São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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DILEMA

Dedicação integral a cursos vitamina currículo, mas psicólogos e médicos alertam sobre riscos

Anular o descanso é improdutivo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Férias. Malas prontas e passagem aérea nas mãos. Para muitos, esse não é o momento em que começa a vida boa, mas sim muito trabalho duro para se aperfeiçoar profissionalmente em cursos de tempo integral no exterior.
No final, há quem se pergunte se vale mesmo a pena usar o tão esperado período de descanso para atividades acadêmicas. Mesmo sendo obrigação inevitável para muitos profissionais, psicólogos e médicos do trabalho alertam para os riscos de se ocupar demais.
Segundo a doutora em psicologia Ana Maria Rossi, 53, presidente da Isma (International Stress Management Association), a consequência de anular férias é a diminuição da qualidade do serviço ao longo da carreira. É aconselhável aliar o estudo ao turismo.
"A solução mais sensata seria dividir o dia em três partes: uma para aulas, outra para passear e conhecer a cultura local e a última para descanso", orienta.
Na opinião de Josemery Mendes Vasconcelos, 40, vice-presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, o saldo é negativo numa viagem desse tipo.
"As perdas são maiores do que os ganhos. Há o estresse físico, a carga de responsabilidade. Mesmo que a pessoa se divirta também, vai pensar nas metas."

Impacto na família
A psicóloga Rosely Sayão, 52, diz que as férias são um momento para variar. "Num curso da mesma área, a pessoa segue pensando as mesmas coisas, não descansa."
Outro ponto negativo, diz, é o afastamento da família. Como as empresas também ganham com o empenho dos funcionários, Sayão defende que elas descontem apenas metade do tempo de férias.
De acordo com a psicóloga Márcia Caron, 36, a cobrança da família pode transformar-se em um peso na viagem e atrapalhar o rendimento no curso. "Os fi- lhos esperam um momento maior com os pais", afirma.
A maneira de tentar contornar isso, segundo Vera Rita Ferreira, 47, mestre em psicologia social e do trabalho pela USP, é manter contato intenso com a família durante a viagem. É importante também explicar para os filhos menores a razão da ausência. Ela desaconselha períodos maiores do que três anos sem férias.
Para Alfredo Spínola, 52, presidente da Belta (Brazilian Educational & Language Travel Association), quem tem nível mais avançado pode escolher opções de semi-intensivos e empregar parte do dia para passear, conversar e aproveitar a vivência no local. (ANDREA MIRAMONTES E FLÁVIA MARREIRO)


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