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TENSÃO
Supermercados estão insatisfeitos com os fornecedores, revela pesquisa
Crise acirra disputa varejo-indústria
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O varejo e a indústria atravessam uma fase delicada. A conclusão faz parte de um levantamento
finalizado em junho -e obtido
pela Folha- com 676 lojas, incluindo os maiores supermercados do país. A atual crise econômica acirrou as diferenças.
As lojas acreditam que há uma
superoferta de mercadorias em
promoção. Essa overdose de descontos, apoiada pelos fabricantes
para desovar estoque, já tem efeito questionável sobre o consumo.
Mais que isso: uma em cada cinco lojas ouvidas no estudo afirma
que atrelar preços a volume contratado é uma estratégia que se
banalizou. Nas negociações
atuais, os fabricantes reduzem o
preço de venda de mercadorias ao
varejo caso a rede compre uma
quantidade elevada de produtos.
O problema é que, se o consumo cai, o que existe é só uma
transferência de estoques. O que
estava estocado no galpão da fábrica vai parar no centro de distribuição da loja, e estoque parado é
perda de dinheiro.
A insatisfação entre as partes é
tamanha que há reclamações até
da frequência com que sentam na
mesa para negociar preços. O levantamento, elaborado pela consultoria Accenture e pelo Datafolha, mostra que 21% das redes
acreditam que o contato entre as
partes "é superior ao desejável".
Concorrência direta
As indústrias rebatem as acusações. Dizem que as próprias lojas
defendem a necessidade de promoções. E não há "transferência
de estoque": a venda ao varejo só
ocorre quando há demanda.
Os embates entre os dois setores, relatados no estudo, foram
parar nas gôndolas.
Exemplo: o Pão de Açúcar
anunciou ontem que começará a
vender neste mês sabão em pó
com sua marca Extra e CompreBem. Afirma, de forma declarada,
que pretende fazer concorrência à
líder Unilever, dona do Omo.
O Carrefour também deverá,
em três meses, lançar sabonetes e
pastas de dente (mercado dominado pela Colgate-Palmolive)
com a marca da rede.
O Pão de Açúcar segue o mesmo caminho. A empresa deverá,
no último trimestre do ano, comercializar pastas de dente e sabonetes também. O que chama a
atenção é que esses setores, de higiene e limpeza, são oligopolizados -com poucas marcas, que
acabam determinando os preços.
"O que queremos é aumentar
nosso poder de negociação com
essas empresas líderes, aumentar
nosso poder de barganha", diz
Rodolpho Freitas, diretor de marcas próprias do Pão de Açúcar.
O novo sabão em pó da marca
Extra -que pertence ao grupo-
terá preço de 15% a 20% inferior
ao dos líderes.
O pano de fundo dessa movimentação é a atual crise econômica que o país enfrenta, com renda
da população em declínio e vendas em curva decrescente.
Numa situação como essa a opção da marca da rede de supermercados, com valores mais em
conta, ganha peso. Tanto que os
líderes perderam mercado. O
Omo, que tinha 39,8% do mercado de sabão em pó de julho de
2001 a junho de 2002, perdeu pontos. Estava com 35% de julho de
2002 a junho de 2003.
A Folha entrou em contato com
a Unilever, fabricante do sabão
em pó, mas a empresa não quis se
manifestar sobre os lançamentos
das redes varejistas.
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