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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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TENSÃO

Supermercados estão insatisfeitos com os fornecedores, revela pesquisa

Crise acirra disputa varejo-indústria

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo e a indústria atravessam uma fase delicada. A conclusão faz parte de um levantamento finalizado em junho -e obtido pela Folha- com 676 lojas, incluindo os maiores supermercados do país. A atual crise econômica acirrou as diferenças.
As lojas acreditam que há uma superoferta de mercadorias em promoção. Essa overdose de descontos, apoiada pelos fabricantes para desovar estoque, já tem efeito questionável sobre o consumo.
Mais que isso: uma em cada cinco lojas ouvidas no estudo afirma que atrelar preços a volume contratado é uma estratégia que se banalizou. Nas negociações atuais, os fabricantes reduzem o preço de venda de mercadorias ao varejo caso a rede compre uma quantidade elevada de produtos.
O problema é que, se o consumo cai, o que existe é só uma transferência de estoques. O que estava estocado no galpão da fábrica vai parar no centro de distribuição da loja, e estoque parado é perda de dinheiro.
A insatisfação entre as partes é tamanha que há reclamações até da frequência com que sentam na mesa para negociar preços. O levantamento, elaborado pela consultoria Accenture e pelo Datafolha, mostra que 21% das redes acreditam que o contato entre as partes "é superior ao desejável".

Concorrência direta
As indústrias rebatem as acusações. Dizem que as próprias lojas defendem a necessidade de promoções. E não há "transferência de estoque": a venda ao varejo só ocorre quando há demanda.
Os embates entre os dois setores, relatados no estudo, foram parar nas gôndolas.
Exemplo: o Pão de Açúcar anunciou ontem que começará a vender neste mês sabão em pó com sua marca Extra e CompreBem. Afirma, de forma declarada, que pretende fazer concorrência à líder Unilever, dona do Omo.
O Carrefour também deverá, em três meses, lançar sabonetes e pastas de dente (mercado dominado pela Colgate-Palmolive) com a marca da rede.
O Pão de Açúcar segue o mesmo caminho. A empresa deverá, no último trimestre do ano, comercializar pastas de dente e sabonetes também. O que chama a atenção é que esses setores, de higiene e limpeza, são oligopolizados -com poucas marcas, que acabam determinando os preços.
"O que queremos é aumentar nosso poder de negociação com essas empresas líderes, aumentar nosso poder de barganha", diz Rodolpho Freitas, diretor de marcas próprias do Pão de Açúcar.
O novo sabão em pó da marca Extra -que pertence ao grupo- terá preço de 15% a 20% inferior ao dos líderes.
O pano de fundo dessa movimentação é a atual crise econômica que o país enfrenta, com renda da população em declínio e vendas em curva decrescente.
Numa situação como essa a opção da marca da rede de supermercados, com valores mais em conta, ganha peso. Tanto que os líderes perderam mercado. O Omo, que tinha 39,8% do mercado de sabão em pó de julho de 2001 a junho de 2002, perdeu pontos. Estava com 35% de julho de 2002 a junho de 2003.
A Folha entrou em contato com a Unilever, fabricante do sabão em pó, mas a empresa não quis se manifestar sobre os lançamentos das redes varejistas.


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