada por ambientalistas
Bush faz lobby por gasoduto no Peru
ANDREW GUMBEL
DO "INDEPENDENT", EM LOS ANGELES
O governo Bush está dando
apoio total a um controvertido
projeto de gasoduto na selva amazônica do Peru. A obra servirá para enriquecer doadores de suas
campanhas eleitorais, mas traz o
risco de destruir um dos trechos
mais intocados de floresta tropical no mundo e representa uma
ameaça às vidas de indígenas.
O projeto Camisea já perdeu
dois importantes investidores, o
Citigroup e a Overseas Private Investment Corporation, assustados com os problemas. Ontem o
conselho do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
decidiu adiar a decisão a respeito
de um empréstimo de US$ 135
milhões ao projeto, por causa da
falta de um acordo sobre cláusulas ambientais.
De acordo com um relatório interno do Export Import Bank dos
EUA, obtido pela organização
ecológica Amazon Watch, as propostas para mitigar o impacto
ambiental são "lamentavelmente
inadequadas" e criarão numerosas áreas de impacto irreversível,
incluindo deslizamentos de terra,
destruição de habitats naturais e a
difusão de doenças.
Ainda assim, o governo Bush
está planejando aprovar apoio financeiro ao projeto, usando para
o Export Import Bank e o BID. As
duas instituições, cujas decisões
finais sobre o projeto serão tomadas em duas semanas, devem oferecer cerca de US$ 300 milhões
em empréstimos e garantias, o
que asseguraria o financiamento
restante do projeto, cujo custo total atingiria US$ 1,6 bilhão.
O gasoduto conduzirá gás natural por um percurso de 700 quilômetros, dos campos de Camisea a
Lima. Outra ramificação levará
produtos para exportação via um
porto ao sul da capital. Trata-se
do maior projeto do presidente
Alejandro Toledo.
Entre os beneficiários da empreitada estariam duas empresas
de energia do Texas estreitamente
ligadas à Casa Branca, a Hunt Oil
e a Kellogg Brown & Root, subsidiária da Halliburton -grupo
petroleiro no passado dirigido pelo vice-presidente Dick Cheney,
que já recebeu contratos no valor
de US$ 500 milhões para a reconstrução da infra-estrutura petroleira do Iraque.
O presidente da Hunt Oil, Ray
Hunt, é um dos chamados "pioneiros" que levantaram mais de
US$ 100 mil cada um para a campanha presidencial de Bush em
2000. Ele e a sua mulher recentemente fizeram contribuições pessoais no valor máximo permissível para a campanha de Bush à
reeleição, US$ 2.000. A Kellogg
Brown & Root não estaria envolvida no projeto do gasoduto em
si, mas estaria bem posicionada
para construir uma refinaria de
US$ 1 bilhão no Peru, caso o projeto seja aprovado.
O presidente do Export Import
Bank, Philip Merrill, é muito próximo de Cheney. O principal representante norte-americano no
BID, Jose Fourquet, também é um
dos "pioneiros" da campanha de
Bush e ajudou a mobilizar apoio
hispânico ao presidente na campanha eleitoral de 2000.
O projeto de Camisea causou
incômodo em Washington e entre os grupos ambientalistas, especialmente porque as instituições de empréstimo e os governos
se orgulham de considerar muito
cuidadosamente as questões de
impacto ambiental antes de autorizar empreendimentos comerciais de larga escala.
A Agência de Desenvolvimento
Internacional dos EUA se pronunciou contra o projeto, e diversos líderes importantes do Congresso instaram o Tesouro a adiar
sua decisão final até que novos estudos sejam realizados.
Já foram feitos avanços consideráveis nas obras, para a extração
de um volume estimado em 369
bilhões de metros cúbicos de gás
natural nos campos de Camisea.
O relatório do Export Import
Bank reconhece que decisões importantes foram tomadas por
motivos econômicos, e não ambientais. Diz que já há imensa erosão em curso ao longo da rota do
gasoduto e que a notável biodiversidade da floresta está em risco
de "deterioração significativa".
O governo Bush pouco disse sobre seus planos. Mas tem interesse em explorar novas fontes de
energia, no país e no exterior, para reduzir sua dependência do
Oriente Médio.
Tradução de Paulo Migliacci
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