São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007
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"Eletricidade" do jambu encantou o chef Ferran Adrià

RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nativo do Pará, o jambu permanece quase desconhecido no restante do país, mesmo depois de o seu nome ter corrido o mundo na boca do chef mais prestigiado da atualidade, Ferran Adrià. Apresentado à erva pelos colegas brasileiros Paulo Martins e Alex Atala em um evento gastronômico realizado em 2005, o catalão ficou encantado com seu poder "eletrizante", capaz de fazer língua e lábios formigarem.
Segundo a pesquisadora Marli Poltronieri, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Amazônia Oriental, o cultivo do jambu ocorre essencialmente em seu Estado de origem -onde é ingrediente indispensável do pato no tucupi e do tacacá e incrementa também receitas triviais como arroz, feijão, saladas, pratos à base de peixe e de carne e até pizzas-, mas está se expandindo para Minas Gerais e São Paulo desde que caiu nas graças da indústria cosmética.
O "spilanthol", mesmo componente responsável pela sensação de formigamento na boca, vem sendo usado pela Natura na fabricação do creme Chronos, que promete combater rugas de expressão, promovendo firmeza e elasticidade à pele. "Isso é possível por meio de um processo de purificação, que resulta na concentração do ativo contido na planta em uma escala mil vezes mais potente em relação à sua forma natural, utilizada tradicionalmente como anestésico e cicatrizante", explica o site da marca.
No Japão e na América do Norte, a hortaliça é usada na fabricação de outros produtos, como pastas de dentes.
De acordo com Marli Poltronieri, a medicina popular atribui ao jambu o poder de combater aftas, dor de dente e garganta inflamada, além de auxiliar no funcionamento do intestino devido às fibras. "Posso dizer que, para aftas, dá resultado, porque eu já comprovei", afirma a pesquisadora.
Segundo dados do IBGE, cada 100 gramas de folhas de jambu possui 32 calorias, 20 mg de vitamina C, 162 mg de cálcio e 4 mg de ferro, valores superiores aos encontrados em uma quantia idêntica de alface.
Mesmo com tantos predicados, a hortaliça não aparece em estatísticas de produção e comercialização no Pará. "Chamo de "produto invisível", pois, oficialmente, não existe. Não há estatísticas para a grande maioria de plantas amazônicas e o jambu faz parte deste elenco", lamenta o engenheiro agrônomo Alfredo Homma, também da Embrapa.

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