São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2000
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Não se sabe até que ponto o feto entende as palavras que ouve, mas a conversa auxilia a mãe a se relacionar melhor com o filho
Fale com seu bebê antes de ele nascer

Vânia Delpoio/Folha Imagem
No nono mês de gravidez, a barriga imensa protege um bebê que já tem memória auditiva e consegue diferenciar as vozes masculinas e famininas


LILIANA FRAZÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O bebe mexe, estica os braços, chuta para todos os lados... Mas será que, dentro da barriga quentinha da mãe, é capaz de ouvir alguma coisa? Pode 'dançar' ao ritmo de um rap ou perceber que seus pais estão discutindo? Uma coisa é certa: o fato escuta. Mas achar que ouvir Mozart na gravidez beneficia o bebê já é outra história. Barriga grávida é barulhenta. O feto fica exposto aos sons corporais da mãe, como o fluir do sangue nos vasos ou o movimento dos intestinos. Os ruídos externos mesclam-se com os internos, e não se sabe como o bebê filtra tudo isso. "Não temos como provar cientificamente que um determinado tipo de som é bom para o bebê", explica o médico Marcelo Zugaib, chefe do departamento de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP. Isso significa que não é possível afirmar que um bebê é mais calmo ou esperto só porque a mãe ouviu música clássica durante a gravidez. Os médicos acreditam que o estímulo sonoro durante a gestação faz bem principalmente aos pais. "Conversar com o feto ajuda a reforçar os vínculos entre pais e filho", explica Zugaib. Além de falar com o bebê, a gestante deve ouvir aquilo de que gosta. "Qualquer som agradável para a mãe é benéfico porque ela transmite a sensação de bem-estar para o feto", diz Luiz Celso Pereira, chefe do setor de neurologia infantil da Unifesp. Ambientes barulhentos são desaconselháveis porque podem perturbar não o bebê, mas a mãe. Mas o desenvolvimento auditivo ocorre mesmo sem estímulo. O feto passa a distinguir sons no final do sexto mês da gravidez e a diferenciar as vozes femininas das masculinas entre a 27ª e a 28ª semanas. Nessa fase, ele percebe mais facilmente os sons com frequências entre 500 MHz e 1.000 MHz, faixa que inclui a voz humana. Já entre o fim do oitavo mês e o início do nono, há indícios de memória auditiva. "Há pacientes que fazem terapia e conseguem relatar eventos sonoros ocorridos nesse período", afirma Pereira. Já que a memória existe, pode ser que alguém se lembre de ter sido "despertado" por uma buzinada antes de nascer. Esse som é o principal elemento de um teste de vitalidade fetal criado por Zugaib há 20 anos e utilizado até hoje. "Faço o teste sempre que a mãe fica angustiada porque o bebê não se mexe", explica o obstetra Eliezer Berenstein. A falta de movimentação pode ocorrer se a mãe estiver debilitada por uma gripe forte, por exemplo. Nesses casos, o médico aperta uma buzina perto da barriga da gestante. Se o bebê reagir e se mexer, é sinal de que está bem.


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