UOL


São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A defesa de Armínio

Na coluna "Terceirização do BC", fui injusto com o ex-presidente da instituição Armínio Fraga, ao incluí-lo na relação de dirigentes que se tornam lenientes com o mercado para preservar relações profissionais futuras com ele. Armínio nem foi leniente nem voltou para trabalhar no mercado. Pretende ser administrador de fundos de terceiros.
No governo, pegou um rabo de foguete, administrar as loucuras cometidas no período Gustavo Franco. Especialmente no ano passado foram cometidos erros. Mas havia um quadro de franco desespero, defende-se Armínio. De maio a outubro o crédito sumiu.
Não havia como enfrentar a avalanche que se seguiu, diz ele, a não ser postergar ao máximo, com aumento de juros e de compulsório, para permitir ao novo governo mostrar serviço. Sem câmbio flutuante e sem disciplina não se teria saído da crise, diz ele.
Compara o segundo mandato FHC (crescimento acumulado de 8% no PIB) com o que ocorreu na Argentina (-20%) e na Venezuela (-10%), países que enfrentaram crises cambiais, e com o Chile e o México (+10%), que passaram incólumes, para defender sua política.
Antes da crise da sucessão, o "spread" bancário caiu de 70% em 1998 para 35%, os juros reais, de 20% para 10%. Como acabou com o cupom cambial -existente no período Gustavo Franco-, reduziu substancialmente a entrada de capital especulativo.
Armínio tomou série de medidas que contrariaram interesses do sistema financeiro. Uma delas foi o envio de projeto complementar para que o processo de formação das taxas de juros e de cartelização saísse do BC e fosse para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Outra foi defender a tese de que os bancos estavam sujeitos às leis de defesa do consumidor.
Em sua gestão, o BC deu transparência ao "spread" e aperfeiçoou de forma expressiva a fiscalização bancária -por meio do trabalho exemplar de Tereza Grossi. Metade da diretoria era de mercado, metade de carreira.
Ele sustenta que o problema da diretoria do BC não é a entrada, mas a saída -onde os diretores vão trabalhar. Se for em instituição financeira, Armínio defende um prolongamento da quarentena.

Metas inflacionárias
Armínio defende o modelo de "metas inflacionárias" adotado pelo BC. Sustenta que a autoridade deve usar muito mais informações do que as estatísticas e o modelo em si e consultar permanentemente os setores produtivos, para sentir a pulsação da atividade econômica.
Admite que há o risco de dogmatizar o modelo. E acha que o BC deve ficar atento à possibilidade levantada pela coluna de que o modelo provoque um "efeito manada" no mercado, na hora de captar as expectativas do mercado.
Recusa-se a analisar a gestão atual do BC. Mas defende que a preocupação do BC não pode ser exclusivamente com a meta da inflação, mas também com o nível de atividade. Lembra que, em seminário recente nos EUA, foi elogiado pelo fato de, no ano passado, ter subido os juros menos do que a ortodoxia recomendava, para impedir uma queda brutal na atividade econômica. E, sem querer opinar sobre o nível ideal de câmbio, sustenta que é papel do BC impedir a volatilidade do câmbio.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Mudança: Previ troca índice de reajuste para os benefícios e agora passa a adotar INPC
Próximo Texto: Contas públicas: Ministérios gastam mais, e desempenho fiscal piora
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.