São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Pensar é preciso

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

Munido da informação de que português é a matéria que mais reprova os candidatos a uma vaga no serviço público, você resolve priorizar essa disciplina e começa a decorar todas as listas possíveis: femininos, aumentativos, diminutivos, coletivos, superlativos, plurais exóticos etc.
Não é esse o caminho, já que (pelo menos nos concursos federais) não se tem exigido a (inútil) decoreba de listas. Quer-se saber se o candidato compreende o que lê, o que exige vocabulário, raciocínio lógico, domínio dos mecanismos estruturais de um texto, conhecimento das normas de regência, concordância etc. Exige-se também o conhecimento básico da nomenclatura gramatical.
Já vai tarde (espero!) o tempo em que se pedia o feminino de "peixe-boi" (concurso para a seleção de oficial de Justiça, em São Paulo) ou o coletivo de cobras (prova de uma das corporações militares, também em São Paulo). Que se mede com esse tipo de pergunta? Nada de nada.
A ordem, pois, é aprender a aprender, aprender a estudar e, sobretudo, aprender a pensar.
Tomemos como exemplo o concurso de 2003 para a seleção de auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, organizado pela Esaf (Escola de Administração Fazendária). Depois de ler um trecho (adaptado) de uma revista semanal, o candidato tinha de analisar quatro "possibilidades de continuidade para o texto". As palavras iniciais dessas quatro possibilidades eram, respectivamente, "por isso", "com isso", "assim" e "no entanto".
Fica mais do que claro o que quer a banca: avaliar o conhecimento das noções de coesão e coerência textual e, por conseguinte, do emprego dos elementos lingüísticos que estabelecem adequadamente essas relações.
Quando se emprega "por isso", por exemplo, estabelece-se nexo de conclusão ou de causa e efeito; o que se afirma a seguir é deduzido ou é decorrência do que se afirmou antes. Quando se emprega "no entanto", estabelece-se nexo de oposição, de adversidade; o que se afirma a seguir contradiz o que se afirmou antes.
A resposta correta a uma questão como essa (que aparece em outros concursos, como o de 2002 para a seleção de técnico da Receita Federal, também da Esaf) depende da leitura atenta do texto e da correta relação entre o que nele se diz e o que se afirma em cada uma das possíveis continuidades. Para isso, pensar é mais do que preciso; é imperativo. É isso.


Texto Anterior: Guia dos concursos: Língua portuguesa é a que mais reprova nos testes escritos
Próximo Texto: Guia dos concursos: Após a aprovação, escolas de governo cobram resultados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.