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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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ENERGIA

Obra, que cruzará Amazônia e áreas indígenas, é condenada por ambientalistas

Bush faz lobby por gasoduto no Peru

ANDREW GUMBEL
DO "INDEPENDENT", EM LOS ANGELES

O governo Bush está dando apoio total a um controvertido projeto de gasoduto na selva amazônica do Peru. A obra servirá para enriquecer doadores de suas campanhas eleitorais, mas traz o risco de destruir um dos trechos mais intocados de floresta tropical no mundo e representa uma ameaça às vidas de indígenas.
O projeto Camisea já perdeu dois importantes investidores, o Citigroup e a Overseas Private Investment Corporation, assustados com os problemas. Ontem o conselho do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) decidiu adiar a decisão a respeito de um empréstimo de US$ 135 milhões ao projeto, por causa da falta de um acordo sobre cláusulas ambientais.
De acordo com um relatório interno do Export Import Bank dos EUA, obtido pela organização ecológica Amazon Watch, as propostas para mitigar o impacto ambiental são "lamentavelmente inadequadas" e criarão numerosas áreas de impacto irreversível, incluindo deslizamentos de terra, destruição de habitats naturais e a difusão de doenças.
Ainda assim, o governo Bush está planejando aprovar apoio financeiro ao projeto, usando para o Export Import Bank e o BID. As duas instituições, cujas decisões finais sobre o projeto serão tomadas em duas semanas, devem oferecer cerca de US$ 300 milhões em empréstimos e garantias, o que asseguraria o financiamento restante do projeto, cujo custo total atingiria US$ 1,6 bilhão.
O gasoduto conduzirá gás natural por um percurso de 700 quilômetros, dos campos de Camisea a Lima. Outra ramificação levará produtos para exportação via um porto ao sul da capital. Trata-se do maior projeto do presidente Alejandro Toledo.
Entre os beneficiários da empreitada estariam duas empresas de energia do Texas estreitamente ligadas à Casa Branca, a Hunt Oil e a Kellogg Brown & Root, subsidiária da Halliburton -grupo petroleiro no passado dirigido pelo vice-presidente Dick Cheney, que já recebeu contratos no valor de US$ 500 milhões para a reconstrução da infra-estrutura petroleira do Iraque.
O presidente da Hunt Oil, Ray Hunt, é um dos chamados "pioneiros" que levantaram mais de US$ 100 mil cada um para a campanha presidencial de Bush em 2000. Ele e a sua mulher recentemente fizeram contribuições pessoais no valor máximo permissível para a campanha de Bush à reeleição, US$ 2.000. A Kellogg Brown & Root não estaria envolvida no projeto do gasoduto em si, mas estaria bem posicionada para construir uma refinaria de US$ 1 bilhão no Peru, caso o projeto seja aprovado.
O presidente do Export Import Bank, Philip Merrill, é muito próximo de Cheney. O principal representante norte-americano no BID, Jose Fourquet, também é um dos "pioneiros" da campanha de Bush e ajudou a mobilizar apoio hispânico ao presidente na campanha eleitoral de 2000.
O projeto de Camisea causou incômodo em Washington e entre os grupos ambientalistas, especialmente porque as instituições de empréstimo e os governos se orgulham de considerar muito cuidadosamente as questões de impacto ambiental antes de autorizar empreendimentos comerciais de larga escala.
A Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA se pronunciou contra o projeto, e diversos líderes importantes do Congresso instaram o Tesouro a adiar sua decisão final até que novos estudos sejam realizados.
Já foram feitos avanços consideráveis nas obras, para a extração de um volume estimado em 369 bilhões de metros cúbicos de gás natural nos campos de Camisea.
O relatório do Export Import Bank reconhece que decisões importantes foram tomadas por motivos econômicos, e não ambientais. Diz que já há imensa erosão em curso ao longo da rota do gasoduto e que a notável biodiversidade da floresta está em risco de "deterioração significativa".
O governo Bush pouco disse sobre seus planos. Mas tem interesse em explorar novas fontes de energia, no país e no exterior, para reduzir sua dependência do Oriente Médio.


Tradução de Paulo Migliacci


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